domingo, 23 de novembro de 2008

Chuvas, pobreza e sofrimento no verão I

Os antigos diziam: “chuva não quebra ossos”. Em verdade, não são as chuvas que estão matando em Belo Horizonte e espalhando pânico por toda Minas Gerais e o Brasil. O que está sacrificando centenas de pessoas é a pobreza e a miséria, obrigadas a se amontoarem nas encostas e nas margens dos ribeirões e regatos poluídos na periferia das cidades, expulsas, em sua maioria, da zona rural ou dos pequeninos núcleos de povoamento do interior. Há nas pessoas um sentimento paradoxal com relação à precipitação pluvial. A muitas parece excessiva. Ao contrário, tem havido falta dela. A falta de chuva, pelo menos nas áreas onde ela aparece com mais freqüência, tem trazido graves danos à agricultura, à pecuária, reduzindo as nascentes e os lençóis freáticos. Nas regiões onde tradicionalmente o clima é adverso, a exemplo do vale do Jequitinhonha, Noroeste e Nordeste de Minas, a chegada das chuvas é recebida como uma pródiga benção dos céus. Quantos nascidos naquelas paragens não se recordam das procissões de centenas de pessoas, conduzindo pedras na cabeça das margens de um pequeno riacho até a cruz colocada no ponto mais alto do povoado, entoando cânticos sagrados destinados a “chamar chuva”.

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