O VERDADEIRO ESTADISTA
* Murilo Badaró - Presidente da Academia Mineira de Letras
Abrindo esta crônica, recordo curioso episódio. O presidente Geisel ao assumir o poder, imediatamente demitiu o professor Osvaldo Quinsan, seu secretário particular, pelo inconveniente de ele haver dito à imprensa que “Medici pensa que é estadista somente porque vai a estádio”. Ir a estádios de futebol não faz de ninguém um verdadeiro homem de Estado e muito menos falar pelos cotovelos. Há dois episódios, definitivamente incorporados à crônica da política mineira, que dão a correta dimensão do verdadeiro estadista. Deles foi personagem Milton Campos. Atacado por um deputado udenista, em discurso na Assembléia Legislativa, ao tomar conhecimento da imprecação disse essa pérola de tolerância e espírito democrático: “falar mal do governo é tão bom que esse privilégio não deve caber somente à oposição”. O outro, fartamente conhecido, é aquele em que repele a sugestão do Chefe de Polícia para mandar a polícia reprimir uma greve de ferroviários em Divinópolis com a famosa afirmação : “é melhor mandar o pagador”.
O verdadeiro estadista deve ser provido das virtudes da temperança, da tolerância, da paciência, da humildade e possuir o sentido da história. Sem essas virtudes, aliadas à ousadia e a coragem, jamais será acolhido no panteão dos deuses que concedem o galardão da imortalidade. No Brasil de hoje, os petistas no poder têm se caracterizado pela agressiva intolerância às críticas. Em lugar de ouvi-las com paciência e lenidade, não raro investem contra aqueles que a praticam democraticamente. São taxados de insolentes por profligá-lo pela prática de equívocos no exercício do poder. Irritam-se com facilidade, procurando desqualificar o crítico com expressões, tal e quais, como superados, ultrapassados, vanguardeiros do atraso e outras qualificações que denotam serem presas de forte viés autoritário, marca registrada dos líderes do petismo nacional. Aqueles que têm militância política intensa, não possuem espírito mais tolerante e apurada vocação democrática. Também, não o são os tecnocratas auto-suficientes e pedantes que, acostumados ao canto chão da louvaminha dos bajuladores, entendem a crítica democrática como ato de agressão pessoal, a ela reagindo com iracúndia e aspereza. Como erram seguidamente, preservam-se nos enganos, aprisionados estão às suas quinquilharias e idiossincrasias pessoais. Não conseguem prever, para prover as soluções a tempo e a hora. Quase sempre, estão em vilegiatura. Se assim não fosse, teriam sido poupados do desprazer de assistir ao aparecimento da crise perfeitamente previsível e, portanto, erradicável nos instantes iniciais, trepados na popularidade do chefe e nos aplausos dos áulicos. Quem critica é reacionário. Chamam os que criticam de ultrapassados, segundo definem os líderes do petismo. Os que amam e praticam a liberdade estão no bom caminho, combatendo os excessos da demagogia publicitária, verberando o desemprego, atacando a alienação das empresas nacionais ao capital estrangeiro, criticando acerbamente os descaminhos do governo federal na compra de votos parlamentares. O Brasil padece do mal da arrogância autoritária e todos, mesmo sem o talento e o charme presidenciais, acabam sendo um arremedo de aprendiz de caudilho, marcados pela prepotência e falta de espírito democrático. O Brasil paga alto preço por não ter estadistas no seu comando.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
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