domingo, 3 de janeiro de 2010
Manoel Rabicó e a Missa do Galo I
Na poesia de Dante Milano, impressa pela Academia Brasileira de Letras, deparei com estrofe do poeta goiano sob o título “O bêbedo”. Achei-a ajustada às comemorações natalinas, quando todos se entregam ao prazer das reflexões solitárias ou às libações para os brindes de felicidades para o ano próximo. Ei-la: O bêbedo que caminha/ Que mantos arrastará?/ Que santo parecerá?/ Gaspar, Melchior, Baltasar?/ Um miserável não é/ Logo se vê pelo gesto,/ Pela estranheza do olhar./ O bêbedo que caminha/ Que rei bêbedo será?” Trouxeram-me à lembrança Manoel Rabicó e sua estranha figura. Ela povoou meus tempos de menino. Ressurge do poema que me deu a sensação de haver sido composto e inspirado naquele homem de cor negra, a andar errabundo pelas ruas da cidade, deixando escapar de sua boca palavras ininteligíveis, em timbres soturnos como se bêbedo estivesse. Seria de fato cidadão? Ninguém até então encontrava explicações para a enigmática origem de Manoel Rabicó. Manoel era seu nome, Rabicó talvez lhe tenha sido posposto tirado do “Marques de Rabicó” de Monteiro Lobato. Ele mesmo gostava de se chamar “Negrinho”, com o que pedia comida na porta de quantos o conheciam e o sabiam inofensivo, salvo quando a criançada o perseguia com gritos e maledicências.
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