NO CAMAROTE
. . .
"Feliz quem possa na ansiedade louca
Este bela mulher prender nos braços. . .
Beber o mel na rosa desta boca,
Beijar-lhe os pés . . . quando beijar-lhe os passos!
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Machado de Assis e a oposição
"Não há paraíso que valha o gosto da oposição".
Conselheiro Ayres, in Esaú e Jaco
Conselheiro Ayres, in Esaú e Jaco
A paz nas reflexões natalinas e ano novo I
Ninguém ainda conseguiu decifrar completamente o porquê todos são levados a penetrar num mundo de reflexões a cada aproximação dos últimos dias do ano que vai findar. Se na prosaica mudança de um para outro período do calendário gregoriano, as pessoas são levadas a encasularem-se em si mesmas em busca de respostas para a maioria das questões que as afligem, fácil será imaginar o quanto elas penetraram profundamente em suas reflexões na vigília do Natal e em meio ao pipocar de rojões e das girândolas coloridas iluminando a noite e do borbulhar dos vinhos e champagnes nas saudações do novo ano. Isso sem falar naqueles que, repetidamente, preferem o silêncio dos retiros ou se curvam respeitosos diante das imagens das catedrais, igrejas e campanários com o único propósito de elevarem seu espírito. Os favoráveis ao burburinho das ruas para a confraternização anônima, trocando saudações e sorrisos com desconhecidos, de alma leve e coração aberto envoltos na vestimenta imaculadamente branca, produzirão interessante fenômeno de comunicação global ao proferirem o novo nome da paz chamando-a de esperança.
A paz nas reflexões natalinas e ano novo II
. Quem permanecer ligado aos meios de comunicação perceberá na totalidade dos entrevistados, indagados sobre a mensagem que enviariam aos semelhantes e o seu mais ardente desejo, responderem a uma só voz, certamente subjugados ante o mistério do menino nascido na manjedoura: a paz. Nesta época do ano, parecem todos movidos pelo desejo de pronunciar a palavra sem artificialismo, brotada do fundo da consciência, reflexo de um desejo incontido e dominador. Mesmo aquelas pessoas articulando pensamentos leves têm sempre a palavra paz como fecho de seu principal anelo. O cientista social há de vislumbrar no fenômeno uma reação quase instintiva à disseminação da violência nas ruas, ao medo que começa a dominar os habitantes das grandes metrópoles submetidas ao império do crime organizado, assustados com a falência da autoridade. Os observadores políticos hão de retirar do episódio conclusões sobre a crescente demanda da população por níveis de qualidade de vida superior, de certa forma representando a superação de dificuldades massacrantes para as pessoas simples.
A paz nas reflexões natalinas e ano novo III
A paz há de vir como conseqüência de uma nova ordem de coisas, novas necessidades econômicas, uma ciência nova. Apesar dos óbices colocados pela ambição de mando e a busca desesperada pela acumulação de riquezas, ela imporá aos homens um estado de serenidade e sublimação, pela mesma forma que, no passado, suas próprias condições de vida e a pobreza os colocavam e os mantinham em permanente estado de beligerância. Nada mais simples do que retirar da cena do Cristo no berço pobre de Nazaré as inspirações para que todos possam se conduzir segundo os ensinamentos por ele deixados para a eternidade. Quando, em uníssono, todos falam em paz e formulam votos de felicidades aos semelhantes com verdadeira sinceridade de propósitos, não é lícito supor estejam pecando contra a virtude pela falsidade das intenções. A esperança abrasa os corações e a mente dos homens na caminhada indesviável para o futuro. Este não é uma fatalidade cega, está disponível à determinação dos homens de fazê-lo à sua imagem e semelhança. A paz há de vir como conseqüência de uma nova ordem de coisas, novas necessidades econômicas, uma ciência nova. Apesar dos óbices colocados pela ambição de mando e a busca desesperada pela acumulação de riquezas, ela imporá aos homens um estado de serenidade e sublimação, pela mesma forma que, no passado, suas próprias condições de vida e a pobreza os colocavam e os mantinham em permanente estado de beligerância. Nada mais simples do que retirar da cena do Cristo no berço pobre de Nazaré as inspirações para que todos possam se conduzir segundo os ensinamentos por ele deixados para a eternidade. Quando, em uníssono, todos falam em paz e formulam votos de felicidades aos semelhantes com verdadeira sinceridade de propósitos, não é lícito supor estejam pecando contra a virtude pela falsidade das intenções. A esperança abrasa os corações e a mente dos homens na caminhada indesviável para o futuro. Este não é uma fatalidade cega, está disponível à determinação dos homens de fazê-lo à sua imagem e semelhança.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Marco Aurelio - Pensamentos
"Faz que as tuas ações, palavras e pensamentos se coadunem com a idéia de que, dentro de um segundo, podes sair da vida". Livro II, 11
domingo, 21 de dezembro de 2008
Instituições em risco I
Véspera de Natal e Ano Novo não é um bom momento para manifestações pessimistas. Ao contrário, há tendência nos corações de encontrar convergências capazes de amenizar eventuais crises ou fracassos, de buscar motivações novas para o reencontro de alegrias perdidas. Este o sentimento dominante naqueles que têm obrigação de expor pontos de vista e formular conceitos em espaço de jornal, permanentemente em confronto com o dever de lealdade e franqueza com leitores. Se formulasse avaliações plangossianas sobre o quadro das instituições brasileiras, cantando loas à excelência delas ou ao seu perfeito funcionamento, não me causaria espanto se o leitor tivesse conceitos desprimorosos a respeito do autor. Não há como fugir às evidências. Estão à vista de todos. Quando o presidente da Câmara dos Deputados se recusa a cumprir ordem judicial unânime promanada de um tribunal superior, o diagnóstico é de doença grave na instituição parlamentar. Além da amostra nem sempre edificante do comportamento dos seus componentes, de que a bancada de Minas aparece como exceção com algumas ressalvas, o mau exemplo do presidente da instituição é indicativo de sua crescente desmoralização, preocupada em resguardar interesses corporativos em troca da dignidade institucional.
Instituições em alto risco II
. Mais chocante ainda foi o episódio que deslustrou a tradição do Tribunal Superior Eleitoral, ocorrido ontem em Brasília, quando dois de seus mais ilustres membros, depois de insólito bate-boca, abandonam o plenário em sinal de protesto e impedem a continuidade da sessão para concluir julgamentos. De certo, causa estranheza partir do mesmo colegiado ordem revogatória de decisão anterior tomada por unanimidade e sujeita a cancelamento diante de medida processual tipicamente protelatória. Enquanto isto, o Senado Federal aprova a criação de mais de sete mil cargos de vereador pelo Brasil afora, medida acintosa em face de anterior do mesmo TSE que os havia cancelado. Toda essa permissividade apenas para dar pasto à demagogia. Mas as enfermidades não constroem morada apenas nos corpos legislativo e no judiciário. Na Bahia e no conforto de hotel de luxo na Costa do Suape, chefes de poder (alguns não podem ser chamados de chefes de Estado) rasgam os tratados internacionais e as regras básicas da boa convivência entre nações para atender a imperativo ideológico e abrir portas no concerto de países democráticos para uma ditadura feroz e sanguinária com a de Cuba. Tudo isto realizado distante do povo e sob a batuta do nosso inefável presidente, cada dia mais popular e longe da realidade.
Instituições em risco III
. Um editorial de jornal sugeriu ao presidente um certo falar menos. Seria pedir a alguém para tentar aprisionar as águas das cataratas do Iguaçu numa torneira. Não há como conseguir este milagre de prudência em quem governa com palavras e percebeu que delas aprecia o povo. A verborragia de Lula não causa tantos danos quanto as agressões repetidas praticadas contra as instituições basilares do país por aqueles que têm a responsabilidade de zelar por elas. Muito mais grave do que o psitacismo de que padece o chefe do governo é a leniência e mesmo a conivência com que são tratados os casos de corrupção no governo. Não há qualquer condenação explícita por parte dos responsáveis e apesar do esforço que fazem a Polícia Federal e órgãos repressores nos Estados, a praga daninha da malversação segue sua contaminação até os mais longínquos rincões do país. Por erro notório em seu encaminhamento e sob dura condenação e reprimenda da opinião pública, a Câmara dos Deputados estancou a orgia da criação de quase oito mil cargos de vereador, uma inutilidade a ser paga pelo contribuinte, sobre cujos bolsos recairia o custo desta fancaria. Causa espanto a insensibilidade de alguns congressistas, atuando em confronto com o bom senso, a lógica e a manifestação popular, expressa claramente nos órgãos de comunicação.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Para os poderosos do dia leram na cama
O que é prudente na conduta de qualquer família particular dificilmente constituiria insensatez na conduta de um grande reino”.
Adam Smith
Adam Smith
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Recordando Alphonsus Guimaraens Filho
POEMA
Alphonsus Guimaraens Filho
A alma que nasce em nós quando nascemos
é a mesma que nasce em nós quando morremos?
E quando em nós tudo se esvai, se esquece,
quem sabe se um outro sol é que aparece?
Ah! o sol que nasce em nós quando nascemos,
que a todo instante temos, e não vemos,
será a luz de Deus, quando morremos?
E só então nós nos revelaremos
nos círculos mais fundos onde ardemos?
E só então, no escuro, nos veremos?
Alphonsus Guimaraens Filho
A alma que nasce em nós quando nascemos
é a mesma que nasce em nós quando morremos?
E quando em nós tudo se esvai, se esquece,
quem sabe se um outro sol é que aparece?
Ah! o sol que nasce em nós quando nascemos,
que a todo instante temos, e não vemos,
será a luz de Deus, quando morremos?
E só então nós nos revelaremos
nos círculos mais fundos onde ardemos?
E só então, no escuro, nos veremos?
A escalada descendente da ética I
O leitor de bom senso admitirá: o episódio de corrupção que atingiu o Tribunal de Justiça do Espírito Santo é indicativo de que a degradação da ética no Brasil, especialmente no setor público, está em escalada descendente. Como um câncer a devorar as entranhas da sociedade brasileira, seus sinais são expostos como carne podre no açougue das negociatas praticadas sob o manto da mais completa impunidade. Se ainda temos juízes no Brasil em quem se pode confiar, a exibição com feitio de escândalo da prisão de desembargadores envergonhou o Brasil e causou constrangimentos aos milhares de servidores da Justiça, em sua ampla maioria composta de pessoas decentes e honradas. Mas o sinal é de péssima qualidade, demonstrando que nem mesmo os órgãos judicantes estão protegidos contra a maré montante da permissividade moral que inunda o país, a começar pela cúpula do sistema político e administrativo. Tivesse havido punição para os mensaleiros federais e estaduais, pudessem a polícia e a Justiça desvencilharem-se das teias da burocracia dos códigos e das leis para apanhar criminosos em suas malhas, o exemplo seria suficientemente fecundo para desencorajar delinqüentes ousados e confiantes na omissão das autoridades.
A escalada descendente da ética II
. Lamentavelmente, tais expectativas parecem estar cada dia mais distante, diante da enfadonha repetição pelo Brasil de fatos como o da cidade de Vitória. E tudo acontece nas capitais como nas cidades do interior, contaminadas por esta praga da corrupção e do crime. Quem perdeu a confiança na lei e na Justiça terá toda razão de estar desalentado e pessimista. Se por um lado existem exemplos de coragem na aplicação da lei, como o Tribunal de Justiça de Minas na recusa do pagamento de décimo-terceiro salário a vereadores, uma estrovenga espalhada pelas câmaras municipais do país, por outro há a infeliz e desarrazoada aprovação pela Comissão de Justiça do Senado de dispositivo determinando o aumento do número de vereadores do Brasil em mais de sete mil vagas. O Presidente Ernesto Geisel prestou grandes serviços ao Brasil, especialmente na feitura do projeto de abertura gradual do regime que presidiu e de que foi um dos principais corifeus. Mas sobre seus ombros pesará sempre o ato infeliz e pouco inspirado que permitiu fossem restabelecidos os subsídios de vereadores, praga que assola os municípios brasileiros, transformando um cargo de relevante prestação de serviço público em objeto de transações pouco decentes, além de inocular o vírus da corrupção eleitoral na escolha dos edis, outrora sempre decididas pelo mérito de cada um.
A escalada descendente da ética III
. No Império e na Primeira República, o mandato de vereador ou de conselheiro municipal era prestação voluntária de serviço público, dando ensejo a que fossem sempre selecionados os melhores, o que, infelizmente, não tem acontecido desde o infortunado momento histórico da transformação do mandato de vereador em sinecura. Estou de acordo se alguém objetar que existem exceções espalhadas pelo Brasil afora. Elas existem apenas para confirmar a regra geral da crescente degradação das edilidades e de seus componentes. O dado mais grave e preocupante nesta infeliz decisão senatorial foi o ter tornado sem efeito anterior deliberação do Tribunal Superior Eleitoral, mandando suprimir aproximadamente nove mil vagas nas câmaras municipais. Pior ainda foi não ter restabelecido a tradição republicana de fazer do mandato de vereador uma ação voluntária, a que certamente dela se acercariam os cidadãos interessados em servir a comunidade e o povo, sem transformar o mandato, como acontece nos dias de hoje, numa verdadeira e rendosa sinecura. O caso do vereador da cidade de Patos de Minas que colocou os cargos de sua assessoria em concurso público, demonstra bem o quanto estas coisas se deterioraram no país. O velho Senado agiu contra o Brasil.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Soneto para o final de semana
ENVELHECER - Bastos Tigre
Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.
Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.
Não te seja a velhice enfermidade!
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!
Que a neve caia! o teu amor não mude!
Mantem-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.
Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.
Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.
Não te seja a velhice enfermidade!
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!
Que a neve caia! o teu amor não mude!
Mantem-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
O verdadeiro estadista
O VERDADEIRO ESTADISTA
* Murilo Badaró - Presidente da Academia Mineira de Letras
Abrindo esta crônica, recordo curioso episódio. O presidente Geisel ao assumir o poder, imediatamente demitiu o professor Osvaldo Quinsan, seu secretário particular, pelo inconveniente de ele haver dito à imprensa que “Medici pensa que é estadista somente porque vai a estádio”. Ir a estádios de futebol não faz de ninguém um verdadeiro homem de Estado e muito menos falar pelos cotovelos. Há dois episódios, definitivamente incorporados à crônica da política mineira, que dão a correta dimensão do verdadeiro estadista. Deles foi personagem Milton Campos. Atacado por um deputado udenista, em discurso na Assembléia Legislativa, ao tomar conhecimento da imprecação disse essa pérola de tolerância e espírito democrático: “falar mal do governo é tão bom que esse privilégio não deve caber somente à oposição”. O outro, fartamente conhecido, é aquele em que repele a sugestão do Chefe de Polícia para mandar a polícia reprimir uma greve de ferroviários em Divinópolis com a famosa afirmação : “é melhor mandar o pagador”.
O verdadeiro estadista deve ser provido das virtudes da temperança, da tolerância, da paciência, da humildade e possuir o sentido da história. Sem essas virtudes, aliadas à ousadia e a coragem, jamais será acolhido no panteão dos deuses que concedem o galardão da imortalidade. No Brasil de hoje, os petistas no poder têm se caracterizado pela agressiva intolerância às críticas. Em lugar de ouvi-las com paciência e lenidade, não raro investem contra aqueles que a praticam democraticamente. São taxados de insolentes por profligá-lo pela prática de equívocos no exercício do poder. Irritam-se com facilidade, procurando desqualificar o crítico com expressões, tal e quais, como superados, ultrapassados, vanguardeiros do atraso e outras qualificações que denotam serem presas de forte viés autoritário, marca registrada dos líderes do petismo nacional. Aqueles que têm militância política intensa, não possuem espírito mais tolerante e apurada vocação democrática. Também, não o são os tecnocratas auto-suficientes e pedantes que, acostumados ao canto chão da louvaminha dos bajuladores, entendem a crítica democrática como ato de agressão pessoal, a ela reagindo com iracúndia e aspereza. Como erram seguidamente, preservam-se nos enganos, aprisionados estão às suas quinquilharias e idiossincrasias pessoais. Não conseguem prever, para prover as soluções a tempo e a hora. Quase sempre, estão em vilegiatura. Se assim não fosse, teriam sido poupados do desprazer de assistir ao aparecimento da crise perfeitamente previsível e, portanto, erradicável nos instantes iniciais, trepados na popularidade do chefe e nos aplausos dos áulicos. Quem critica é reacionário. Chamam os que criticam de ultrapassados, segundo definem os líderes do petismo. Os que amam e praticam a liberdade estão no bom caminho, combatendo os excessos da demagogia publicitária, verberando o desemprego, atacando a alienação das empresas nacionais ao capital estrangeiro, criticando acerbamente os descaminhos do governo federal na compra de votos parlamentares. O Brasil padece do mal da arrogância autoritária e todos, mesmo sem o talento e o charme presidenciais, acabam sendo um arremedo de aprendiz de caudilho, marcados pela prepotência e falta de espírito democrático. O Brasil paga alto preço por não ter estadistas no seu comando.
* Murilo Badaró - Presidente da Academia Mineira de Letras
Abrindo esta crônica, recordo curioso episódio. O presidente Geisel ao assumir o poder, imediatamente demitiu o professor Osvaldo Quinsan, seu secretário particular, pelo inconveniente de ele haver dito à imprensa que “Medici pensa que é estadista somente porque vai a estádio”. Ir a estádios de futebol não faz de ninguém um verdadeiro homem de Estado e muito menos falar pelos cotovelos. Há dois episódios, definitivamente incorporados à crônica da política mineira, que dão a correta dimensão do verdadeiro estadista. Deles foi personagem Milton Campos. Atacado por um deputado udenista, em discurso na Assembléia Legislativa, ao tomar conhecimento da imprecação disse essa pérola de tolerância e espírito democrático: “falar mal do governo é tão bom que esse privilégio não deve caber somente à oposição”. O outro, fartamente conhecido, é aquele em que repele a sugestão do Chefe de Polícia para mandar a polícia reprimir uma greve de ferroviários em Divinópolis com a famosa afirmação : “é melhor mandar o pagador”.
O verdadeiro estadista deve ser provido das virtudes da temperança, da tolerância, da paciência, da humildade e possuir o sentido da história. Sem essas virtudes, aliadas à ousadia e a coragem, jamais será acolhido no panteão dos deuses que concedem o galardão da imortalidade. No Brasil de hoje, os petistas no poder têm se caracterizado pela agressiva intolerância às críticas. Em lugar de ouvi-las com paciência e lenidade, não raro investem contra aqueles que a praticam democraticamente. São taxados de insolentes por profligá-lo pela prática de equívocos no exercício do poder. Irritam-se com facilidade, procurando desqualificar o crítico com expressões, tal e quais, como superados, ultrapassados, vanguardeiros do atraso e outras qualificações que denotam serem presas de forte viés autoritário, marca registrada dos líderes do petismo nacional. Aqueles que têm militância política intensa, não possuem espírito mais tolerante e apurada vocação democrática. Também, não o são os tecnocratas auto-suficientes e pedantes que, acostumados ao canto chão da louvaminha dos bajuladores, entendem a crítica democrática como ato de agressão pessoal, a ela reagindo com iracúndia e aspereza. Como erram seguidamente, preservam-se nos enganos, aprisionados estão às suas quinquilharias e idiossincrasias pessoais. Não conseguem prever, para prover as soluções a tempo e a hora. Quase sempre, estão em vilegiatura. Se assim não fosse, teriam sido poupados do desprazer de assistir ao aparecimento da crise perfeitamente previsível e, portanto, erradicável nos instantes iniciais, trepados na popularidade do chefe e nos aplausos dos áulicos. Quem critica é reacionário. Chamam os que criticam de ultrapassados, segundo definem os líderes do petismo. Os que amam e praticam a liberdade estão no bom caminho, combatendo os excessos da demagogia publicitária, verberando o desemprego, atacando a alienação das empresas nacionais ao capital estrangeiro, criticando acerbamente os descaminhos do governo federal na compra de votos parlamentares. O Brasil padece do mal da arrogância autoritária e todos, mesmo sem o talento e o charme presidenciais, acabam sendo um arremedo de aprendiz de caudilho, marcados pela prepotência e falta de espírito democrático. O Brasil paga alto preço por não ter estadistas no seu comando.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Considerações elogiosas - pela transcrição
Recebo várias manifestações acerca dos textos que o jornal o Tempo publica aos sábados. Algumas em sentido contrário, nem sempre respeitosas. Esta que publico hoje pareceu-me oportuna:
"Parabenizo V.Sa. pela excelente "Revista da Academia Mineira de Letras", fruto de um trabalho sério, competente e de alto nível, que honra as tradições da cultura mineira. Aprecio, também, suas lúcidas crônicas e compartilho com sua visão acurada dos problemas que afligem a sociedade moderna. Vejo que seu ideário se justapôe ao dos maiores pensadores e escritores da nossa época. Apenas para citar dois exemplos, lembro a visão de Robert Kurz, em sua obra "Com todo vapor ao colapso", ao analisar as "reviravoltas, explosões, crises, decadências, esgotamentos e mudanças incontroláveis por todos os lados e em todos os âmbitos." Tudo isso está nos levando ao caos e ao colapso.
A atual crise econômica mundial tem suas raízes firmemente alicerçadas nas graves crises moral e ética por que passa a sociedade humana, nesta transição de séculos. Para finalizar e não roubar mais o seu precioso tempo, lembro que José Saramago também se mostra cético em relação ao futuro da humanidade. Em seu "Ensaio sobre a Cegueira", afirmou que "as pessoas conscientes do verdadeiro caráter do mundo sofrem por não ver sinais positivos de mudanças e pela sua própria impotência perante o desastre que se tornou a vida humana" e considera "a literatura a menos cega das expressões artísticas atuais". Portanto, parabéns, mais uma vez, pelo exemplar trabalho que vem fazendo à frente da nossa querida e augusta Academia Mineira de Letras.
Abraço fraterno e respeitoso do amigo e admirador,
Carlos Reinaldo - Lafayette - 01/12/08. "
"Parabenizo V.Sa. pela excelente "Revista da Academia Mineira de Letras", fruto de um trabalho sério, competente e de alto nível, que honra as tradições da cultura mineira. Aprecio, também, suas lúcidas crônicas e compartilho com sua visão acurada dos problemas que afligem a sociedade moderna. Vejo que seu ideário se justapôe ao dos maiores pensadores e escritores da nossa época. Apenas para citar dois exemplos, lembro a visão de Robert Kurz, em sua obra "Com todo vapor ao colapso", ao analisar as "reviravoltas, explosões, crises, decadências, esgotamentos e mudanças incontroláveis por todos os lados e em todos os âmbitos." Tudo isso está nos levando ao caos e ao colapso.
A atual crise econômica mundial tem suas raízes firmemente alicerçadas nas graves crises moral e ética por que passa a sociedade humana, nesta transição de séculos. Para finalizar e não roubar mais o seu precioso tempo, lembro que José Saramago também se mostra cético em relação ao futuro da humanidade. Em seu "Ensaio sobre a Cegueira", afirmou que "as pessoas conscientes do verdadeiro caráter do mundo sofrem por não ver sinais positivos de mudanças e pela sua própria impotência perante o desastre que se tornou a vida humana" e considera "a literatura a menos cega das expressões artísticas atuais". Portanto, parabéns, mais uma vez, pelo exemplar trabalho que vem fazendo à frente da nossa querida e augusta Academia Mineira de Letras.
Abraço fraterno e respeitoso do amigo e admirador,
Carlos Reinaldo - Lafayette - 01/12/08. "
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