"Eu tenho um coração maior que o mundo;
Tú, formosa Marília, bem o sabes:
Um coração, e basta,
Onde tu mesma cabes."
Tomás Antônio Gonzaga a Marília de Dirceu
domingo, 21 de junho de 2009
Para você jamais esquecer
"É possível iludir muitos homens por pouco tempo. . .
É possível iludir poucos homens por muito tempo. . .
É impossível iludir todos os homens por todo o tempo"
É possível iludir poucos homens por muito tempo. . .
É impossível iludir todos os homens por todo o tempo"
Chico das Goiabas, sua saúde e o FMI I
Fui visitar um amigo na Santa Casa. Antes de entrar, causou-me espécie a grande quantidade de pessoas ali aglomeradas, em sua maioria com aparência simples e sinais de expectativa de atendimento naquele hospital. Fui surpreendido por um cidadão, modestamente vestido, chamando-me pelo nome: Dr. Murilo, sou de Padre Paraíso e me lembro do senhor na casa de Bahiano. Fiz pequeno esforço de memória e logo reconheci o Chico das Goiabas, assim alcunhado pela magnífica qualidade das frutas que vendia na feira daquela cidade, trazidas de seu pequeno e bem cuidado sítio nas imediações da estrada Rio-Bahia. Percebi pelo trajes que usava estigmas de angústia e sofrimento e que a pobreza havia batido à sua porta. Indagado o que ali fazia, informou-me estar à espera de uma vaga para fazer cirurgia de próstata, depois de peregrinar sem sucesso pelos hospitais conveniados com o famoso SUS por mais de uma semana. Indaguei dele porque havia chegado àquela situação.
Chico das Goiabas, sua saúde e o FMI III
Disse que seu sítio fora invadido por desempregados do MST que estavam acampados na margem da rodovia e, depois de rapinarem o que havia de valor na casa onde morava, puseram fogo em sua bem cuidada plantação de goiabas e outras frutas que respondiam pelo seu sustento e de sua família. De nada serviram os apelos do Frei Natalino, sempre atento para o problema dos humildes, para que cessassem com a depredação sem objetivos. Depois desse incidente, fui jogado na vala comum dos desempregados e quase pedintes, situação a que não cheguei porque ainda tenho disposição para trabalhar e “pegar alguns bicos”. Mas estou nesta situação que o senhor está vendo, condenado a morrer se não conseguir a internação urgente para eliminar este traiçoeiro câncer que está me devastando. Estas palavras, ditas toscamente, indicavam o grau de padecimento de um lavrador que retirava da terra recursos para seu sustento, dela expulso pela brutalidade das invasões que ocorrem nas margens e imediações da rodovia e jogado nos desvãos da quase miséria.
Chico das Goiabas, sua saúde e o FMI III
Pediu-me ajuda para resolver o problema. Prometi-lhe colaboração e a certeza de conversar com o abnegado Manoel Hygino, secretário geral da Santa Casa, mesmo conhecedor das enormes dificuldades que se sobrepõem a qualquer tentativa de vencer a maré montante de doentes que chegam a Belo Horizonte, retrato sem retoques do abandono a que o governo federal relegou a saúde pública. Ao me despedir do Chico das Goiabas e ouvir dele as notícias de velhos amigos de Padre Paraíso, passou por nós uma enfermeira que comentava, em voz alta e com certo tom de revolta diante do quadro com que convivia diariamente, a informação de que o presidente Lula havia emprestado 10 bilhões de reais ao FMI. Sem saber bem o que significava o FMI, Chico das Goiabas simplesmente perguntou-me: não seria melhor aplicar este dinheirão para diminuir este sofrimento? Não pude responder a algo irrespondível.
Chico das Goiabas, sua saúde e o FMI IV
. Esta crônica é o retrato sem retoques do que ocorre às portas dos hospitais de todo o Brasil, com dramática intensidade em cidades desprovidas de recursos localizadas nas chamadas áreas pobres do país. O ir e vir das ambulâncias nas ruas das capitais, Belo Horizonte, por exemplo, tornou-se cena habitual no seu panorama urbano. Notas de jornais e cartas dos leitores dão conta do sofrimento atroz a que estão submetidos aqueles que veem em busca do socorro medico não encontrado nos locais onde vivem. Se os episódios ocorridos no Senado e na Câmara dos Deputados ganham inusitado prestígio e realce nos órgãos de comunicação, sua exagerada e espetaculosa divulgação acaba por ser cortina de fumaça para ocultar aos olhos da opinião pública o intenso drama exibido diariamente no desfilar do desvalidos da saúde em busca de socorro. O Brasil padece da grave doença do populismo e da demagogia. Está submetido a uma publicidade compressora que luta para impedir seu povo de ver e de raciocinar, fazendo-o vítima de falsos mitos na entronização e celebração da mentira contumaz.
terça-feira, 16 de junho de 2009
Um soneto de Raul de Leoni destinado a todos que estão às portas do outono
"Quando fores sentindo que o fulgor
de teu ser se corrompe e a adolescência
do teu gênio desmaia e perde a cor
entre penumbras e deliquescência,
Faze a tua sagrada penitência,
fecha-te num silêncio superior,
mas não mostres a tua decadência
ao mundo que assistiu teu esplendor.
Foge de tudo para o teu nadir.
Poupa ao prazer dos homens o teu drama
Que é mesmo triste para os olhos ver
e assistir, sobre o mesmo panorama,
a alegria matinal subir
e a ronda dos crepúsculos descer."
de teu ser se corrompe e a adolescência
do teu gênio desmaia e perde a cor
entre penumbras e deliquescência,
Faze a tua sagrada penitência,
fecha-te num silêncio superior,
mas não mostres a tua decadência
ao mundo que assistiu teu esplendor.
Foge de tudo para o teu nadir.
Poupa ao prazer dos homens o teu drama
Que é mesmo triste para os olhos ver
e assistir, sobre o mesmo panorama,
a alegria matinal subir
e a ronda dos crepúsculos descer."
terça-feira, 9 de junho de 2009
Uma estrofe de Emílio Moura
CANÇÃO
Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Romaria a Mariana e Ouro Preto I
Sexta-feira, dia 5 de junho, completaram-se 55 anos, 5 meses e 22 dias de quando o governador Juscelino Kubitschek deslocou seu governo até a cidade de Mariana para presidir a cerimônia de trasladação dos restos do poeta Alphonsus de Guimaraens para o mausoléu erigido em memória póstuma ao maior poeta simbolista brasileiro. Nascida destas inspirações foi a romaria cívico-literária que os membros da Academia Mineira de Letras fizeram a Mariana na data de ontem, para prestar homenagens ao seu patrono e manifestar sua devoção intelectual ao inspirado poeta. Cumpre-me neste texto tão somente realçar o significado da romaria à “cidade episcopal que dorme no seio branco das litanias”, que o acolheu no final de sua vida simples e modesta de funcionário público, cuja obra recebeu o reconhecimento somente após sua morte. Escolhido como patrono da Academia Mineira de Letras, tendo sido um dos seus fundadores, era de nosso dever prestar devoção à sua memória, e tivemos sorte de encontrar à frente da prefeitura daquela cidade um intelectual e político clarividente na pessoa de Roque Camello, também presidente da Academia Marianense de Letras.
Romaria a Mariana e Ouro Preto II
Autor de obra poética altamente qualificada, voltada para o permanente e o eterno, infelizmente os tempos modernos não se entregam ao seu culto com a constância exigida pelo significado literário de seu trabalho, que no dizer de Oswald de Andrade “honra não só uma geração como uma pátria”. Ao visitá-lo em julho de 1919, o poeta Mário de Andrade protestava contra a “escuridão” que envolvia Alphonsus, clamando pelos editores da época para que se transformassem em “bandeirantes para descobrir nas Minas Gerais essa mina de diamantes castiços e lapidados, tesouros que Alphonsus guarda junto de si”. Naquele já longínquo dia de 13 de dezembro de 1953, JK proferiu palavras que estão bem vivas na memória dos mineiros ao assinalar que em Mariana “floriu, em cores que jamais serão excedidas, a flor poética que algum dia poderia despontar no dorso destas montanhas severas”, cidade e poeta se compreendendo e se justapondo perfeitamente, “ela se abrindo para ele na simplicidade ingênua dos velhos solares, em cujas sacadas ‘na solidão de sua etérea calma’ a imaginação de Alphonsus vislumbrava o vulto de angélico duende que, entre o silêncio e a paz das suas preces, desaparecia ‘como o sonho de alguém que já morreu’”.
A romaria a Mariana e Ouro Preto III
”. Os acadêmicos de Minas Gerais voltaram aos cenários solenes e graves de Mariana e Ouro Preto para reverenciar um dos maiores vultos da poesia brasileira de todos os tempos e reafirmar seu compromisso com os valores fundamentais de nossa cultura. E aproveitaram a feliz oportunidade para testemunhar seu respeitoso apreço por Mariana e Ouro Preto, símbolos eternos de nossa vocação para a liberdade. Mariana foi eternizada nos versos tristes e melancólicos de seu vate, cujo sino gemia “em lúgubres responsos, pobre Alphonsus, pobre Alphonsus” e, agora, quando a Academia Mineira de Letras que ele fundou completa cem anos de fecunda existência, seus componentes veem a Mariana para ouvir o bimbalhar festivos de seus sinos proclamando em festivos responsos viva Alphonsus, viva Alphonsus na eternidade de seus versos e na força da emoção que despertam.
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