sábado, 29 de maio de 2010

Bolsa Copa de Lula virou as catâmbrias II

O candidato José Serra é também culpado. Foi dele a afirmação de que “Lula está acima do bem e do mal”, aumentando ainda mais a teomania que domina a personalidade do presidente passeador, agora transformado em camelô do tirano iraniano em desconcertante, no limite do ridículo, tentativa de inserir-se como estadista global. Seria negar evidências inadmitir os sucessos do presidente nas políticas internas herdadas do antecessor. Acontece que, na medida em que se aproxima o fim do mandato, ele começa a falar coisas e a produzir fatos atordoantes, deslustrando assim uma biografia construída com notável esforço. O caso mais notório dessa perda de cerimônia e aproximação do estapafúrdio é o projeto denominado Bolsa-Copa, pelo qual o governo doaria 100 mil reis aos jogadores que participaram das copas de 1958, 1962 e 1970, atribuindo-lhes ainda pensão vitalícia

Bolsa Copa de Lula virou as catâmbrias II

A reação fez-se de imediato pela voz digna do jogador Tostão, considerando errada a decisão governamental com estas palavras candentes, depois de afirmar sua peremptória recusa ao benefício, se aprovado: “É um erro distribuir verba pública assim. E os atletas de outros esportes? E os que não foram campeões, mas que lutaram? Eu não quero essa pensão”, arrematou o ex-campeão do mundo. Pela mesma forma, o presidente do Coríntians Andrés Sanchez, lulista de carteirinha, esbravejou depois de sua tentativa frustrada de falar com Lula: “Estou desesperado para falar com ele: ‘Cê ta louco meu?’ Arremata dizendo que a Federação das Associações de Atletas Profissionais, que tem como presidente o digno e sempre lembrado Wilson Piazza, possui recursos para premiar jogadores, em parte contestado pelo ex-craque assinalando que a FAAP não os tem pelo fato de muitos clubes serem dela devedores. O problema está em que, nos dias de hoje, os jogadores de futebol não precisam da ajuda de governos para sobreviver. Recebem salários altíssimos, principalmente os contratados pelos clubes estrangeiros, além de terem estipêndios muito acima do normal dos brasileiros os que jogam nos clubes locais.

Bolsa Copa de Lula virou as catâmbrias III

O presidente está fazendo barretada com o chapéu alheio, especialmente em ano eleitoral, quando jurou por todos os anjos e demônios que irá eleger sua candidata, custe o que custar. Para tanto, está virando as catâmbrias, expressão vinda da Inglaterra no passado, adotada por Machado de Assis numa de suas crônicas, para significar alguém que está pondo as coisas de cabeça para baixo, trocando alhos por bugalhos, de pernas para o ar, enfim, esforçando-se para retirar de sua administração parte do brilho justamente conquistado. O limite entre a glória e o ridículo é tênue demais para ser submetido a choques dessa natureza. Pelo dedo se conhece o gigante, assim como pela palavra se distingue o estadista do bufão. Arrancar do empobrecido povo brasileiro, ainda com 50% de sua população sem rede de esgoto e 14 milhões de analfabetos, dinheiro para premiar atletas altamente bem remunerados é querer as coisas pelo avesso. Virar as catâmbrias.

Bolsa Copa de Lula virou as catâmbrias IV

Não há qualquer tentativa de humor nesta afirmação. Quem acompanha com olhos de lince, ou mesmo com visão estrábica, o que vem acontecendo no Brasil já percebeu que tudo se passa ao arrepio das normas legais e do bom senso. Como admitir sem reação a atitude desafiadora do presidente da República ao infringir a lei eleitoral, fazendo propaganda aberta em favor de sua candidata. Tudo se passa sem a menor reação, como se o país estivesse anestesiado pela maciça propaganda governamental, para a qual não há regras ou medidas, inclusive o uso de empresas estatais fazendo proselitismo político quando sua publicidade deveria ser meramente institucional. Enfim, se o povo aceita mansamente essas aberrações é porque realmente está feliz e realmente também virando as catâmbrias. Em verdade, não vale aquele velho aforisma de que povo tem o governo que merece. O povo brasileiro merece coisa bem melhor.

A bela lição da democracia inglesa I

Sem espetaculosidade, espalhafato, ausência de barbudos e mal vestidos, em bocejante ordem e disciplina, a Inglaterra oferece ao mundo maravilhoso exemplo de democracia e organização, realizando a transferência de poder conforme as determinações da Carta Magna de 1215 imposta ao Rei pelos súditos em estado de rebelião. Desde quando os trabalhistas, depois de mais de dez anos no poder, foram derrotados pelos conservadores e liberais nas eleições parlamentares, decisivas dentro do regime adotado na velha e orgulhosa Albion, as conversações foram iniciadas sob o signo da responsabilidade política de cada grupo, especialmente em busca de soluções que ajudassem a superação da crise que ainda perturba e inquieta o mundo europeu. Nenhuma barganha oculta ou simulada para enganar a opinião pública.

A bela lição da democracia inglesa III

vTudo feito, para nossos padrões latinos, com irritante transparência. Estranhamente, nosso presidente que tem por hábito falar sobre tudo e se meter nos assuntos do mundo inteiro não tugiu nem mugiu. Deixou claro que o exercício pleno da democracia lhe não desperta tantas emoções quanto os processos a que estão submetidos a atordoada Venezuela e o tiranizado Irã , onde ditadores impõem sua vontade ao arrepio dos mais comezinhos princípios republicano-democráticos. O contraste que se expõe aos olhos dos brasileiros entre o processo sucessório na Inglaterra e aquele aqui montado pela publicidade governamental, retirando do bolso do colete o nome de uma candidata sem tradição política e sem filiação partidária para impô-la goela abaixo de seu próprio partido, enche-nos de vergonha, senão de inveja, por não havermos atingido o nível de educação política daquele povo tradicional.

A bela lição da democracia inglesa III

O espetáculo democrático oferecido ao mundo pelos ingleses é de causar emoção. O poderoso primeiro-ministro deixa a sede do governo ao lado da esposa e filhos, sem fanfarras e guirlandas, na modéstia e simplicidade de quem prática ato corriqueiro. Sem tardanças e depois de receber o placet da Rainha Elizabeth II, o novo chefe de governo David Cameron, líder dos conservadores vitoriosos, com a mesma naturalidade e igualmente ungido pela tradição e a lei, assume o governo ao lado do líder dos liberais-democratas em solenidade carregada de emoção pela simplicidade. Nada supera em beleza e emoção atos e ritos da democracia quando praticados com a devoção de quem nela acredita verdadeiramente. Superam em muito a pompa e a ostentação das práticas carregadas de sombras e mistificações dos regimes baseados na truculência dos populistas, na enganosa publicidade dos demagogos, nas falsas promessas dos habituados a embair a boa fé da população

A bela lição da democracia inglesa IV

Os personagens das cenas de transferência do poder na Inglaterra são o espelho da luminosidade exigida pela democracia dos seus praticantes. Sinceridade estuando pelos semblantes marcados pela gravidade da hora, fica o mundo devendo à gloriosa nação a magnífica lição de democracia, que “continua sendo o pior regime, salvo os outros”, conforme definia o imortal Winston Churchill. A rigor, o que acontece politicamente na Inglaterra segue curso natural desde o tempo em que os dois gigantes de sua história parlamentar, Disraeli e Galdstone, deixaram-na impregnada de exemplos de patriotismo e compromissos com o regime democrático. Basta relembrar um ou outro e seguir-lhes os passos para que os ingleses, obedientes às falas tradicionais do trono, encontrem o ponto de convergência que faz grande e poderosa sua nação. Democracia é regime e modo de governar que deita suas raízes na simplicidade das coisas. Sua principal virtude está em respeitar a natureza das coisas, principalmente deixar ao povo abertas as oportunidades a que se manifeste sem constrangimentos de qualquer espécie. Para consolidação definitiva do regime democrático no Brasil, políticos e homens de Estado não esqueçam de fazer dos exemplos de virtude o símbolo maior.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O sinal da cruz dos atletas e o sorriso dos candidatos I

Arrefecida minha paixão pelo futebol e consequentemente pelo Atlético, o hábito de ir a estádio perdeu força. Questão de comodidade, talvez, estimulado pela exibição nas telas das televisões detalhes e ângulos que o espectador não vê nos campos. Se o calor das torcidas deixa certo vazio nas emoções da partida televisionada, verdade é que as técnicas modernas e o aparelhamento sofisticado das emissoras imprimem cenas que exaltam ou degradam o espetáculo. Algo tem me chamado a atenção nos jogos: não há atleta que entre ou saia de campo sem fazer o sinal da cruz, duas ou três vezes como para confirmar sua religiosidade, isto sem falar nos premiados por jogadas de efeito ou autores de gols que levantam os olhos para o céu com as mãos ao alto como em agradecimento pelo prêmio recebido. O impressionante mesmo é o sinal da cruz, praticado à unanimidade por todos que entram ou saem do jogo. Vejo nisto um auspicioso sinal de fé, que, mesmo em momentos tensos e carregados de emoções, ilumina o espírito do atleta como reverência e agradecimento pelo privilégio de ter sido escalado em função de suas qualidades. Se todos exibem o sinal da cruz com natural espontaneidade, o mesmo não acontece com o sorriso forçado dos políticos e candidatos diante das câmaras fotográficas.

O sinal da cruz dos atletas e o sorriso dos candidatos II

. Antigamente se dizia muito riso pouco siso. Hoje não. Quando mais popular é o político ou o artista, e a mania está contaminando todos diante de fotógrafos e cinegrafistas, seu sorriso se abre para significar estar em paz consigo mesmo e usufruto de intenso momento de prazer. Há exemplos, promovidos pelas novas técnicas de implantes dentários, de fotografados cujo sorriso estampa dentição alva e perfeita, como se estivessem querendo fazer propaganda do odontólogo autor da proeza. Seja como for, estes sorrisos persuadidos pelos marqueteiros que tomaram conta das campanhas políticas, dos publicitários autores de peças propagandísticas para jornais e televisões, atinge as raias do exagero que, em alguns casos, ganham certa tonalidade ridícula, sobretudo quando os momentos em que estão sendo chamados a se pronunciar sugerem circunspeção e seriedade. Assim surgem inspirações para as crônicas. Este é o espírito que move estas mal traçadas linhas, ao cronicar nos sábados sobre assuntos variados. De qualquer forma, observados atentamente, refletem estado de espírito enobrecedor no caso dos sinais da cruz exibidos pelos atletas e certa vulgaridade pelos pavoneadores de sorrisos inteiramente desproporcionais aos acontecimentos de que participam. O caso mais recente e grotesco ficou por conta do sorriso forçado mostrado pela pré-candidata do PT ao colocar flores sobre a lápide do túmulo de Tancredo, local a exigir um mínimo de unção religiosa, substituída pela amostra da arcada dentária anteposta pelos marqueteiros de plantão

O sinal da cruz dos atletas e o sorriso dos candidatos III

. Seja como for, estes sorrisos persuadidos pelos marqueteiros que tomaram conta das campanhas políticas, dos publicitários autores de peças propagandísticas para jornais e televisões, atinge as raias do exagero que, em alguns casos, ganham certa tonalidade ridícula, sobretudo quando os momentos em que estão sendo chamados a se pronunciar sugerem circunspeção e seriedade. Assim surgem inspirações para as crônicas. Este é o espírito que move estas mal traçadas linhas, ao cronicar nos sábados sobre assuntos variados. De qualquer forma, observados atentamente, refletem estado de espírito enobrecedor no caso dos sinais da cruz exibidos pelos atletas e certa vulgaridade pelos pavoneadores de sorrisos inteiramente desproporcionais aos acontecimentos de que participam. O caso mais recente e grotesco ficou por conta do sorriso forçado mostrado pela pré-candidata do PT ao colocar flores sobre a lápide do túmulo de Tancredo, local a exigir um mínimo de unção religiosa, substituída pela amostra da arcada dentária anteposta pelos marqueteiros de plantão

O sinal da cruz dos atletas e o sorriso dos candidatos IV

Tudo concorre para que o povo identifique o alto grau de improvisação em que mergulhou a política no Brasil. Há algo interessante envolvendo as primeiras escaramuças eleitorais. A candidata do PT é espécie de “alter ego” de Lula. Vocaliza idéias de que não é autora, transformando-se em mero agente da publicidade governamental usada para obter sufrágios eleitorais. O candidato José Serra, do alto de sua experiência de ministro, deputado, senador, prefeito e governador, dá sinais de grande superioridade nas intervenções de que participa. O que enseja ao observador tirar conclusões não muito definitivas sobre o que poderá acontecer no pleito é o alto nível de artificialismo que envolve as primeiras ações dos partidos em luta. Surge a candidata do PV como novidade, com expectativas de crescer perante a opinião pública. Eliminando os sorrisos forçados dos candidatos, nada de mais novo existe.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A morte do padre e acadêmico Pascoal Rangel I

Foi para a Igreja, para a Academia Mineira de Letras, momento de grande tristeza e comoção a notícia do falecimento do padre Pascoal Rangel, notável filósofo e homem de vasta cultura. Tendo superado problemas de saúde que muito o fragilizavam, recuperando-a com ânimo vigoroso, Padre Pascoal Rangel cuidava da direção da Editora Lutador, empreendimento empresarial que jamais descurou da cultura e dos interesses superiores da doutrina, fazendo de sua vasta e preciosa biblioteca o cadinho onde elaborava seus ensaios, suas teses filosóficas e, em especial, estudos de poesia a que se dedicou depois de fascinado pelos versos de Henriqueta Lisboa. Por estranho desígnio da providência ou do destino, foi exatamente dentro de sua biblioteca, que peripateticamente percorria todos os dias em busca do melhor livro para o trabalho que realizava ou uma tese sobre a qual meditava, que numa queda inopinada fraturou o fêmur, obrigando-o a fazer cirurgia reparadora que, certamente deixou seqüelas que acabaram por apressar seu encontro com o Deus que ele tanto amou e glorificou em vida.

A morte do padre e acadêmico Pascoal Rangel II

Como seu confrade na Academia Mineira de Letras tive oportunidade de me aproximar dele, cativado pela sua imensa bondade e seduzido pela vasta cultura. Sua vida é um amplo espectro que abrange desde o primeiro vicariato na cidade de Carangola até os dias finais de sua existência, totalmente dedicada e entregue ao pensamento filosófico na tentativa de solucionar dúvidas e inquietações que afligem a sua e nossa Igreja. Se sua nobre existência possibilita exame amplo pela plenitude de sua ação apostolar, muito se poderá dizer da vocação magisterial que o professor exercitou com raro brilho nos seminários e universidades da capital. Ele será lembrado como fundador e criador da Editora “O Lutador”, redator do jornal “O Lutador”, diretor da Revista de teologia “Atualização”, conferencista sempre lembrado para proferir palestras quando era requerida personalidade de reconhecida cultura e competência teológica. Enfim, na multifária atividade intelectual e sacerdotal do Padre Pascoal há inumeráveis aspectos que mereceriam destaque nesta hora de saudade e de lágrimas

A morte do padre e acadêmico Pascoal Rangel III

A mim, cabe comentar, ainda que brevemente, sobre o acadêmico Padre Pascoal Rangel, eleito para a cadeira de número 27 no dia 27 de dezembro de 1997, na vaga deixada pela morte do titular Dom Oscar de Oliveira. Outra coincidência provocada pelo destino: um intelectual substitui o grande antístite de Mariana, poeta e intelectual do mesmo aprumo do Padre Pascoal. No dia 12 de março de 1998, há precisamente 12 anos, tomava posse o acadêmico padre Pascoal Rangel, em sessão solene presidida pelo presidente da Academia, acadêmico Vivaldi Moreira. Em seu alentado discurso de posse, Padre Pascoal Rangel falou sobre importância dos intelectuais no mundo moderno, sobretudo de sua responsabilidade em não permitir a invasão de doutrinas anticristãs sob o enganador disfarce das promoções sociais. Perdemos um grande sacerdote e um notável mestre cuja ausência deixará muitas saudades. Que Deus o tenha em sua glória!