quarta-feira, 21 de maio de 2008

Dissolução moral e a agonia da política II

Aos de minha geração e ainda hoje com presença política, causa estupor e assombro o volume de casos de corrupção a preencher páginas de jornais ou inundar de notícias os meios de comunicação, envolvendo desde pequenas personagens do distante ente municipal até figurões da República. Fidelidade aos valores e princípios parece coisa de passado remoto, revogada pela cupidez do lucro ou o apetite fisiológico por maiores nacos de poder, formando um círculo vicioso e perverso que conduz o povo a este estado de paralisia e imobilidade, tornando-o incapaz de reagir ou protestar. E não se diga que esta capacidade de indignação está morta, pois ela se manifestou em escala nacional na unânime compunção pelo assassinato da menina Isabela. O torpor moral que domina e impede a população de reagir é resultado da inoculação no organismo social do veneno lento da mentira, “instalada nos nossos povos quase constitucionalmente a provocar dano moral incalculável a atingir zonas muito profundas de nosso ser”, como premunia Octávio Paz em seu clássico O Labirinto da Solidão. Se a crise moral vai aluindo lentamente as resistências cívicas do povo, suas manifestações já se fazem sentir na visível agonia da atividade política no Brasil como uma elevada ação inteligente e patriótica voltada para os verdadeiros interesses nacionais.

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