segunda-feira, 22 de março de 2010

Uma poesia de Olavo Bilac

OUVIR ESTRELAS

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!"
E eu vos direi, no entanto,
que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem, quando estão contigo?
"E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

A grave e fatal doença da corrupção I

Pela repercussão causada e pela verdade que contém, o manifesto do deputado José Eduardo Cardoso, secretário geral do PT, de renúncia à disputa para a Câmara Federal não pode passar em branco. Merece ser comentado porque traz novamente à discussão o problema da corrupção eleitoral, do uso imoderado do dinheiro em eleições e o estado de pauperismo ideológico e mental em que se chafurdam as instituições políticas. Diz ele: “Fazia isso por já não me sentir confortável em disputas onde os recursos financeiros cada vez mais decidem o sucesso de uma campanha, onde apoios eleitorais não são obtidos pelo convencimento político das idéias, pelo programa ou pela própria atuação do candidato proporcional, mas quase sempre pelo quanto de “estrutura” financeira ele pode distribuir. Já os corruptos cuidadosos que podem pagar bons e caros técnicos que os assessoram, costumam não cometer erros desta natureza, ao engendrarem suas grandes “falcatruas”.

A grave e fatal doença da corrupção II

Bem assessorados, quase sempre saem “limpos” das disputas eleitorais e aptos a continuar a assaltar os cofres públicos com a mesma desenvoltura de sempre. Quando, porém, eventualmente, são pegos pelas malhas da lei, já possuem os cofres nutridos para pagar bons advogados e fortuna suficiente para fugir da execração social em lugares acolhedores do mundo. O sistema político brasileiro traz no seu bojo o vírus da procriação da corrupção e das práticas não republicanas, mas também inocula, ao mesmo tempo, outro vírus que atinge o ânimo dos que gostam do Parlamento, mas não gostam das condições, das regras, das calúnias e das incompreensões que forjam o caminho do acesso e o exercício de um mandato proporcional. Embora tenha lutado muito contra o primeiro, fui, lamentavelmente, atingido pelo segundo”.

A grave e fatal doença da corrupção III

A transcrição do desabafo do parlamentar paulista tornou-se impositiva, tal a força de sua denúncia para o estado geral da nação e da política, evidenciado sintomas de enfermidade grave na vida institucional brasileira que, se não debelada, será danosa para as futuras gerações. Aqui em Minas já começaram a surgir no mundo político-parlamentar denúncias da avassaladora presença do poder econômico corrupto e corruptor, além dos inevitáveis abusos cometidos pela incultura política de detentores de cargos nos escalões do governo. O vício está profundamente arraigado na mentalidade de alguns homens de dinheiro, que se julgam acima do bem e do mal para corromper, estribados na impunidade geral que vige no país. Será que tem algum valor pregar por reforma política que elimine o vicioso e fraudulento sistema proporcional de captação de voto, cuja perpetuidade assegura igual permanência aos corruptores de todos os matizes?

A grave e fatal doença da corrupção IV

Por mais que se enrijeça o discurso moralizador contra a corrupção disseminada país afora, tanto nos grotões como nos palácios, tem-se a impressão que a praga aumenta sua resistência. A cada nova eleição o quadro se renova, voltando sempre com redobrado vigor. Conheci vários homens ilustres que honraram e dignificaram a representação parlamentar, abandonando-a por impossibilidade de enfrentar o dragão do dinheiro sujo nas eleições, vários deles tombados à beira do caminho pelo avassalador uso da compra de votos. O vício é recorrente e parece estar definitivamente incorporado aos costumes, pelo menos até o dia em que se resolva colocar termo ao sistema proporcional de eleição, responsável direto pela presença corruptora da pecúnia nos pleitos brasileiros. O civismo recomenda prosseguir no combate, apesar dos percalços. Dizia o poeta “prudente foi São Francisco que falou aos peixes. Corajoso foi Cristo que pregou aos homens; mas o mais sábio de todos foi João Batista, que pregou no deserto”. Está escrito nos Provérbios (29, 16): “Quando se multiplicam os ímpios, multiplica-se o crime, mas os justos contemplarão sua queda”. Assim seja.

domingo, 14 de março de 2010

O destempero de Lula e o canhã Paraguaio I

Os países da loucura e da sabedoria são limítrofes e de fronteiras tão incertas, que nunca pode alguém saber com segurança em qual dos dois países se encontra. Lembrei-me destas palavras lendo e ouvindo os destemperos verbais do presidente da República, tentando tornar palatáveis aos olhos do mundo conceitos proferidos em Cuba, de conseqüências desastrosas quando depositou sua reverência e servilismo escancarados à cruel e funesta ditadura, enquanto o mundo civilizado contemplava perplexo o assassinato do pedreiro que ousou desafiar o círculo de ferro que domina a sofrida ilha do Caribe. O presidente da República está colocando os observadores nacionais e internacionais naquela situação de não poder identificar se o fim do mandato ou a certeza da imortalidade, criada pela publicidade governamental, em ritmo de estrela cadente, colocam o chefe do governo no país da loucura, afastando-o do país da sabedoria em que muitas vezes habitou em instantes de seu governo, sob cujo manto protetor petistas e sindicalistas, misturados a cupinchas e aloprados, fartaram-se à vontade nas tetas do governo.

O destempero de Lula e o canhão paraguaio II

Ao discursar comparando presos políticos a bandidos, o destempero verbal colocou Lula, antigo preso político, condicionado à própria definição, o que evidentemente não é verdadeiro. O espetáculo de bufonaria que o presidente tem oferecido diariamente, falando pelos cotovelos após almoços opíparos com a carga pesada de sua candidata a agredir a Justiça Eleitoral, demonstra a perspectiva de que o pior ainda está por vir à medida que a luz do poder bruxuleia e caminha para a exaustão. Pelo menos em respeito à sua biografia, que tem aspectos singulares e nobres, Lula deveria se resguardar para não entrar pela porta dos fundos da história, justiceira neutra que louva e condena os homens de governo não pelas obras que o tempo supera, mas pelos exemplos de honra ou desonra com que conduziram seus povos.

O destempero de Lula e o canhão paraguaio III

. Para não perder mais tempo com esse falastrão incorrigível, achei melhor oferecer ao leitor a oportunidade de debater sobre o pedido do governo do Paraguai de devolução do “canhão cristão”, peça de artilharia assim chamada por ter sido confeccionada com os sinos das igrejas da capital vizinha e apreendida durante escaramuças da histórica guerra. O apelo dramático formulado pelo vice-presidente paraguaio, em tom emocional, de que “feridas não se cicatrizarão nunca mais” se o “boca de fogo” lhes não for entregue, deve ser imediatamente atendido, sob pena de a indecisão quanto ao desfecho ensejar interminável e insosso debate sobre a devolução ou não ocupar o lugar e o tempo dos problemas que circundarão o debate eleitoral deste ano. Será gesto de cordialidade e benemerência histórica para com o Paraguai e sua entrega sob o pálio da propaganda dará a Lula oportunidade para rasgar seus improvisos alagados, com que inundará o coração e as mentes dos agradecidos paraguaios em fervor e oração.

A ditadura cubana e a educação brasileira I

Meu impulso inicial era o de comentar o papel ridículo e carregado de mistificação vivido pelo presidente brasileiro em Cuba, na visita de despedidas feita ao ditador cubano e seu irmão no mesmo dia em que foi assassinado pelo governo cubano o operário Zapata Tamoyo, depois de 85 dias em greve de fome como protesto pela prisão por delito de consciência pela falta de liberdade na ilha do Caribe, representativa do sonho de frustrado dos comuno-esquerdistas brasileiros. Como é perda de tempo enviar mensagens a ouvidos de mercador de governo embalado pelas cantigas dos turibulários e convencido de sua própria divindade, achei de melhor alvitre abordar os dados sobre a educação brasileira, fornecidos pelo Ministério da Educação e indicativos de que estamos próximos da falência institucional do mais importante setor da vida nacional. Enquanto soltam os fogos de artifício da publicidade para festejar êxitos anunciados, o resultado é entristecedor quando se comprova que apenas 33% das 294 metas fixadas foram cumpridas. Os números são constrangedores para o país: além da alta repetência verificada desde o ensino fundamental até a universidade, continua baixa a taxa de universitários e o acesso à educação infantil distante do proposto. Se a análise se fixar no ensino infantil e fundamental, a cargo dos municípios, o panorama ainda é mais desolador.

A ditadura cubana e a educação brasileira II

Além da conhecida deficiência material do espaço físico das escolas, a péssima remuneração do magistério é fator de fuga permanente dos melhores quadros. No que diz respeito à educação infantil, o Brasil se encontra muito distante de preencher as metas previstas para 2010, quando havia esperança de que 50 por cento das crianças de 0 a 3 anos de idade estivessem matriculadas em creches ou estabelecimentos próprios para essa faixa etária. Os dados estatísticos revelam que apenas 18 por cento das crianças naquela idade conseguiram vagas nas escolas especializadas. Se houve aumento de matrícula no ensino fundamental, apesar da notória deficiência da rede escolar, acrescida dos problemas salariais dos professores e funcionários, no ensino médio estão fora da escola, na idade de 15 a 17 anos, cerca de 16 por cento e na universidade, cujas previsões indicavam o aproveitamento de 30% naquela faixa de idade, apenas 13,7% teve acesso aos cursos superiores.

A ditadura cubana e a educação brasileira III

. O que grita mais alto, como atestado da falência institucional dos planos e objetivos educacionais, é o número de analfabetos no Brasil, que atinge a soma de 14 milhões de jovens com 15 anos. Não estão incluídos aí os analfabetos funcionais, vale dizer, aqueles que escrevem apenas o nome, mas são incapazes de ler ou ter o entendimento daquilo que lêem. O quadro é preocupante, pois é esta gente inculta e despreparada que será convocada para eleger o futuro presidente da República, governadores de Estado, senadores e deputados federais e estaduais, em ambiente marcado pelo desrespeito às leis e as normas éticas.

O centenário de Tancredo Neves I

Alguns povos e nações têm mais sorte do que outros, sobretudo quando sua história está impregnada de varões ilustres e instituições determinantes de seu caráter e heroísmo. Maior ventura têm ainda quando, em períodos ensombrados e perda gradativa de valores, podem se voltar para o passado e retirar dele os modelos e paradigmas para prosseguir em sua caminhada. É o que se passa no Brasil, nesta hora de intensa degradação institucional, de volume crescente de corrupção e falência de seu combate, quando toda a população se volta para as comemorações do centenário de nascimento de Tancredo de Almeida Neves, nascido na velha e libertária São João d’El Rey no dia 4 de março de 1910, bebendo nas fontes de sua formação os exemplos de amor à liberdade, ao direito e à justiça. A exaltação da figura histórica de Tancredo é alimento espiritual e cívico para o povo desesperançado, buscando reencontrar nele os rumos perdidos no desvario demagógico e o populismo desenfreado.

O centenário de Tancredo Neves II

. Com passagens marcantes na história do Brasil na segunda metade do século XX, Tancredo revigora o mesmo espírito que presidiu o Ministério da Conciliação presidido por Honório Hermeto Leão Carneiro, marquês do Paraná, em 1853, assegurando tempos de paz e de concórdia que deram grande prosperidade ao Brasil, além da restauração da paz e da ordem. Tendo sempre como inspiração as lições do mineiro de Jacui, assinaladas pelo mais intenso patriotismo e devoção ao Brasil, Tancredo construiu pontes institucionais seguras no episódio do dramático suicídio de Vargas, atuando nos momentos decisivos com a palavra pacificadora, sem abrir mão dos ordenamentos éticos ditados por seu comportamento público.

O centenáro de Tanc redo Neves III

. Novamente em 1961, nos angustiantes episódios vividos com a renúncia amalucada de Jânio Quadros, o espírito conciliador de Tancredo Neves entre em cena para impedir quarteladas e o rompimento absoluto da ordem constitucional, articulando a fórmula parlamentarista como saída de emergência até que as instituições, devidamente recuperadas, pudessem elas mesmas encontrar os rumos desejados pela nação. Em todas essas articulações sempre esteve, dominantemente presente no espírito de Tancredo, aquele sentimento que patenteou para a história em seu discurso de posse no Palácio da Liberdade de que “liberdade é o primeiro compromisso de Minas”. Este sempre foi o seu caminho no amplo trabalho conciliador que realizou na República à maneira de Paraná no Império. Foi bem inspirado o governador Aécio Neves em transformar ato administrativo de inauguração da nova estrutura física de seu governo como homenagem e exaltação à obra política de Tancredo Neves. Não há como negar a justiça do tributo histórico, principalmente pelas circunstâncias dramáticas em que vive hoje o Brasil cujas desfiguradas instituições parecem estar sendo maquiavelicamente moldadas para aventuras caudilhistas e totalitárias, enfraquecendo-as para entronização do arbítrio e da prepotência.

O centenário de Tancredo Neves IV

Para os grandes homens, os homens de verdade assim proclamados sem as mistificações da publicidade enganosa, a morte é condição da glória, do mito, da lenda. Essas gloríolas em vida, abastecidas pelos fâmulos e cortejadores, acabam por se transformar em glórias sob encomenda, mera exaltação das vaidades fátuas alimentadas pelo cabotinismo das igrejinhas políticas de elogios mútuos. Eis a razão pela qual o povo humilhado e sofredor, nos dias de humilhação ou de sofrimento, volve-se angustiado para a memória dos grandes homens em busca da flama que lhe alumia o presente e enche de raios o futuro. Tancredo Neves foi verdadeiramente homem de Estado e como tal se conduziu em vida e merece recolher as glórias de seu trabalho na memória consagradora do povo. O prêmio que lhe tributa a história reforça no Brasil a certeza de que a verdade prevalecerá.