quarta-feira, 2 de julho de 2008
Afogamento no mar de lama I
"Que mal mais funesto, no quadro clássico das nossas endemias morais, do que a corrupção que ameaça dominar o País? Podemos ser moderados, mas, por mais que o sejamos, não podemos levar a moderação à complacência, que chegaria a ser cumplicidade. Os escândalos administrativos e econômicos, que vêm sendo denunciados corajosamente, sobretudo por meio de inquéritos parlamentares, dão a medida da crescente desenvoltura com que se vem tratando a coisa pública entre nós. É preciso deter essa onda, que compromete a República, uma vez que ela é, por definição, incompatível com os costumes de licença, de facilidade e de impunição e antes impõe métodos de austeridade e de zelo mais rigoroso no comportamento em face da coisa pública". Se o caro leitor pensar que essas palavras candentes foram retiradas de alguma entrevista publicada nos jornais do último fim de semana, está redondamente enganado. Elas constam do discurso pronunciado pelo ex-governador Milton Campos no ano de 1953, no Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito de São Paulo. Ditas há mais de meio século, impressionam pela atualidade. Sugerem haver sido pronunciadas ontem. É que o Brasil está à mercê da maré montante de um verdadeiro mar de lama.
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