sexta-feira, 25 de julho de 2008
Vícios, virtudes, tormentos e angústias I
“Malgrado partilharem das mesmas angústias, bons e maus não se misturam, por estarem confundidos nas provações. A semelhança dos sofrimentos não elimina a diferença entre os sofredores e a identidade dos tormentos não estabelece identidade alguma do vício e da virtude”. Estas sábias palavras de Santo Agostinho em sua obra clássica A cidade de Deus (pág.64, vol.1) vieram-me à mente a propósito dos últimos acontecimentos que têm por palco o Brasil, tão grande em suas virtudes quanto nos seus defeitos. Ao perceber a presença de magistrados, procuradores, juízes corriqueiros em entrevistas pelos órgãos de comunicação, policiais e até mesmo o presidente da República como personagens de insólita manifestação de falta de juízo, para não dizer coisa mais grave, lembrei-me do desembargador Hélio Costa, ilustre magistrado que presidiu a mais alta corte de Justiça em Minas, modelo perfeito de julgador e homem do direito, quando juiz na comarca de Itamarandiba, onde deixou inesquecível exemplo de correta aplicação da Justiça e incomparável modelo de civilidade no exercício de sua nobilitante missão. O cidadão simplório do interior batia às portas do juiz em busca de uma opinião ou na tentativa de influenciá-lo para um veredicto, fosse em que lugar fosse, encontrando sempre a mesma inesquecível lição, hoje praticamente letra morta nos hábitos e costumes com foros de trânsito em julgado no Brasil. Hélio Costa, com a calma e a delicadeza costumeira, recebia a todos com a mesma cortesia para a invariável resposta: “venha nos autos, onde somente o juiz pode falar”.
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