domingo, 3 de janeiro de 2010

Manoel Rabicó e a Missa do Galo III

Quando os moradores se movimentavam para a Missa do Galo, dele não se tinha notícia. Onde andaria o Negrinho? Não consumia bebida. Esgueirava-se pelos cantos escuros das vielas como espectador privilegiado dos ruidosos homens e mulheres em trajes de gala para a celebração do nascimento de Jesus. Saberia ele deste acontecimento? Na escuridão da rua sem iluminação, depois da saída de todos, Rabicó entrava pela porta lateral da igreja e coberto com seu manto andrajoso ficava sem ser notado diante do presépio ali armado. Que quereria dizer aquele menino deitado num pequeno e humilde berço, cercado de cordeirinhos, burros, jumentos e de três homens trajando mantos iguais ao dele ajoelhados em oração, certamente inquiria na mudez de seu silêncio. A igreja estava vazia. Apenas ele e o presépio, clareado pela luz bruxuleante do candeeiro. Ajoelhou tal e qual os homens de mantos nos ombros e coroas sobre a cabeça. Ninguém sabe se fez alguma oração. Apenas o sacristão espreitava de longe a cena, percebendo grossas lágrimas correndo pelo rosto cansado e sofrido de Rabicó. O alienado havia entendido a mensagem do milagre. Na cidade, homens e mulheres riam e dançavam.

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