domingo, 27 de dezembro de 2009

Senha para amar em tempo de Natal IV

Época de Natal, falemos de amor. Anacleto era funcionário público no interior de Minas. Temperamento alegre e extrovertido, mas pirracento quando se tratava de política, pensava como o personagem de Machado de Assis que a "vida é uma ópera bufa com intervalos de música séria". Levava a maioria das situações na troça e fazia delas motivo para rir a bandeiras despregadas quando ele mesmo relatava a maioria dos casos em que se envolveu. Casou-se com Emerenciana, uma bonita professora da cidade, donzela recatada, portadora de virtudes e candidez das matronas do conservador mundo interior das Minas Gerais.

Senha para amar em tempo de Natal III

Nos primeiros anos o casamento transcorreu sem maiores incidentes, não obstante Meré – assim Emerenciana era chamada na intimidade – adverti-lo quanto aos desvios de conduta, prevenindo-o dos riscos em que incorreria e do inconveniente desconforto a que seria submetida pelo palavrório da vizinhança e das colegas da escola onde lecionava. O temperamento costuma ser uma cruz que cada um carrega. Umas mais leves, outras mais pesadas. A cruz de Anacleto era mista, conquanto a suportasse somente em assuntos leves. Melhor dizendo, levianos. Não resistiu aos encantos de Joana, empregada que servia em sua residência, e dos primeiros e distraídos esbarrões para sentir a turgidez de seus seios passou aos discretos beliscões até a bem urdida situação para o ato final da sedução.

Senha para amar em tempo de Natal III

Teve êxito nas primeiras aventuras até o dia em que Meré, terminadas as aulas mais cedo do que o habitual, regressa a casa e o apanha em plena libidinagem com a serviçal. Cada leitor será capaz de imaginar o que aconteceu no instante do flagrante e o sucedido após. A rigorosa Emerenciana puniu o transgressor com infindáveis períodos de silêncio e abstinência sexual, jamais permitindo pudesse ele tocá-la ou sequer dirigir-lhe a palavra. Em estado de total beligerância decidiu separar seu gineceu para evitar qualquer contato com o mandrião, instalando um tapume que a protegia do perigo de contatos mais íntimos se tangidos ambos pela irrefreável força da natureza. Ocorre que o amor tem segredos irrevelados. É uma espécie de divindade a quem todos gostariam de prestar permanente reverência, às vezes contentamento descontente, não raro ferida que dói sem doer, enfim, sentimento poderoso capaz de realizar os mais prodigiosos milagres.

Senha para amar em tempo de Natal IV

E tanto para Anacleto quanto para Emerenciana o reduzido universo interiorano lhes não permitia incursões heterodoxas. A ela, em especial. Ambos foram, pouco a pouco, sendo vencidos por Afrodite, mesmo afastados pela inconformidade e inflexível resistência de Meré ao ato desassisado do marido. Nosso herói cansado das noites indormidas pela lembrança do corpo jovem e esbelto da esposa a balouçar em seus pensamentos e agitar sua mente, resolve apanhar seu chinelo, atirando-o por sobre o tapume ao leito de Meré. Deu-se o milagre. Emerenciana apanha o seu e o lança em direção contrária. Foi a senha ansiosamente esperada para o reencontro, vivido na sofreguidão dos beijos e dos abraços saudosos. Continuaram não se falando. Muitas vezes depois os dois chinelos, a senha para amar, cruzaram no ar.

domingo, 20 de dezembro de 2009

A resposta da noiva - crônica a destempo I

O fato aconteceu pelos idos de 1960. Sua narração não penetra no amplo terreno da ficção ou da fantasia. Nos dias de hoje é improvável ocorra algo semelhante. Salvo se ainda existe alguma comunidade do tipo isolamento, refratária aos impulsos da modernidade que a tudo invade e, não raro, corrompe. A personagem dessa história é Margarida, uma moça tão bela quanto rebelde aos disciplinados padrões morais da pequena cidade em que vivia. Era filha de seu Euzébio, abastado fazendeiro. Para seu pai estavam vigentes os rigorosos códigos ancestrais de reparação, enquanto nossa heroína folgazava-se livremente com os rapazes de sua idade, mantendo disciplinado cuidado a fim de que, nem por sonho, chegasse até ele notícia de que houvera perdido a virgindade nos descontraídos derriços a que se entregava com desmedida libido. Nela justapunham-se beleza, coqueteria e insaciável apetite sexual, disputado com ardência pelos mancebos de sua idade. Um dia a casa caiu e pressionada pelo pai iracundo aponta Cláudio como principal autor do seu desvirginamento.

A resposta da noiva II

. O jovem indigitado, por sua vez, era filho de outro figurão da cidade, com vínculos políticos aos mandões do Estado e do município e igualmente possuidor de polpudas contas bancárias. Tal como seu Euzébio, o pai de Cláudio obedecia com rigor os mesmos códigos morais, pelo que reagiu mal-humorado à idéia do casamento proposto por aquele que deveria ser consogro. Entendia, e não sem certa razão, que seu filho não deveria esposar uma moça mal falada na cidade, cuja reentrâncias e intimidades já haviam sido freqüentadas por quase toda a rapaziada. Impossível admitir tal violação àquelas regras vigentes há tantos anos em sua família e na sociedade em que vivia. A ordem era resistir. Mas resistir como, se o pai de Margarida havia se entrincheirado na decisão de que Cláudio deveria reparar o mal feito, ou então passar pela punição reservada aos violadores do rigoroso código de honra familiar. Trocado em linguagem menos figurada, queria dizer, ou casa ou morre

A resposta da noiva III

O pai de Cláudio, de nome Anacleto, começou a dar tratos à bola a fim de encontrar uma saída para a involuntária enrascadela em que se meteu o filho. Cláudio lhe garantira que não fora o primeiro. Outros, antes dele, haviam percorrido os mesmos caminhos do prazer com a bela Margarida, que nem um pouco se pejava dos cochichos e mexericos de quarentonas despeitadas e invejosas. O esperto Anacleto resolveu procurar a moça, usando habilidoso estratagema de uma viagem a Belo Horizonte para as compras do enxoval e a oferta de recursos financeiros abundantes. Lograria convencê-la de que era mais conveniente obter um bom regalo em dinheiro a um casamento sem futuro. Margarida cedeu aos acenos da farta pecúnia, aceitando participar da impostura das bodas transferidas para Belo Horizonte. Seu pai desconhecia a cuidadosa e ardilosa conjura. No preciso momento em que o celebrante pergunta se aceitava Cláudio como seu legítimo esposo, um sonoro e retumbante "não" reboou pela nave da igreja. Atônito e perplexo, o severo pai de Margarida sequer reagiu. Apalpou o coldre. Estava vazio.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A rinocerontização do Brasil I

O título da crônica de hoje foi extraído da famosa peça de Eugène Ionesco, escritor romeno de notoriedade e fama por haver dado formas definitivas ao que se convencionou denominar "teatro do absurdo", em razão dos enredos para teatro por ele escritos e representados em todo o mundo. Foi todavia com a peça "Rinocerontes" haver Ionesco ganhado prestígio internacional que o conduziu à Academia Francesa e deu-lhe o título de "pai do teatro do absurdo". Na peça "Os rinocerontes" Ionesco descreve as cenas em uma pequena cidade aonde os habitantes vão, paulatinamente, sendo transformados em rinocerontes. O rinoceronte é o símbolo da conformidade. O personagem principal do drama cada vez mais se distancia de seus concidadãos pela luta desenvolvida contra o conformismo dos moradores, cuja passividade os conduz ao absurdo de considerarem os rinocerontes belos animais.

A rinocerontização do Brasil II

. E a natureza não os premiou com atributos de beleza. É uma crítica genial contra o estado de rinocerontização em que estão envolvidas muitas sociedades modernas, povoada de rinocerontes representados pela adesão consciente ou inconsciente à permuta do belo pelo feio, do culto pelo inculto, do lícito pelo ilícito, do justo pelo injusto, do moral pelo imoral, do correto pelo incorreto, enfim, a distorção a todos envolvendo a ponto de não ser mais possível ou até mesmo razoável a reação. Cada leitor encontrará em seu pequeno mundo crescente volume de rinocerontes expostos no dia-a-dia nas manchetes jornalísticas da corrupção no setor público, no aumento das tarifas e dos impostos, na constante ameaça figurada na lesão de seus direitos pelas concessionárias de serviços. Outros tantos rinocerontes passeiam pelas ruas à vista de todos, merecendo exclamações como aquelas da peça teatral do autor romeno: "Olhe os rinocerontes; veja como são belos".

A rinocerontização do Brasil III

". São a passividade e o conformismo sublimados a estágio de completo domínio das mentes e dos corações. Quando os habitantes da cidade ficcional de Ionesco já não têm forças mentais e morais para a reação e o confronto, o único morador resistente ao processo de contaminação pela resignação invencível torna-se personagem estranho ao ambiente local. É conduzido ao desespero e à exasperação, estado de alma ambos destituídos de forças para modificar as coisas. Com certeza cada qual já percebeu a rinocerontização do governo, em seus três estágios, transferindo à população os ônus de seu fracasso gerencial, oculto debaixo das potentes luzes da publicidade governamental, capaz de pela técnica transformar palavras ocas e vazias em realizações nunca vistas. A banalização da violência nas cidades, também estendida aos campos, torna-se repetitiva a ponto de se transformar também em enorme rinoceronte. A reação contra ela não passa do discurso de intenções proferido em arrepio aos cânones da língua, cuja agressão praticada por autoridades e quejandos é outro animal repugnante, cuja disformidade já adquiriu tonalidades de esteticamente suportável. Agora aparece o escândalo de Brasília.

A rinocerontização do Brasil IV

. O Brasil está se transformando num enorme rinoceronte. Todo início de ano a sociedade recebe insuportável carga de aumento de taxas e impostos de natureza variada, aceita com a naturalidade de pessoas totalmente conformadas e sem capacidade de reação. É algo semelhante ao crescente processo de rinocerontização, esgotando as reservas e as forças capazes de modificarem esse estado de coisas. Deixo a especulação solta a cada leitor para identificar quantos rinocerontes estão ao seu derredor. Com eles você tromba a cada passo, a cada novo dia, empecendo sua capacidade de reação e fazendo supor aos governos que a sociedade vive no melhor dos mundos, quando, em verdade, o fio invisível que conduz os acontecimentos em seus subterrâneos está a cada dia mais esgarçado e a ponto de rompimento. Será possível reagir contra esta mesmice que a aprisiona? O tempo é senhor da resposta.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Brasil: um país que envelhece . Você sabia?

O Brasil tem hoje cerca de 21 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Nos últimos dez anos, a proporção de idosos passou de 8,8% para 11,1% do total da população.
Em carta aos idosos, o Papa João Paulo II considerou a longevidade uma graça de Deus. Está coberto de razão e tanto mais feliz é a longevidade quando você acredita que pode mover o mundo com sua vontade.
O mais curioso é a população idosa, daqui a alguns anos, superará a de jovens dos 15 aos 29 anos.
Se tudo isto é muito bonito, com elke vem uma esteira de problemas, especialemente a questão previdenciária que é pouco levada a sério pelsos governos.
Nada mais bonito do que uma velhice digna e honrada.

A farsa do financiamento público nas eleições I

Seria como entronizar a imagem de São Jorge num bordel. Assim reagiu indignado um compadre meu do interior, traumatizado ante a recorrente proposta de Lula de gastar-se mais dinheiro público, arrancado da população em regime tributário escorchante, para compor falso quadro de pureza eleitoral, quando ele já está totalmente tisnado pela mais recorrente e deslavada corrupção. Quem repõe o tema em debate é o presidente da República, falando coisas depois de aprisionado em contradições para se livrar de declarações inoportunas sobre os episódios de Brasília. Homem atento a tudo o que se passa pelos rádios, televisões e jornais, o compadre autor da frase citada no alto do comentário de hoje desfila inumeráveis casos de uso indevido do dinheiro público em campanhas eleitorais, responsável pela denominada "representação de resultados" em que se transformaram as casas legislativas e sua conseqüente desaprovação popular. Para ele, o projeto destinado a regulamentar o financiamento público das campanhas nada mais é do que um vergonhoso biombo para ocultar o que, de resto, é conhecido de todos.

A farsa do financmento público nas eleições II

A cada nova eleição o jorro de dinheiro nas campanhas terminou por seu desvirtuamento definitivo. O Ministro Ayres Brito, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, assinala em seu voto no episódio do senador Azeredo que o chamado “caixa dois” é a origem de todos estes males. A sensibilidade popular o demonstrou nas pesquisas seu veemente repúdio a tal proposição presidencial. Por enquanto, agravados pelo nojento espetáculo de Brasília, sobem os índices de repúdio às casas legislativas. Argumentemos pelo absurdo. Aprovado o projeto e feita a alocação de recursos para os partidos disputantes, oferecer-se-á ao país a versão de um pleito imaculado, do qual os representantes eleitos emergiriam ostentando diploma de bom comportamento moral. Uma farsa com tonalidades cômicas e trágicas pelo desvio do dinheiro dos impostos, extorquidos da população pela infernal máquina arrecadadora do Estado para convalescer grotesca mistificação.

A farsa do financiamento público nas eleições III

Desde quando as resistências opostas à implantação do sistema distrital no Brasil superaram a batalha contra a moralidade, pelo qual se teria armado dispositivo capaz de combater com eficiência a corrupção eleitoral, quantos a cada nova eleição conquistam o mandato pelo uso imoderado da pecúnia, espalhando pelo Brasil o vírus dessa doença maldita que contamina impérios e as sociedades. No instante da transformação em lei das regras para financiamento de campanhas políticas, nenhum cidadão poderá mais argüir sua ilegitimidade. Aí então o desastre será mais evidente e a crença na superioridade do regime democrático e dos princípios republicanos passará à condição de letra morta, mero devaneio de nefelibatas. Recentes episódios desnudaram esta verdade inconsútil. Elegem-se bandidos para se locupletar nos cargos públicos. Jamais foram verdadeiros homens públicos, simples gatunos elevados às benesses dos mandatos e cargos públicos. As cenas de Brasília constrangem e causam asco.

A farsa do financiamento público nas eleições IV

Pobre Brasil, onde os piores exemplos partem de suas camadas superiores. Nunca antes neste país a corrupção atingiu níveis tão sórdidos e elevados, envolvendo altas autoridades, passando para os brasileiros a impressão de que vivemos em verdadeiro mar de lama. Uma pesquisa séria e profunda vai encontrar muitas causas e, dentre elas, ganha especial relevo a deficiência da educação, que prepara mal os cidadãos que, mais tarde, representarão o povo nos parlamentos. A cada momento aparecem fórmulas supostamente mágicas para debelar o mal, todas meros arranjos para adiar soluções eficientes e capazes de colocar termo a esta verdadeira mazorca moral em que se transforma o ambiente político e administrativo. O povo tem no próximo ano o instrumento para varrer da vida pública os desonestos, tal como Cristo expulsou a chicotadas os vendilhões do templo.

domingo, 29 de novembro de 2009

A decisão do Supremo e a liberdade de imprensa I

Minha geração e a anterior na velha Faculdade de Direito sempre se socorriam de Rui Barbosa em busca de inspiração para a construção de sólida formação jurídica. O grande brasileiro era o luzeiro guia de nossas vidas e para ele nos voltávamos sempre que algum direito estava colocado diante de perigo iminente. De quantos ensinamentos foram bebidos nas páginas imortais do notável tribuno e jurista, nos prélios estudantis e nas lutas pelas liberdades cívicas sempre ressumavam conceitos a respeito da liberdade de imprensa, a "rainha das liberdades" segundo Thomaz Jefferson, os olhos da nação, por intermédio dos quais ela fica sabendo o que se passa em seu redor, devassa aquilo que lhe ocultam, expõe ao pelourinho do julgamento popular os corruptos e corruptores. De todas as liberdades não há nenhuma mais conspícua e mais necessária. Se tais conceitos e definições ganharam foros de verdades definitivas, não menos verdadeiro é que a liberdade de imprensa no mundo vem sofrendo a agressão de aprendizes de tiranos, a pressão dos endinheirados e a intolerância dos liberticidas.

A decisão do Supremo e a liberdade de imprensa II

Abatem-se sobre ela as mais variadas tentativas de garroteamento, desde a força bruta até os blandiciosos acenos da pecúnia com os quais governos fracos e incompetentes tentam embair a opinião pública. Se as pressões econômicas e financeiras são desfiguradoras do verdadeiro papel da imprensa livre, não menos verdade é que o engajamento político-ideológico da mídia constitui nos dias de hoje espécie de câncer capaz de fragilizá-la até a morte. Nesses estamentos radicais concentra-se o grande perigo a ameaçá-la. Tanto à esquerda quanto à direita montam acampamento os verdadeiros inimigos da verdadeira liberdade de imprensa. Ambos se alimentam de preconceitos, nada mais nada menos de velhos ranços autoritários. Por paradoxal possa parecer, outorgam-se a condição de defensores da liberdade para poder mais facilmente esmagá-la. Não faz parte do cardápio dos tiranetes quando no exercício do poder permitir excesso de liberdade de imprensa, salvo quando ela se transforma em turibulária para o cantochão das louvaminhas.

A decisão do Supremo e a liberdade de imprensa III

Estas considerações são feitas a propósito do iluminado voto do Ministro Celso Melo no Supremo Tribunal Federal, colocando em termos definitivos a extensão do verdadeiro conceito de liberdade de imprensa. A publicação do acórdão colocou em evidência o absurdo referente à censura contra o jornal Estado de São Paulo, até hoje dependente de decisão judicial para publicar matérias cerceadas por decisão infeliz de um magistrado. Quando verdadeiros democratas, entendidos aqueles por convicção e formação, não por ocasião ou oportunismo político, são atingidos por abusos no exercício da verdadeira liberdade de imprensa, sua reação é assinalada pela tolerância e a crença na superioridade da verdade. O voto do Ministro Celso Melo enterra para sempre costumeiras tentativas de locupletação financeira pelo uso imoderado dos pedidos de indenização por eventuais manifestações da imprensa, pondo em termos exatos a amplitude do direito de criticar e informar, especialmente o de vigiar governos e autoridades.

A decisão do Supremo e a liberdade de imprensa IV

Os últimos acontecimentos desencadeados pelo artigo publicado na Folha de São Paulo, autoria do antigo ativista do PT César Benjamim contendo relato de coisas escabrosas em que esteve envolvido o atual presidente, preso político no mesmo cárcere do jornalista, mais os episódios gerados pelo escândalo do governo de Brasília, mostram a importância de uma imprensa séria gozando da mais ampla e responsável liberdade. Não existisse esta, tudo isso ficaria oculto aos olhos da opinião pública, agora advertida para o nível moral e ético das personagens, desnudadas aos olhos críticos dos eleitores que comparecerão às urnas no próximo ano. Governos com vocação caudilhesca e autoritária desamam a imprensa que não se submete aos seus caprichos e nem cede à tentação da pecúnia da publicidade.

domingo, 15 de novembro de 2009

Um conselho de Baltasar Gracián

"Faça qualquer conselho dado parecer uma lembrança de algo que eles apenas esqueceram, em vez de um guia para algo que não conseguem achar. As estrelas nos ensinam essa sutileza com hábil tato: embora sejam suas filhas e brilhem como ele, jamais rivalizam com o brilho do sol

Milton Campos e a intolerância na Universidade I

Quando apareceram as selvagens cenas da tentativa de estupro da aluna da Uniban, indicativas do reinado da intolerância e do regime fascista para onde vai caminhando o Brasil, aparelhado por radicais de esquerda, imediatamente me veio à lembrança a famosa aula inaugural que o Senador Milton Campos proferiu na Universidade Federal de Minas Gerais, a convite do reitor Aluísio Pimenta, no dia 1º de março de 1966, publicada sob o título “Em Louvor da tolerância”. Quem, como eu, teve oportunidade de ouvi-la, jamais esqueceu do saudável impacto que produziu nas consciências pela sabedoria de suas palavras e a profundidade com que analisou a missão da universidade. Vivíamos um tempo de enormes contradições, dois anos após a deflagração do movimento contra-revolucionário que derrotou o projeto marxista-leninista. Milton Campos não abandonou qualquer dos princípios que informavam sua formação liberal.

Milton Campos e a intelorância na Universidade II

Discursando como paraninfo dos formandos da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais em junho de 1953, o inesquecível estadista mineiro já assinalava o verdadeiro papel da universidade ao sentenciar que “ela não pode separar-se da civitas, da qual é elemento”, acentuando que “não se pensa em fazer do filósofo um estadista nem do estadista um filósofo”, mas indispensável fazer a “aproximação das duas missões que é a de elevar o homem e orientá-lo para a perfeição moral e para a paz”. Exatamente o contrário do que está fazendo a estranha Uniban permitindo que alunos se transformem em horda de bárbaros intolerantes. Na notável aula inaugural de 1966, Milton Campos retoma a mesma tese ao dizer que “o destino das universidades é de natureza intelectual e integra-se essencialmente nos domínios do espírito. Caíram os muros medievais dos jardins fechados, e a Universidade abriu-se, tornou-se praça e fórum: praça porque dá acesso a todos sem distinguir privilégios; fórum, porque quer ser um arejado centro onde se debatam as idéias”.

Milton Campos e a intolerância na Universidade III

Apelidando a tolerância de rainha da universidade, Milton sentencia que esta somente florescerá em clima de liberdade e disciplina do espírito. O episódio de São Bernardo do Campo elegeu a Uniban rainha da intolerância, onde viceja clima que dá estímulos perversos aos seus alunos para perseguir uma jovem de minissaia, aos gritos ululantes da súcia e voz de comando para estuprar e violentar. Naquela casa de ensino, onde deveriam prevalecer os princípios de uma sociedade livre, de idéias desarmadas e desprevenidas, edificou-se a casamata da radicalização, inimiga mortal da tolerância. O episódio é apenas sintoma superficial da grave crise que assola a educação no Brasil, elevada à condição de objeto publicitário do governo, que diz haver criado 14 universidades sem ter extirpado delas o vírus do radicalismo ideológico, posto a serviço das piores causas antidemocráticas

Milton Campos e a intolerância na Universidade IV

. O mau exemplo vem de cima, das direções comprometidas apenas com ganhos financeiros, permitindo que toda sorte de posições radicais medrem facilmente para ensejar espetáculo deprimente como o da Uniban. Para completar este quadro surrealista, universitários da Universidade de Brasília, escola pública, despiram-se completamente como demonstração de solidariedade à aluna da Uniban. O episódio é sintoma da doença que atinge a universidade brasileira, destituída de rumos e cativa do radicalismo ideológico, onde o conhecimento e a busca da verdade tornaram-se matérias sem importância. Prisioneira do mercantilismo vigente no ensino brasileiro, carente de bases que lhe é negada pela falência do ensino fundamental, estabelece-se círculo vicioso catastrófico para o desenvolvimento humano e material do Brasil. Republicar a conferência de Milton Campos, presentear o Presidente e o Ministro da Educação com um exemplar, quem sabe sua leitura os despertaria para o crime praticado todos os dias contra a juventude brasileira.

domingo, 8 de novembro de 2009

Ramalhete Místico - Alphonsus Guimaraens

AMOR-PERFEITO
Eu não sei por que asssim me batizaram,
Pois sou da terra e vivo sempre triste . . .
Amor do céu - porque não me chamaram?
Que amor-perfeito só no ceu existe.

OFERTA DO RAMALHETE
São pobres flores, são bem pobres flores !
Ai! como delas eu me compadeço . . .
Não têm perfumes e não têm fulgores;
Mas aceitai, embora sem louvores,
O ramalhete que vos ofereço!

Fernando Henrique, o Ganso do Capitólio I

Qualquer estudante de curso fundamental ou médio conhece o episódio da história romana dos “gansos do Capitólio”, quando o grasnar das aves delataram a presença de tropas celtas inimigas que ameaçavam tomar de assalto a colina do Capitólio. Seus gritos acordaram os soldados a tempo de preparar as defesas e repelir o ataque. Admiro o ex-presidente pela cultura e a postura como político. Podem fazer-lhe reparos, mas não se lhe negará o bom senso de conduzir o Plano Real de Itamar Franco com firmeza e de não se permitir a certo tipo de liberdade no palavrear ou atitudes de falta de compostura no exercício do poder. Seu artigo publicado nos jornais do país faz a vez dos “gansos do Capitólio”, pelas sérias advertências que contém e pela justeza das criticas que projeta sobre o mau uso do poder no Brasil, acostumando-se perigosamente com as “transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes”.

Fernando Henrique, o Ganso do Capitólio II

Se como governante FHC jamais viveu da “apoteose verbal” identificada em seu sucessor, verdadeiro animador de auditórios, está convocando a atenção dos brasileiros para o perigoso caminho que estamos trilhando ao “levar o país, devagarzinho, quase sem que se perceba, a se moldar a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre o Estado, economia e sociedade que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos”. Chama atenção para o que denomina de “pequenos assassinatos” do espírito democrático ao empurrar goela abaixo do Congresso mudanças apressadas na legislação do petróleo, cuja finalidade parece ser criar facilitário para “negócios da máquina pública”. Estranha o anúncio precipitado do vencedor da concorrência para a compra de aviões de combate, quando não havia terminado o processo de seleção pela Aeronáutica. Aumenta o assédio a uma empresa “que se não é totalmente privada, possui capital misto e é regida pelo estatuto próprio das empresas privadas”.

Fernando Henrique, o Ganso do Capitólio III

”. E segue em sua catilinária mostrando exemplos de atitudes e palavras que denotam sérios riscos para o sistema democrático, “onde se identifica o DNA do autoritarismo popular minando o espírito a democracia constitucional”. Revogam-se regras, informação, participação representação e deliberação consciente, essenciais ao regime democrático. Faz cotejo com o “autoritarismo militar” para assinalar que o atual não “põe ninguém na cadeia”. Verbera o fato da palavra presidencial conter, repetitivamente, “impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que se oponha aos seu estilo”. Segundo FHC, o Brasil precisa tomar sérios cuidados com a estratégia lulista de buscar o “poder sem limites”, uma espécie de subperonismo que conduzirá o Brasil a uma catastrófica república sindicalista. O prêmio concedido a Lula na Inglaterra, pago pelas empresas públicas do Brasil, é perfeito modelo deste napoleonismo caboclo que tudo atropela e corrompe para matar a República. FHC fixou claro roteiro para a oposição, que a tudo assiste sem tugir nem mugir. O remédio é evitar o continuísmo, a todo custo.

Fernando Henrique, o Ganso do Capitólio IV

. Há tantas provas do que afirma o ex-presidente que a recente viagem de Lula à Inglaterra põe em evidência uma das mais graves: a outorga do prêmio Chatan House 2009 ao presidente brasileiro, pago por empresas privadas (Bradesco, Itaú, HSBC, Santander) que se locupletam às expensas do erário e aqueles representantes do próprio governo, como a Petrobrás, Banco do Brasil, BNDES e outras menos conhecidas. Tudo isto destinado apenas ao culto da personalidade, pago por uma publicidade maciça e custosa que inunda os meios de comunicação de cá e de lá com rios de dólares. Nada desse exibicionismo custeado pelos impostos pago pelo povo esconde a grande verdade, que é a busca do poder absoluto a todo custo e a sustentação de fontes de poder além daquela legítima, que é a vontade do povo. O grotesco revide de Lula a FHC prova o quanto o ex-presidente acertou o alvo.

domingo, 1 de novembro de 2009

Recordando Pablo Neruda

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube que ias comigo,
até que as tuas raízes atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca, floresceram comigo.

O sermão eleitoral do Padre Francesco (crônica) I

Italiano de nascimento, seu nome era Francesco. Como apelido e por haver nascido na província de Veneza, nas proximidades do famoso e heróico Rio Piave, acrescentaram-lhe a alcunha de Del Piave. Recebendo ordens sacerdotais no seminário de Milão, Francesco Del Piave, dominado por grande sensibilidade social, sempre acalentou o sonho de poder prestar serviços religiosos e comunitários fora de seu país, em outras partes do mundo carentes de apostolado. O Brasil foi seu destino, mais precisamente o interior de Minas Gerais. Carregava um estigma na alma, marcado pelo assassinato de seu tio e protetor pelas Brigadas Vermelhas, razão de sua idiossincrasia pela política e pelo comunismo. Padre Francesco era um homenzarrão alto, espadaúdo, uma bela figura masculina. Quando vestia a sotaina preta ficava ainda maior garboso. Apesar de seu porte um pouco acima do normal para os padrões roceiros, sua voz era suave e sua face esbranquiçada emoldurava um sorriso franco e aberto, dando-lhe uma auréola de grande simpatia. A paróquia e a messe estavam desprovidas de operários desde muito tempo. Seu trabalho seria dobrado para trazer de volta ao aprisco as ovelhas desgarradas pela longa ausência do pastor. Impulsionado pela força da vocação religiosa e pela imensa capacidade de trabalho garantida pela mocidade, padre Francesco foi pouco a pouco reconquistando os fiéis para os ofícios religiosos

O sermão eleitoral do Padre Francesco (crônica) II

. Sua paróquia era de grande extensão territorial. Ajudado pelas espórtulas, a que somou algumas liras mandadas pela família italiana, o vigário comprou um gipão para percorrer semanalmente todas as capelas e igrejas dos povoados e dos distritos. Levava sempre sua boa palavra aos paroquianos. Não gostava de política. A ojeriza a esta atividade inibia-o em qualquer assunto envolvendo temas administrativos ou partidários. Mas a todo momento era tentado por essa coisa endemoninhada. Todos os partidos procuravam seduzir o jovem cura. A importância de seu apoio ou até mesmo uma palavra de simpatia estavam evidentes pelo prestígio que angariou em pouco tempo de missão sacerdotal. Em meio à vida espartana que levava, adquiriu o hábito de almoçar todos os domingos na casa do seu Juvêncio. Isto cimentou sólida amizade com seu anfitrião domingueiro. Dele e de dona Emerenciana tornou-se compadre, homenageado com o apadrinhamento do Juvencinho. Serviam-no capitosas doses de vinho.

O sermão eleitoral do Padre Francesco (crônica) III

O padre Francesco ficava a recordar de sua velha Itália, fugindo do assunto político nas conversas. Só abria uma exceção para o compadre Juvêncio, cujo nome era de quando em vez lembrado para candidato a prefeito de Serra das Trovoadas, ao qual advertia sempre para os riscos dessa atividade demoníaca. Política é destino e, mesmo sem o desejar, Juvêncio não teve alternativa senão aceitar a candidatura pelo Partido Social Cristão. O adjetivo "cristão" ajudava. Registrado com o número 20 e com razoáveis possibilidades de vitória, a candidatura do compadre Juvêncio representava para o clérigo o mesmo sofrimento e angústia que Jesus experimentou no deserto ao ser tentado por Satanás. Como deixar de solidarizar-se com o amigo que o amparou desde o primeiro momento em que chegou a Serra das Trovoadas, como conciliar sua aversão pela política com a candidatura do compadre, eram as questões que o atormentavam. Compadre Juvêncio colocou-o inteiramente à vontade na franca conversa que tiveram.

O sermão eleitoral do Padre Francesco (crônica) IV

Compadre Juvêncio colocou-o inteiramente à vontade na franca conversa que tiveram. Astutamente, despertou-lhe a atenção para o passado de militante comunista do candidato adversário. Atingira o calcanhar de Aquiles e criava o pretexto que lançaria o vigário na campanha. Pediu inspiração aos santos de sua devoção e na primeira missa que celebrou, logo no início da campanha, recomendou aos fiéis abrirem os missais no Salmo número 20. Na homilia falou por duas vezes no evangelho de Lucas, capítulo 20, versículo 20. Nas orações finais recomendou aos fiéis 20 pai-nossos e 20 ave-marias. Por toda as capelas e igrejas da paróquia repetia o refrão. 20 era o número mais constante da Bíblia e dos textos sagrados. Até nas parábolas o número 20 era modelo. Foi um bruaá danado entre os paroquianos. A notícia de que o padre apoiava Juvêncio se espalhou como fogo encosta acima. À noite persignava-se piedosamente pedindo perdão pela ousadia sacrílega, mas havia encontrado pelo resto da campanha a maneira mais sutil de dar uma mãozinha ao compadre Juvêncio para derrotar um comunista anticristão. Como antigamente era inteligente o modo de fazer política.

O sermão eleitoral do Padre Francesco (crônica) IV

Compadre Juvêncio colocou-o inteiramente à vontade na franca conversa que tiveram. Astutamente, despertou-lhe a atenção para o passado de militante comunista do candidato adversário. Atingira o calcanhar de Aquiles e criava o pretexto que lançaria o vigário na campanha. Pediu inspiração aos santos de sua devoção e na primeira missa que celebrou, logo no início da campanha, recomendou aos fiéis abrirem os missais no Salmo número 20. Na homilia falou por duas vezes no evangelho de Lucas, capítulo 20, versículo 20. Nas orações finais recomendou aos fiéis 20 pai-nossos e 20 ave-marias. Por toda as capelas e igrejas da paróquia repetia o refrão. 20 era o número mais constante da Bíblia e dos textos sagrados. Até nas parábolas o número 20 era modelo. Foi um bruaá danado entre os paroquianos. A notícia de que o padre apoiava Juvêncio se espalhou como fogo encosta acima. À noite persignava-se piedosamente pedindo perdão pela ousadia sacrílega, mas havia encontrado pelo resto da campanha a maneira mais sutil de dar uma mãozinha ao compadre Juvêncio para derrotar um comunista anticristão. Como antigamente era inteligente o modo de fazer política.

domingo, 25 de outubro de 2009

Um pouco de Castro Alves

Como faz bem à alma reler versos do imortal baiano!

O FANTASMA E A CANÇÃO
- Quem bate? - A noite é sombria!
- Quam bate? - É rijo o tufão!
- Não ouvis? a ventania
Ladra a lua como um cão.

- Quem bate? O nome que importa
- Chamo-me dor . . . abre a porta
- Chamo-me frio . . . abre o lar
Dá-me pão . . . chamo-me fome!
Necessidade é o meu nome!
- Mendigo! podes passar!

A inapagável ironia do tapete vermelho I

Nada mais patético do que a cena em que os empreiteiros da obra de transposição do Rio São Francisco e áulicos estenderam longo tapete vermelho na Vila do Junco, em Cabrobó, para saída do presidente da República do acampamento onde passara a noite em confortável suíte. A peça foi colocada para evitar pisasse o falante líder petista na poeira nordestina, aquela mesma que, segundo ele, esteve presente nos seus dias de infância pobre no estado de Pernambuco. Na pressa de receber aplausos ou subir ao palanque para mais um discurso sonoro, arrebatado e vazio, o chefe de Governo não foi devidamente alertado para o significado daquele tapete para seus adversários, erigido de agora em diante de símbolo da mais chocante ironia e prova da mistificação em que se transformam as viagens que lançam as eleições num vale tudo desajustado à verdadeira democracia.

A inapagável ironia do tapete vermelho II

A reação que já chegou ao Supremo Tribunal Federal e ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ambos profligando a antecipação da corrida eleitoral com os recursos do erário, põe o Brasil aos olhos do mundo como uma republiqueta africana, onde o que vale é a vontade do rei, pouco importam as leis. O mais instigante ainda é que o presidente anuncia em Belo Horizonte que as viagens vão prosseguir, tosca manifestação de zombaria e desrespeito à Justiça brasileira e às mais comezinhas regras do jogo democrático, que indica ao supremo dirigente do país o mínimo de respeito à regra constitucional da igualdade de todos, No Brasil e no atual governo, alguns são mais iguais do que outros, especialmente aqueles que freqüentam os festins governamentais e se fartam das verbas da custosa publicidade oficial.

A inapagável ironia do tapete vermelho III

Enquanto a guerra deflagrada no Rio de Janeiro despe a imagem do Cristo Redentor no Corcovado, vendida ao mundo para abençoar a escolha da bela cidade como sede das Olimpíadas em 2016, o presidente da República instala seus antecessores na presidência como membros de uma laia, palavra que Houaiss coloca como sempre usada em sentido pejorativo. Meteu no mesmo balaio Juscelino, Vargas, Rodrigues Alves e tantos outros que ajudaram a construir o Brasil, que o presidente da República, em sua incorrigível megalomania, pensa ter começado com ele. Todo este cenário começa a causar grande tristeza na população ao assistir impotente ao desbaratamento das instituições, às agressões à lei e à Constituição, ao deboche institucionalizado e a este triste espetáculo de fanfarronice governamental pago com o dinheiro do contribuinte. O puxa-saquismo que toldou a visão de Lula, ao fazê-lo desprevenidamente caminhar sobre o tapete vermelho, sem o desejar criou o símbolo que vai dominar a disputa eleitoral, especialmente pelo seu toque de farsa. O presidente da República tem sido hoje, sem dúvida, a figura mais usada nas charges humorísticas, carregadas de ironias. Jamais alguém o superou ou superará, pois de nada poderá fazer seu poder, incapaz de cercear a liberdade dos oprimidos na criação das caricaturas.

A inapagável ironia do apete vermelho IV

Abstenho-me de comentar a manifestação de parapatice do presidente Lula ao invocar a possibilidade de Cristo se unir a Judas caso viesse a governar o país. Ato falho do chefe do governo, atacado pela doença da verborréia ao dizer coisas sem qualquer significado, especialmente após opíparos almoços de que participa. Usando de seu habitual jargão, pode-se afirmar, sem medo de erro, que “nunca antes neste país” um presidente da República agrediu com tal desfaçatez e falta de cerimônia as regras fundamentais do regime republicano, que além de fundamentado no Estado de Direito tem normas de natureza ética e moral que são inafastáveis do que se convencionou caracterizar de República. Como ninguém reage, todos se acomodam, oposição e governo transacionam nos esconsos do Congresso pervertido, o presidente com sua verve de animador de auditório vai passeando pelo Brasil amparado pela impunidade quer lhe dão os tribunais. Cristo cuidará do Brasil.

domingo, 18 de outubro de 2009

Um pouco de poesia de Emílio Moura

FRAGMENTO

Fracos e desamparados somos nós.
O medo é nossa bússola.
Na praia deserta
plantamos nossa solidão e nos tornamos náufragos.
Para sempre.

A desmoralizante infidelidade I

O degradante espetáculo oferecido por partidos e políticos no encerramento do prazo de inscrições eleitorais, vem mais uma vez fazer prova de que vivemos num quadro de aberrante artificialismo político e partidário, onde prevalecem os apetites de poder em detrimento de qualquer sentimento ou valor ético. Para acentuar mais este triste sinal da decadência moral da atividade política no Brasil, continuam irrevogáveis os dispositivos legais, feitos letra morta na execução de manobras para saciar o apetite pantagruélico pelo poder e de vantagens pessoais ou grupais. Além da fundação de novas legendas, lembrança perdida das casas de cômodos dos velhos tratados de prostituição, as filiações de personalidades assíduas nos noticiários de jornais ou televisão mostram a nudez de preceitos e princípios que deveriam ser o fundamento de agremiações que pretendem disputar o poder em nome do povo. Nada disto. Um convescote de compadres em torno do fundo partidário e a criação do pacto de não reclamação da legenda pelo partido abandonado.

A desmoralizante infidelidade III

Foi instituída no Brasil a cortesia da ilegalidade, em que todos se articulam para impedir cumpra a justiça Eleitoral seu dever de devolver o mandato refugado ao partido do egresso, o que por lei lhe pertence. Há ainda outra sombra de negritude cobrindo este desmoralizante e sórdido espetáculo de infidelidade, a busca de pequenas legendas a troco de dinheiro, não raro desviado de obras públicas que diariamente sai do ralo da teimosa corrupção que avassala o país. O mais atemorizante é que ninguém pode atirar a primeira pedra, nem mesmo o PT que revogou para sempre seu discurso oposicionista e moralizante com que chegou ao poder. Estamos pagando por um grande pecado do regime implantado pela Revolução de 64, a infeliz e mal pensada decisão de erradicar as antigas legendas, cujas raízes tinham profundidade na alma e no coração dos brasileiros, apesar de suas naturais deficiências. Daí para frente e sem que as novas agremiações obtivessem consistência, inoculou-se nelas o vírus da infidelidade de que dá conta o triste cenário que envergonha o Brasil perante o mundo.

A desmoralizante infidelidade III

. A fidelidade a um partido, mesmo infrutífera, é uma virtude indispensável na política, assim proclamava Disraeli, o grande estadista inglês do século XVIII, ao ser induzido a uma mudança de quadro partidário diante da avassaladora derrota dos conservadores perante os liberais. Mangabeira deixou frase famosa de que “a democracia no Brasil é uma plantinha tenra”. Dita na segunda metade do século passado, pode hoje ser perfeitamente aplicada a continuar esta permanente desfaçatez dos políticos e dirigentes partidários, fazendo letra morta da lei e dos princípios cardeais do velho regime, que Churchill dizia ser o pior, salvo os outros. Todo este quadro de perversão institucional conduz invariavelmente a este deplorável estado de indigência a que o país foi relegado, acocorado diante de repetidas agressões que contra ele são praticadas. Ninguém reage, todos se acomodam e tudo vai de cambulhada para o abismo.

A desmoralizante infidelidade IV

Não há nação que resista ao interminável processo de apodrecimento de suas instituições, semelhante ao que ocorre no Brasil. Cessadas as referências balizadoras do comportamento dos cidadãos, ingressa-se no regime do vale-tudo e do salve-se quem puder. Na longa caminhada dos povos pela terra só subsistiram aqueles que seguiram velhos conselhos da prudência e da sabedoria, não esparramando espinhos pelo caminho quando a maioria anda descalça. O espetáculo circense oferecido pelo presidente durante a visita às obras de transposição das águas do Rio São Francisco, desafiando e agredindo a lei eleitoral, provou a tese que venho construindo de que, pela sua incrível capacidade de comunicar e mistificar, o presidente brasileiro é notável animador de auditórios, agora confirmado na cena burlesca da distribuição dos senhas para oferta de casas sorteadas. Só lhe faltam idéias.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

De um poema de Henrique Lisboa dedicado a Alphonsus de Guimaraens

Eu te abençôo,
poeta dos pensamentos últimos,
pela delicadeza do teu vôo
de pássaro ao crepúsculo. . .
Pelo evocar do sino que badala
às horas virginais da missa.
E amo-te, pela ternura com que calas
o enlevo e a timidez das primeiras carícias.

Pela paz que derramas sobre as almas,
pelas calmas
solidões em que além dos mundos meus,
tua lira dolente
estreleja e viceja.
Santo Alphonsus! Bendito e amado sejas
no coração dos homens e de Deus,
sobre a terra e na glória eternamente!

De um poema de

O caso Polanski e a força do direito I

Os antiamericanistas radicais não devem ter gostado da prisão na Suíça do cineasta Roman Polanski, autor de crime sórdido e repugnante ao estuprar uma menina de 13 anos, depois de drogá-la e embebedá-la com inaudita violência. Como nos Estados unidos ninguém está acima da lei, o famoso delinquente foi condenado, fugindo para a França, onde se homiziou. Passaram-se 32 anos quando o braço da Justiça o apanhou ao desembarcar para um festival de cinema. Sua prisão provocou protestos de outros personagens ligados à arte cinematográfica. O depoimento da vítima Samantha Gaylei foi horripilante e deixou desnuda perante o mundo civilizado a face torpe de um criminoso cruel e debochado, somente cultuado pelos destituídos de sensibilidade moral. O que vale assinalar no episódio é que, nos Estados Unidos, ninguém escapa da punição, seja de que origem for ou de que classe social possa pertencer.

O caso Polanski e a força do direito II

Morreu agora na prisão Susan Alkins, uma das autoras do famoso massacre que vitimou Sharon Tate, esposa de Polanski. Charles Mason, o principal responsável por toda aquela manifestação de loucura coletiva num festival de moderninhos da época, está apodrecendo na prisão. Depois de mais de três décadas fugindo e se escondendo, alcança Polanski o braço da Justiça norteamericana e ao ser extraditado da Suiça, com quem o estado americano mantém acordo, passará o restante de seus dias na cadeia. Os radicais antiamericanistas espalhados pelo mundo ainda não se deram conta de que a força e o poderio americano são resultantes de seu permanente acatamento à lei e ao direito. Mais do que da força das armas. Dominado por uma cultura calcada na ética religiosa cultivada pelo protestantismo, que em certos períodos de sua história ganhou foros de indesejado fundamentalismo, o povo americano oferece ao mundo o espetáculo diário de liberdade e crença nos valores superiores da civilização.

O caso Polanski e a força do direito III

Os níveis de riqueza alcançado durante períodos de abundância ou de depressão, jamais permitiram fosse a lei desmerecida ou desrespeitada no grande país do norte. Esta é a regra geral na sociedade americana. O cinismo dos signatários do pedido de liberdade para Polanski ao alegar que sua prisão ofende os princípios da liberdade de expressão, feita à véspera de um festival de cinema, clama aos céus. Deixá-lo passear sua impunidade pelo mundo, exibindo as cicatrizes de seu caráter e os estigmas do crime hediondo que praticou, isto sim, seria agressão aos mais comezinhos princípios da liberdade, que, felizmente, encontraram por parte da Justiça americana o resgate pela lei e a Justiça. Réu confesso, fez acordo não cumprido com a Justiça, dela se evadindo para ser agora apanhado em sua malha fina, que nos Estados Unidos tanto encarcera o gatuno Mendoff, que deu prejuízo de milhões aos compradores de ações na bolsa, quanto famosos jogadores de beisebol ou o autor de pequenos furtos. Fortes são as nações onde nada se sobrepõe ao Direito, à lei e à Justiça.

O caso Polanski e a força do direito IV

Aqui entre nós, e disto a opinião pública toma conhecimento diariamente, aplica-se à saciedade o dispositivo legal que prevê a redução progressiva da pena dos mais perigosos delinqüentes, que, tão logo deixam o regime carcerário, voltam sistematicamente à prática de crimes semelhantes aos que deram causa à sua prisão. Outro dispositivo antiquado é aquele que permite aos presos de bom comportamento a saída nos finais de semana. Sem maiores cuidados no exame dessas situações, quase sempre os jornais dão notícias de detentos que saem no usufruto deste dispositivo da lei brasileira, evadem-se e jamais voltam às prisões. Tome-se como modelo o caso do cirurgião Hosmany Ramos, que usufruiu desta vantagem e hoje passeia sua impunidade na Europa. O Brasil clama por modificações no seu sistema processual penal, que impeça a autores de crimes classificados como hediondos, respondam em liberdade e dela continuem gozando como o caso famoso do jornalista Pimenta Neves, condenado a 19 anos de cadeia e solto como um passarinho.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O famoso Capitão Pedro e o "violino". I

No dia em que a imprensa noticiou a inclusão da cidade de Governador Valadares como das mais violentas do Brasil, lembrei-me de imediato, com saudades, do famoso Capitão Pedro e sua história, cuja ação derrotou o banditismo nas regiões do Rio Doce, Mucuri e Jequitinhonha. Aparece em boa hora o livro de Klinger Sobreira de Almeida, com o sugestivo título de “Um certo delegado de capturas, o romance de um mito-herói”, que conta a saga daquele militar exemplarmente sério e cumpridor de seus deveres no exercício da dura missão de combater delinquentes. Ao tempo de minha atividade política, conheci e mantive boas e cordiais relações com o capitão Pedro. Se não por sua figura humana, igualmente pelo desejo de prestigiar-lhe a ação contra a propagação do crime de encomenda, não raro ligado a chefetes políticos.

O famoso Capitão Pedro e o "violino". II

. No cumprimento de sua missão, o Capitão Pedro era inflexível e nada o afastava do objetivo de apurar e prender criminosos ligados ao establishment político dominante. Em meu primeiro contato com ele ocorreu circunstância singular, que a leitura do livro do coronel Klinger reavivou em minha memória. Resolvi contá-la nesta crônica e o faço em homenagem ao personagem e ao autor do livro. Estudante de direito, trabalhava no gabinete do Chefe de Polícia Davidson Pimenta da Rocha. Chegaram graves e bem fundamentadas denúncias da existência de jogo aberto na cidade de Teófilo Otoni, sob o patrocínio e acobertamento da autoridade policial. Talvez por saber da existência de muitos de meus parentes residentes naquela cidade, Dr. Davidson atribuiu-me a missão de ir lá fazer apuração reservada.

O famoso Capitão Pedro e o "violino". III

Tomei o avião até Valadares, indo imediatamente à procura do já mitológico Capitão Pedro, que me aguardava. Recebeu-me com a habitual cortesia, apesar da fisionomia severa, em seu local de trabalho, em cujo cabide estava dependurado o famoso chapéu que se tornou marca indelével de sua figura. Dei-lhe conta de minha missão e as instruções para prosseguir viagem até o objetivo final, em conversa a que não faltaram algumas crônicas de sua já reconhecida capacidade como policial. Ligado à atividade musical de Belo Horizonte, chamou-me a atenção uma caixa de violino colocada ao lado de sua cadeira, de onde não mais despreguei os olhos mordido por natural curiosidade de encontrar, naquele gabinete de homens duros, instrumento sempre tocado por mãos suaves. Antes de me despedir, não resisti à tentação de perguntar: “Capitão Pedro, o senhor toca violino?”. Sem dizer palavra, apanhou a caixa atrás de sua cadeira, colocou-a sobre a mesa, abriu-a e, para minha surpresa, havia dentro uma metralhadora. Era atitude de vigilante prudência de quem estava sempre na mira da vindita dos bandidos que colocou na cadeia.

O famoso Capitão Pedro e o "violino" IV

Quanta saudade do Capitão Pedro têm os habitantes daquela região. Se vivo fosse o famoso militar, a cidade de Governador Valadares e a região não teriam vencido o triste e vergonhoso campeonato da violência. A verdade é que, ao tempo do Capitão Pedro e sua equipe, a bandidagem não tinha a liberdade de atuação de que hoje desfruta, mesmo levando em conta esforços do governo para prestigiar a ação policial. Não comporta este texto avaliação acerca das razões que justificam o crescente aumento da violência nas cidades maiores, entre as quais Valadares ganhou desagradável proeminência ao lado de Contagem. O fato é que a insegurança da população atingiu níveis insuportáveis. Muitos dizem que não há solução, enquanto massas empobrecidas e analfabetas prosseguirem em sua diáspora do meio rural em direção à periferia das cidades, fazendo do crime instrumento para saciar a fome. Apenas uma meia verdade, pois há casos no mundo (Nova York, Bogotá, por exemplo) em que os prefeitos criaram o programa tolerância zero, e, em pouco tempo, reduziram a criminalidade a ponto de tornarem essas cidades as mais seguras do planeta. Que voltem à cena os “capitães” Pedro.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Disraeli no outono da vida

"Vivi o bastante para aprender que o crepúsculo do amor tem seu esplendor e riqueza. Talvez haja, nas pessoas idosas, maior avidez de felicidade".

In A vida de Disraeli de André Maurois

Um poema de Lêdo Ivo

A ETERNIDADE PREMEDITADA

Isto será a eternidade:
um incessante subir de escadas.

E sempre estarás no começo da escadaria
muito embora todos os dias sejam degraus.

Deus, porque fizeste a eternidade?
Porque nos obriga a subir tantas escadas?

A marcha para a insensatez I

Participando deste conluio engendrado pelo governo venezuelano para favorecer um governante golpista e desmoralizado, o Brasil ingressa perigosamente no clube dos dirigentes bolivarianos autoritários. Nunca se viu na história da diplomacia mundial um país conceder menagem, em sua embaixada em outro país, a um natural dentro de seu próprio território para fazer comícios. O Brasil meteu-se numa camisa de onze varas e coloca-se ao lado dos piores modelos de diplomatas e tiranetes travestidos de democratas. Manuel Zelaya, com seu exótico e ridículo chapéu de boiadeiro, pilhado em flagrante no momento em que pretendia golpear a Constituição de Honduras, merecendo por isto a repulsa dos hondurenhos e a condenação dos tribunais, buscou solidariedade em Cuba, com Hugo Chavez, Evo Morales e Rafael Corrêa, e em Brasília tentar e obter o apoio do presidente Lula, na permissão para que o fugitivo da Justiça de sua terra se homiziasse na embaixada brasileira, cercado de um magote de desocupados e baderneiros.

A marcha para a insensatez III

. Para se ter uma idéia da enrascada em que se envolve o governo brasileiro, ele deve decidir sobre o expresso pedido do governo de Honduras para que seja o transgressor e delinquente entregue à Justiça local ou lhe conceda a condição de asilado, impedindo que use a embaixada como palanque político. Enreda-se mais a diplomacia nos arranjos e perfilhações ideológicas, dispondo o Brasil ao escárnio das nações civilizadas pela constrangedora atitude. A inviolabilidade da sede diplomática do Brasil em Tegucigalpa é algo consolidado nas normas diplomáticas de todo o mundo, razão porque o governo local não cometeria a imprudência de invadi-la.

A marcha para a insensatez III

. Enquanto as trombetas da publicidade oficial procuram lugar onde Lula possa esconder a cara ante o olhar crítico dos chefes de governo estrangeiros, reunidos em Nova York para a Assembleia Geral da ONU e a Conferência sobre o clima, milhares de hondurenhos se solidarizam com seu governo pela atitude firme de respeitar as decisões da Justiça, oferecendo ao golpista invasor a única saída: entregar-se para julgamento dos seus atos criminosos e atentatórios à Constituição de seu país ou asilar-se. Uma vergonha a trama de Lula, Chavez e Ortega, o trio de ouro da patuscada internacional. O Brasil deve rapidamente se livrar da camisa de onze varas em que se meteu, sobretudo porque jogou fora longo e sedimentado capital de boas articulações internacionais com seus vizinhos. A não ser que deseje continuar a marcha batida para a insensatez, repetida interna e externamente em suas intervenções, marcadas pelo carimbo ideológico e não pelo legítimo interesse nacional.

A marcha para a insensatez IV

. Os resultados para o Brasil desta irresponsável aventura, de ver rompida sua tradicional política internacional de não ingerência, de colocar-se no epicentro de um furacão político com o qual nada tinha a ver, de prestar reverência a Hugo Chavez e à sua desastrada política bolivariana que induz ao autoritarismo e à corrupção, não poderiam ser mais desastrosos. Ficamos mal situados no plano internacional ao agredir regras fundamentais da diplomacia, permitindo que o bufão hondurenho Zelaya transformasse nossa embaixada em Tegucigalpa em palanque para realizar comícios. E agora José, perguntou o poeta, a festa acabou, o povo não aplaudiu, a massa vaiou, a bomba estourou, o mundo debochou e o festeiro e viandante presidente dançou na exibição grotesca de sua megalomania. O “cara”, epíteto jocoso com que o brindou Obama, consolidou-se de vez para o mundo: é um cara de pau pelo desamor à verdade.

domingo, 20 de setembro de 2009

Os militares e o Evangelho de São Mateus IV

Qual a razão desta perseguição constante contra os militares, deste interminável espezinhamento, a ponto de negar-lhes recursos orçamentários para manutenção? A resposta está no grande número dos derrotados de 64 no comando do atual governo. Diz São Mateus (23, 12) que os “humilhados serão exaltados”. E Mt (23,24) aplica a vergasta nos fariseus que “filtram um mosquito e engolem um camelo”. O tempo carrega a verdade pela mão. Os frustrados pelo fracasso da guerra revolucionária desbaratada pelos militares em 1964, reagem hidrófobos a quaisquer tentativas, seja por que método for, de restabelecer a verdade histórica, tão deliberadamente distorcida e fraudada. Na guerra travada contra os guerrilheiros comunistas, hoje adotando sutil tática de mansamente ir dominando as mentes nas escolas e universidades, os militares encontraram pela frente não apenas idealistas, mas homens de armas na mão prontos para o que desse e viesse na busca de seus objetivos de dominação. Houve perdas de ambos os lados. Não se pode negar aos militares de ontem como os de hoje o profundo sentimento de honra e de brasilidade que os domina. Eis a diferença.

Os militares e o Evangelho de São Mateus I

A notícia de que os comandantes militares foram excluídos do palanque oficial no desfile do dia 7 de setembro por determinação do cerimonial da presidência da República, com ridículo propósito de impedir fotos do alegre chefe do governo brasileiro ao lado de oficiais fardados, levou-me a rever a cena para confirmar a estranha notícia. Não é de hoje que os militares vêm sendo vítimas de infamante campanha de desmoralização, urdida por esquerdistas revolucionários, até hoje ressentidos com a ação das Forças Armadas que impediu tomassem o poder no Brasil, evitando a cubanização ou stalinização do país. Para dar sustentação a esta constante mentira de certos setores da imprensa, por eles controlados, buscam argumentos nas inevitáveis violências praticadas por alguns militares mais afoitos em pleno curso da guerra que travaram contra sequestradores, terroristas e guerrilheiros aliciados entre a juventude por asseclas do PCB, assassinos brutais que matavam por ideologia, a mais cruel forma de se livrar do semelhante contrário à ideologia do matador.

Os militares e o Ev angelho de São Mateus II

Os próprios militares realizaram investigações para punir eventuais deslizes de conduta de seus soldados, sem, contudo até hoje, merecerem o reconhecimento por parte destes detratores inconformados com sua derrota. Muito mais grave do que a prática do ato descortês por parte dos donos do poder, foi a notícia de que as Forças Armadas, totalmente desarmadas, especialmente o Exército, viram-se obrigadas por falta de recursos a reduzir seu expediente de trabalho, diminuir a convocação de recrutas e colocar de lado práticas de treinamento responsáveis pela disciplina e rigor militar.

Os militares e o Evangelho de São Mateus III

. Cercado na América de governantes esquerdistas de nítida vocação autoritária, o Brasil assiste impassível aos desdobramentos da corrida armamentista de seus vizinhos aloprados, oferecendo como resposta a apalermada compra de 36 aviões de combate franceses, alguns helicópteros e quatro submarinos, que somente serão entregues daqui a uma dezena de anos. Uma falácia com odor de negociata. A força terrestre, dissuasória e capaz de ocupar e manter áreas ocupadas, esta está sem recursos para prover a alimentação e o soldo de seus soldados, sem armas e fardamento. Quando acontecem tragédias semelhantes às de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, para vigiar as fronteiras hoje entregues ao controle de ONGs estrangeiras e índios não aculturados, convocam prontamente os bravos soldados do Exército, da FAB e da Marinha para ajudar a população, ocupando os espaços deixados vazios pelo governo irresponsável e inconseqüente. A cada pesquisa qualitativa dos institutos de pesquisa, as Forças Armadas aparecem sempre e invariavelmente na liderança das instituições que gozam de maior prestígio e respeitabilidade perante a população.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O submarino francês nas águas do Jequitinhonha I

Não resisti. Volto ao velho tema, depois de ouvir pela televisão a fala roufenha do presidente, carregada da mais deslavada demagogia e mistificação, para incutir no povo a falsa ideia de salvação através de projeto, do qual sequer tem o mínimo conhecimento. Em matéria de desrespeito à população jamais vi ou ouvi coisa igual. O governo colocou em ação a poderosa máquina de propaganda oficial para empulhar a opinião pública, com frases e slogans preparados para dar a impressão de que o país estárá salvo. Para completar esta tragédia que se abate sobre o Brasil e que, desgraçadamente, pode não ter solução próxima, lança programa de reaparelhamento militar ao custo de 41 bilhões de reais, comprando submarinos, aviões e armas sofisticadas para combater inimigos imaginários e defender da cobiça internacional reservas de petróleo ocultas no fundo do mar e a região amazônica. Inimigos imaginários, sem rosto visível. E o acanhado soldo dos militares encarregados da defesa da pátria? O Brasil conhece sobejamente seus verdadeiros inimigos, os internos, representados pelo aparelhamento do Estado por partidos políticos e sindicatos, a corrupção em escala amazônica sugando os recursos arrecadados pela maior carga tributária do mundo. Estes conhecidos adversários do Brasil não são combatidos com aviões de caça ou submarinos. O combate contra eles deverá ser travado nas ruas, nos tribunais, na imprensa e, sobretudo, nas urnas de 2010, instrumento capaz de varrer da atividade política este magote de gatunos e dilapidadores de recursos públicos.

O submarino francês nas águas do Jequitinhonha I

Não resisti. Volto ao velho tema, depois de ouvir pela televisão a fala roufenha do presidente, carregada da mais deslavada demagogia e mistificação, para incutir no povo a falsa ideia de salvação através de projeto, do qual sequer tem o mínimo conhecimento. Em matéria de desrespeito à população jamais vi ou ouvi coisa igual. O governo colocou em ação a poderosa máquina de propaganda oficial para empulhar a opinião pública, com frases e slogans preparados para dar a impressão de que o país estárá salvo. Para completar esta tragédia que se abate sobre o Brasil e que, desgraçadamente, pode não ter solução próxima, lança programa de reaparelhamento militar ao custo de 41 bilhões de reais, comprando submarinos, aviões e armas sofisticadas para combater inimigos imaginários e defender da cobiça internacional reservas de petróleo ocultas no fundo do mar e a região amazônica. Inimigos imaginários, sem rosto visível. E o acanhado soldo dos militares encarregados da defesa da pátria? O Brasil conhece sobejamente seus verdadeiros inimigos, os internos, representados pelo aparelhamento do Estado por partidos políticos e sindicatos, a corrupção em escala amazônica sugando os recursos arrecadados pela maior carga tributária do mundo. Estes conhecidos adversários do Brasil não são combatidos com aviões de caça ou submarinos. O combate contra eles deverá ser travado nas ruas, nos tribunais, na imprensa e, sobretudo, nas urnas de 2010, instrumento capaz de varrer da atividade política este magote de gatunos e dilapidadores de recursos públicos.

O submarino francês nas águas do Jequitinhonha II

. A arrogância dos atuais detentores do poder no Brasil ultrapassa os limites do tolerável. Para se manterem no comando destas estruturas apodrecidas, valem-se de toda sorte de artimanhas e falcatruas, abusando das falsidades e mentiras para repetir os mestres especialistas nos métodos de dominação pela propaganda, dos quais são fidelíssimos seguidores, agora com a sofisticação dos mais modernos métodos de comunicação que a tecnologia lhes colocou nas mãos. O Brasil está em marcha batida para a completa insensatez. Dia 12 de setembro completaram-se 107 anos em que nasceu Juscelino Kubitschek na cidade de Diamantina, cidade festiva e musical que impregnou sua alma de alegria e convicções democráticas. Cultuado na memória do povo pela realização de governo dinâmico e empreendedor, nunca se valeu deste palavrório demagógico e descosturado da realidade que tem marcado as intervenções diárias e cansativas do presidente Lula, que, em sua imaginação megalomaníaca, às vezes se entrega a devaneios no impossível cotejo com JK.

O submarino francês nas águas do Jequitinhonha III

. Revoltado com tamanha pletora dos gastos em relação à pobreza da região do Vale do Jequitinhonha, o médico e sociólogo Domício Beltrão, andarilho por aquelas brenhas em pesquisas para sua tese de mestrado, ironicamente, sugeriu aos vereadores do Vale um passeio no rio Jequitinhonha a bordo do submarino francês, mergulhado em suas águas e areias brancas de ontem, hoje poluídas. Sua ironia soa como protesto contra a miséria ali imperante. A reação do médico Domício Beltrão reflete o estado de alma das populações da região do “rio das areias brancas”, que ele conhece profundamente por sua longa e atenta permanência na área. O que de mais grave existe nesta precipitação de nítido cunho eleitoral, em concentrar em torno de projeto faraônico de exploração das camadas profundas do Atlântico 40 bilhões de reais, é a justificativa de que o Brasil está à véspera de sua segunda independência. Frase típica de mitômano boquirroto, sustentado por custosa publicidade, paga com o dinheiro do contribuinte. Percorram as vielas das pobres cidades do setentrião e nordeste mineiro, caminhem pela ressequida zona rural, passem pelas portas dos desaparelhados hospitais e clínicas e compreenderão o porquê da revolta refletida na ironia do médico.

domingo, 30 de agosto de 2009

O centenário de Pio Canedo I

Em meio a este crescente processo de degradação das instituições parlamentares e demonização da atividade política, fez muito bem à alma e ao espírito o encontro de muitos militantes do antigo PSD para render tributo à memória e Pio Canedo, um de seus mais expressivos quadros, cujo centenário se comemorava. Como era natural, não faltaram comentários sobre as acentuadas diferenças entre os políticos daquela geração e aqueles que participam de maneira pouco decorosa desta atividade nos dias de hoje. E sempre me lembro da frase de João Mangabeira, no ensaio sobre Rui Barbosa, quando assinala que “a política é a mais nobre forma de servir à pátria”. De tanto assistir ao triunfo dos incompetentes e ver a ascensão dos moralmente comprometidos, como atualmente, João Mangabeira se vivo fosse modificaria sua célebre definição para acentuar que a política é a forma mais rápida de se locupletar à custa dos cofres públicos.

O centenário de Pio Canedo II

. Faço esta constatação com certa angústia, pois todos sentem desaparecer do panorama humano do poder público do Brasil homens da inteireza moral de Pio Canedo, cuja passagem pela política mineira foi sempre cercada de indesviável linha de comportamento cívico. Quando cheguei à Assembléia no ano de 1959, Pio Canedo, líder natural da bancada do PSD, recebeu-me como companheiro mais novo e inexperiente, cercando-me de todas as atenções como um bom mestre acompanha o aluno. Atuando na política municipal na região de Muriaé, onde os grupos litigantes algumas vezes, ou quase sempre, mantinham-se inflexíveis em suas posições radicalizadas, Pio Canedo sempre conservou a tranqüilidade e a segurança dos homens bem vocacionados. A presença dos varões da Zona da Mata na política de Minas sempre foi assinalada pela incoercível manifestação de pureza de sentimentos e probidade. Luiz Martins Soares, o Zito Soares, a quem Pio Canedo se ligou mais proximamente, Raul Soares, Bernardes e tantos outros que dignificaram a política mineira, escreveram as mais belas páginas de prestação de serviços e exemplos de lisura e comedimento.

O centenário de Pio Canedo III

. Pio Canedo, enquanto viveu, permaneceu fiel a estes princípios e tem a seu crédito tem o notável trabalho de pacificação da política mineira a partir da contra-revolução de 1964, quando o projeto político engendrado pelos militares previa a extinção dos partidos políticos e todo seu cortejo de insuficiências. Eleito vice-governador na chapa de Israel Pinheiro, Pio Canedo trabalhou em harmonia com o deputado udenista Guilherme Machado, consolidando conjunto de regras que deram ensejo à acomodação das correntes desavindas, permitindo a Israel realizar governo rico em realizações. Prudente, fiel à palavra empenhada, de boa formação humanista, Pio Canedo foi um político modelar. Na última segunda-feira, na Capela do Colégio Arnaldo, velhos companheiros do PSD se reuniram em orações pela alma do antigo líder, e não deixaram de elevar preces a Deus para que ilumine os políticos de hoje a seguirem exemplos da atuação pública e privada de Pio Canedo. Um homem e político de admiráveis virtudes.

sábado, 29 de agosto de 2009

Um poema de Ivan Junqueira

Os poetas, mesmo no mundo da fantasia e da emoção, são capazes de premunir e descrever coisas e fatos. Eis o seu poema "O PODER", do qual extraio algumas estrofes:

Eis o poder: seus palácios
hospedam reis e vassalos,
messalinas, pajens, glabros,
eunucos, aias, lacaios,
e até artistas e ratos
.............................................
O poder é assim: devasta,
corrompe, avilta, enxovalha,
do reles pároco ao papa,
e não há um só que escape
ao seu melífluo contágio.
..............................................
O poder é aquele pássaro
que te aguarda sob os galhos.
Tudo ele dá, perdulário.
De tí quer apenas a alma.
Por inteiro. Ou a retalho.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Um poema de Ivan Junqueira

Os poetas são capazes de premunir muitas coisas. Leiam algumas estrofes do poema de Ivan Junqueira "O Poder":

Eis o poder: seus palácios
hospedam reis e vassalos,
messalinas, pajens glabros,
eunucos, aias e lacaios,
e até artistas e ratos.
.......................................................
O poder é assim: devasta,
corrompe, avilta, enxovalha,
do reles pároco ao papa,
e não há um só que escape
ao seu melífluo contágio.
....................................................
Qualquer semelhança com o Brasil de hoje é mera coincidência.

domingo, 16 de agosto de 2009

Cidades intimidadas e amedrontadas I

Nas manchetes dos jornais não há mais espaço para outras notícias. Tudo se resume, diariamente, aos mesmos fatos: assalto, violência, assassinatos, gripe suína, crise no Senado, corrupção. Os bandidos estão fazendo as cidades e sua população de reféns. Impõem a seu talante o que as pessoas devem ou não devem fazer. Somente podem sair a determinadas horas do dia, só podem andar com os vidros de seus carros fechados, para evitar que um pivete atravesse a jugular do motorista com uma navalha ou caco de vidro cortante. Os pobres aposentados e doentes são vítimas de impiedosos arrastões, praticados por bandos de menores errabundos, no dia em que se aventuram a ir aos bancos para receber os minguados proventos de suas aposentadorias. Os dados apresentados pela própria autoridade policial, no caso a Polícia Militar – cuja disciplina, bravura e disposição de luta não são suficientes para dar-lhe a eficiência desejável no combate ao crime – demonstram o nível de perigo a que estão sujeitos os habitantes de Belo Horizonte e de outras cidades

Cidades intimidadas e amedrontadas II

. A Polícia Civil, desaparelhada, apesar das últimas melhorias materiais e funcionais, vivendo aperturas financeiras pela gradativa perda de poder aquisitivo de seus salários, mal armada e desmotivada, vive apenas da tradição de luta de seus homens, cuja boa vontade não compete com a bandidagem municiada com fuzis e metralhadoras de alto poder de fogo. Para tornar ainda mais dramático este quadro de falta de segurança, os bandidos possuem até uma pastoral, enquanto suas vítimas carecem de proteção e amparo do Estado. Textos curtos para opiniões de colaboradores de jornal não comportam estatísticas, mas tornou-se evidente que o número de homicídios no Brasil e em algumas cidades, inclusive mineiras, supera em muito a mortandade em áreas em permanente estado de beligerância pelo radicalismo político e religioso, ceifando vidas ante o olhar leniente da sociedade mundial. Tudo está à vista de todos. Concorrendo para agravar este quadro desalentador, uma legislação criminal antiquada e desajustada às necessidades alcançadas pela modernidade

Cidades intimidadas e amedrontadas III

Piorando ainda mais essa situação, o país está dominado pela pandemia da gripe suína, cujo combate se resume em troca de acusações de desídia e incompetência entre o poder público e a área hospitalar, inculpando-se mutuamente sobre as verdadeiras responsabilidades pelo avanço impiedoso da epidemia. Antes foi a vez da dengue, ainda matando e devastando áreas inteiras, cuja incidência está crescendo no Brasil e em Minas. Enquanto a população fica confinada em suas casas, transformadas em verdadeiros “bunkers” para se proteger dos assaltantes, com estilo de vida imposto pela bandidagem, o governo federal usa da briga senatorial para transformá-la em cortina de fumaça que encobre suas enormes falhas, distraindo a opinião pública com a divulgação da troca de desaforos entre parlamentares enquanto a caravana de malandros oficiais trafega impunemente na construção de suas vantagens e regalias. Vivendo entre cidades intimidadas e amedrontadas, a população dá sinais de cansaço e impaciência.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O nonagenário Rondon Pacheco I

O Papa João Paulo II, em outubro de 1999, dirigiu Carta aos Anciãos de todo o mundo, documento no qual expande as virtudes da inabalável fé que fez de seu pontificado dos mais frutuosos de todos os tempos. Diz num dos trechos que “cada idade possui a sua beleza e missão. Mas a idade avançada encontra na palavra de Deus grande consideração, a tal ponto que a longevidade é vista como sinal de benevolência divina”. Estou escrevendo estas palavras para comentar os noventa anos de Rondo Pacheco, reverenciado pelo governo de Minas com procedente justiça para exaltar o virtuoso e exemplar homem público. Se o Padre Vidigal fosse ainda vivo e reeditasse seu maravilhoso livro “No Horizonte da Imortalidade”, obra na qual retrata a vida e a obra de ilustres varões acima de 80 anos, nele daria lugar de destaque a Rondon Pacheco, em plena capacidade física e intelectual a esbanjar energias e vitalidade, ensejando a que se retire de sua vida irrepreensíveis exemplos para as novas gerações de políticos que alçam seus primeiros vôos nesta atividade, que João Mangabeira dizia ser “a mais nobre forma de servir à Pátria”.

O nonagenário Rondon Pacheco II

Saber envelhecer é a obra mestra da sensatez e uma das partes mais difíceis da grande arte de viver. Os avanços da genética modificam a cada novo dia o panorama humano do mundo, conquistas que ao eliminarem enfermidades e oferecer condições de vida favoráveis a homens e mulheres, permite-lhes avançar nos anos com segurança e crescente melhoria da qualidade de sua existência. As estatísticas estão aí a fazerem prova provada do crescente aumento das taxas de longevidade. Não se pode nos dias de hoje classificar um homem de noventa anos como velho. Idoso talvez, e mais precisamente será alguém que acabou de ingressar no outono da vida, comparado o biorritmo do homem com os ciclos da natureza a que pertence.

O nonagenário Rondon Pacheco III

. Falando especificamente sobre este nonagenário de Uberlândia, que passou por vários postos na vida pública com austeridade, probidade e recato próprios dos homens vocacionados para a política, sinto-me confortável em prestar este tributo a antigo adversário de meu velho PSD. Tenho grande respeito por ele e pela firmeza das posições que assume. Como governador muito fez. Como chefe da Casa Civil do presidente Costa e Silva cumpriu zelosamente seu dever. É também uma das vítimas da conspiração do silêncio urdida contra todos que apoiaram o contragolpe democrático de 64 contra o assalto ao poder pelos comunistas. Nada o perturba na serenidade do seu aprumo moral e recolhe hoje os louros dos triunfos que iluminaram sua vida. A sociedade moderna ainda não presta reverência e respeito aos cabelos brancos, aos velhos sábios e àqueles de quem Gregório Maranõn dizia serem “às artérias espessas, as que não se deixam sobressaltar ou sobressaltam o sangue que corre por elas, se devem as idéias matrizes do progresso humano”. Assim é a vida. Como dizia Milton Campos, envelhecer não é triste porque é natural.

O nonagenário Rondon Pacheco IV

O mesmo Gregório Marañon faz referência às artérias jovens, responsáveis pelos recordes olímpicos e campeonatos de resistência, modelos semelhantes ao oferecido ao mundo pelo brasileiro César Cielo, recordista mundial dos 50 metros nado livre, prova clássica da natação. Em declarações após o grande feito, o nadador assinalou que ainda não havia atingido a marca ideal, o que somente será possível com esforços inauditos de suas artérias jovens. Umas como outras são merecedoras de ser olhadas com admiração, mas nenhuma delas ganha em relevância e altitude como as artérias dos grandes anciãos que produziram para o mundo o que há de melhor em matéria de pensamento, técnica, e acima de tudo, o culto à liberdade, tesouro conservado pela humanidade contra a fúria dos tiranos.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Um soneto de Alphonsus de Guimaraens

A cada novo dia mais me deixo envolver pela poesia do bardo de Mariana. Ao ler, você me dará razão:
VISÃO DOS SOLITÁRIOS
Com a vasta escuridão do teu cabelo ensombras,
Se o destranças pelo ar, o próprio sol que bate
Nessa carne que tem a maciez das alfombras
Feitas de seda branca e veludo escarlate

Não seu quem és: atrais e ao mesmo tempo assombras.
Alguma coisa de astro o teu sorriso dá-te...
Errante multidão de espectros e de sombras
Ainda em redor de ti como para um combate.

Para quê, para quê tanta mágoa me deste?
Por que surgiste aqui, na minha noite espessa,
Tu, Rainha imortal de algum Sabá celeste?

Fantasma, és a mulher! Levanta-te, Anjo eterno!
Ergue-te mais, e mais! Como a tua cabeça
Pode tocar o Céu, se tens os pés no inferno?

domingo, 2 de agosto de 2009

CORRUPÇÃO, FEBRE SUINA, CRISE E DOM QUIXOTE

Para cumprir o prazeroso compromisso de produzir uma crônica jornalística todos os sábados, os acontecimentos que observamos diariamente são pouco inspiradores. A qualquer hora do dia, a notícia invariavelmente é a mesma: corrupção, gripe suína, com as quais são gastos preciosos minutos que poderiam ser empregados em coisas mais amenas e agradáveis. Maltratada a paciência dos nacionais, prossegue seu espancamento na cansativa descrição das atrapalhadas senatoriais, continuando o martírio com a interminável e enfadonha descrição do acidente que quase inutiliza o automobilista Felipe Massa. Para fugir ao tédio que tudo isto provoca, tenho por hábito incursionar diariamente nas obras completas de Machado de Assis, maneira prática de fugir das inevitáveis conclusões a que nos conduz esta paralisia que acomete os meios de comunicação do Brasil. Fora desta mesmice, apenas a obsessiva publicidade oficial na construção fantasiosa de um narcisismo doentio e inconseqüente, única maneira encontrada pelo oficialismo para obnubilar um pouco os efeitos que a crise, o desgoverno e as atrapalhadas governamentais causam na opinião pública e arranham a imagem do Brasil. Num dos volumes de crônicas do mais famoso e exuberante escritor brasileiro encontrei um folhetim datado de 24 de outubro de 1864. Provocou em mim profunda descrença com relação às coisas de nosso país. Diz Machado: “É uma santa coisa a democracia – não a democracia que faz viver os espertos, a democracia do papel e da palavra, - mas a democracia praticada honestamente, regularmente. Quando ela deixa de ser sentimento para ser simplesmente forma, quando deixa de ser idéia para ser simplesmente feitio, nunca será democracia, - será espertocracia, que é sempre o governo de todos os feitios e de todas as formas. A democracia sinceramente praticada, - tem os seus Gracos e os seus Franklins; quando degenera em outra coisa tem os seus Quixotes e os seus Panças, Quixotes no sentido da bravata, Panças no sentido do grotesco. Arreia-se a mula de um e o rocinante de outro. Cinco palmos de seda, meia dúzia de vivas, uma fila de tambores, - é quanto basta então para levar o povo atrás de um fanfarrão ao ataque de um moinho ou à defesa de uma donzela”. Foram palavras admiráveis como estas que levaram a escritora irlandesa Edna O’Brien a confessar na televisão sua paixão pelo escritor, desde o primeiro livro dele que teve oportunidade de ler. Projetadas para os dias de hoje, parecem ter sido escritas ontem, sobretudo quando é possível aplicar o neologismo espertocracia ao regime atual, igualmente deturpado pelos feitios e pelas formas, no ventre do qual medra o golpe, o crime organizado, o acesso ao pódio dos mais capazes de produzir o rombo mais brilhante e rendoso, premiados sempre com a larga impunidade. Ruflam os tambores da publicidade alimentando o narcisismo, metros de seda enfeitam os palanques eleitorais para ensejar às claques amestradas os vivas que alimentam a popularidade dos governantes, enquanto segue a procissão do povo inculto aclamando os Quixotes e os Panças do dia. O que mais impressiona nas palavras do grande escritor brasileiro e fundador da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente é a desagradável sensação de que o país, a nação, seus políticos e seu povo, não amadureceram, cometendo os mesmos erros, praticando os mesmos desatinos, escolhendo delegados despossuídos de melhor titulação para representá-los. Avançam os anos e a cada nova garimpagem pela história vamos encontrar exemplos de atitudes insensatas praticadas há séculos e reapresentadas agora com níveis de sofisticação e aperfeiçoamento em suas formas delituosas. Tudo muito triste e desalentador na constatação de que esses maus exemplos de comportamento espalham-se pelo país afora e irão contaminar a mocidade, que, mais que nunca, precisa de modelos de dignidade e patriotismo em que se espelhar.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Machado de Assis escreveu no dia 24/10/1864

A escritora irlandesa Edna O'Brien, visitando o Brasil, entrevistada pela televisão, disse que ficou apaixonada por Machado de Assis quando o leu pela primeira vez. Ela tem razão. Leiam o que o velho Bruxo do Cosme Velho escreveu há 145 anos e se existe alguma semelhança com o hoje em dia:
"É uma santa coisa a democracia - não a democracia que faz viver os espertos, a democracia do papel e da palavras, - mas a democracia praticada honestamente, regularmente. Quando ela deixa de ser sentimento para ser simplesmente forma, quando deixa de ser uma ideia para ser simplesmente feitio, nunca será democracia, - será espertocracia, que é sempre o governo de todos os feitios e de todas as formas".
E ainda na mesma crônica:
"A democracia, sinceramente praticada, - tem seus Gracos e os seus Franklins; quando degenera em outra coisa tem os seus Quixotes e os seus Panças, Quixotes no sentido da bravata, Panças no sentido do grotesco. Arreia-se então a mula de um e o rocinante de outro. Cinco palmos de seda, meia dúzia de vivas, uma fila de tambores, - é quanto basta então para levar o povo atrás de um fanfarrão ao ataque de um moinho ou à defesa de uma donzela".
Parece ou não o Brasil de hoje !!!!!

terça-feira, 28 de julho de 2009

A interrogação

Se no poema de Emílio Moura ele pergunta se são os barcos ou as ondas que dirigem seu barco, no Brasil todo mundo já sabe que o país não tem timoneiro e as ondas conduzem o barco para o desconhecido

Interrogação - Emílio Moura

Sozinho, sozinho, perdido na bruma.
Há vozes aflitas que sobem, que sobem.
Mas, sob a rajada ainda há barcos com velas
e há faróis que ninguém sabe de que terras são.

- Senhor, são os remos ou são as ondas o que dirige o meu barco?
Eu tenho as mãos cansadas
e o barco voa dentro da noite.

A impostura das obras inacabadas I

Na metade de 2005, há aproximadamente quatro anos, foi concluída a ponte sobre o rio Fanado, na cidade de Minas Novas. A obra tem 149 metros de extensão por 8,80 de largura, custou ao governo R$ 3.671.922,06, com altura suficiente para acolher as águas do rio com a previsível inundação decorrente da construção da usina hidrelétrica de Santa Rita, no rio Araçuaí, esta inexplicavelmente paralisada depois de iniciada no governo Newton Cardoso e até hoje objeto de inconclusos estudos. Esta ponte sobre o rio Fanado é o perfeito monumento à impostura do poder público e suas obras inacabadas. Situada na rodovia que liga Minas Novas a Virgem da Lapa, no mesmo traçado da estrada de terra feito pela prefeitura municipal na década de 40, depois obra delegada pelo governo federal, objeto desde o seu começo de suspeitíssimas ações de empreiteiros e construtoras, a ponte era indispensável à rodovia cujo asfaltamento está também paralisado na metade do trecho Minas Novas – Chapada do Norte.

A impostura das obras inacabadas II

Na metade de 2005, há aproximadamente quatro anos, foi concluída a ponte sobre o rio Fanado, na cidade de Minas Novas. A obra tem 149 metros de extensão por 8,80 de largura, custou ao governo R$ 3.671.922,06, com altura suficiente para acolher as águas do rio com a previsível inundação decorrente da construção da usina hidrelétrica de Santa Rita, no rio Araçuaí, esta inexplicavelmente paralisada depois de iniciada no governo Newton Cardoso e até hoje objeto de inconclusos estudos. Esta ponte sobre o rio Fanado é o perfeito monumento à impostura do poder público e suas obras inacabadas. Situada na rodovia que liga Minas Novas a Virgem da Lapa, no mesmo traçado da estrada de terra feito pela prefeitura municipal na década de 40, depois obra delegada pelo governo federal, objeto desde o seu começo de suspeitíssimas ações de empreiteiros e construtoras, a ponte era indispensável à rodovia cujo asfaltamento está também paralisado na metade do trecho Minas Novas – Chapada do Norte.

A impostura das obras inacabadas II

. O reduzido espaço jornalístico é insuficiente para relatar toda a história desta verdadeira obra de Santa Engrácia, entretanto o suficiente para demonstrar a verdadeira e inacreditável farsa em que se transformou este dramático pesadelo para a população da velha urbs, sacrificada em seu valioso patrimônio histórico pela passagem urbana de pesado tráfego, cuja alternativa deveria ser a ponte, depois de 4 anos de sua conclusão ainda com os acessos e cabeceiras interminados. De nada valeram os esforços do DER, do vice-governador Anastasia, do vice-presidente José Alencar, do próprio governador Aécio Neves que, segundo se informa, tratou pessoalmente do caso com o presidente da República, diante da desarrazoada e injustificada inflexibilidade do Ministério dos Transportes, através de seu famoso e controvertido DNIT, até o momento sem oferecer solução para conclusão dos acessos laterais da ponte, objeto de convênio com o DER estadual encerrado em dezembro de 2008.

A impostura das obras inacabadas III

. Os arrematantes da obra, a muito custo, cederam ao DER os direitos de construir os acessos e cabeceiras. Segundo o diretor, o órgão estadual disporia de recursos orçamentários para tanto. Terminada a vigência do convênio entre o DNIT e o governo mineiro, os acessos da ponte ficaram para as calendas, coisas inexplicáveis, em tudo semelhantes à maldição de Simão Pires da lenda portuguesa. O Ministro dos Transportes, segundo se propala, cuida apenas de sua candidatura ao governo de Amazonas. Não sabemos mais a quem apelar, pois o vice-presidente José Alencar, em tempo de exercício na presidência pela viagem do titular, deu ordem por escrito ao teimoso ministro que dela fez letra morta. O assunto está se transformando em verdadeiro deboche, distintivo e paradigma da patarata governamental quando anuncia pela opressiva publicidade oficial a realização de milhares de obras pelo Brasil afora. A simples ponte do Fanando ergue-se como monumento à fraude e à farsa governamentais e transmite aos cidadãos passantes a certeza de que estão abusando de sua boa fé.

A impostura das obras inacabadas IV

O argumento de que a imagem que se fixa na mente e no coração dos que contemplam a grosseira manifestação de descaso para com a população atinge o governo, não modifica o quadro de paralisia administrativa que afeta o governo da República, impondo ao Brasil pela força de uma publicidade custosa e massificante destinada a alimentar o narcisismo inconsequente e a falsa idéia de que o país é um imenso canteiro de obras. Este é o verdadeiro retrato do PAC, transformado em palanque eleitoral, embrulhado com cores falaciosas para enganar e opinião pública. Tudo isto sem os indispensáveis cuidados no controle dos gastos, em sua grande maioria definidos pelo Tribunal de Contas da União como superfaturados. Milhares de pontes sobre os rios Fanados, estradas e prédios inconclusos se espalham pelo Brasil, atestado definitivo da irresponsabilidade governamental.

domingo, 21 de junho de 2009

Como é agradável ler poesia

"Eu tenho um coração maior que o mundo;
Tú, formosa Marília, bem o sabes:
Um coração, e basta,
Onde tu mesma cabes."

Tomás Antônio Gonzaga a Marília de Dirceu

Para você jamais esquecer

"É possível iludir muitos homens por pouco tempo. . .
É possível iludir poucos homens por muito tempo. . .
É impossível iludir todos os homens por todo o tempo"

Chico das Goiabas, sua saúde e o FMI I

Fui visitar um amigo na Santa Casa. Antes de entrar, causou-me espécie a grande quantidade de pessoas ali aglomeradas, em sua maioria com aparência simples e sinais de expectativa de atendimento naquele hospital. Fui surpreendido por um cidadão, modestamente vestido, chamando-me pelo nome: Dr. Murilo, sou de Padre Paraíso e me lembro do senhor na casa de Bahiano. Fiz pequeno esforço de memória e logo reconheci o Chico das Goiabas, assim alcunhado pela magnífica qualidade das frutas que vendia na feira daquela cidade, trazidas de seu pequeno e bem cuidado sítio nas imediações da estrada Rio-Bahia. Percebi pelo trajes que usava estigmas de angústia e sofrimento e que a pobreza havia batido à sua porta. Indagado o que ali fazia, informou-me estar à espera de uma vaga para fazer cirurgia de próstata, depois de peregrinar sem sucesso pelos hospitais conveniados com o famoso SUS por mais de uma semana. Indaguei dele porque havia chegado àquela situação.

Chico das Goiabas, sua saúde e o FMI III

Disse que seu sítio fora invadido por desempregados do MST que estavam acampados na margem da rodovia e, depois de rapinarem o que havia de valor na casa onde morava, puseram fogo em sua bem cuidada plantação de goiabas e outras frutas que respondiam pelo seu sustento e de sua família. De nada serviram os apelos do Frei Natalino, sempre atento para o problema dos humildes, para que cessassem com a depredação sem objetivos. Depois desse incidente, fui jogado na vala comum dos desempregados e quase pedintes, situação a que não cheguei porque ainda tenho disposição para trabalhar e “pegar alguns bicos”. Mas estou nesta situação que o senhor está vendo, condenado a morrer se não conseguir a internação urgente para eliminar este traiçoeiro câncer que está me devastando. Estas palavras, ditas toscamente, indicavam o grau de padecimento de um lavrador que retirava da terra recursos para seu sustento, dela expulso pela brutalidade das invasões que ocorrem nas margens e imediações da rodovia e jogado nos desvãos da quase miséria.

Chico das Goiabas, sua saúde e o FMI III

Pediu-me ajuda para resolver o problema. Prometi-lhe colaboração e a certeza de conversar com o abnegado Manoel Hygino, secretário geral da Santa Casa, mesmo conhecedor das enormes dificuldades que se sobrepõem a qualquer tentativa de vencer a maré montante de doentes que chegam a Belo Horizonte, retrato sem retoques do abandono a que o governo federal relegou a saúde pública. Ao me despedir do Chico das Goiabas e ouvir dele as notícias de velhos amigos de Padre Paraíso, passou por nós uma enfermeira que comentava, em voz alta e com certo tom de revolta diante do quadro com que convivia diariamente, a informação de que o presidente Lula havia emprestado 10 bilhões de reais ao FMI. Sem saber bem o que significava o FMI, Chico das Goiabas simplesmente perguntou-me: não seria melhor aplicar este dinheirão para diminuir este sofrimento? Não pude responder a algo irrespondível.

Chico das Goiabas, sua saúde e o FMI IV

. Esta crônica é o retrato sem retoques do que ocorre às portas dos hospitais de todo o Brasil, com dramática intensidade em cidades desprovidas de recursos localizadas nas chamadas áreas pobres do país. O ir e vir das ambulâncias nas ruas das capitais, Belo Horizonte, por exemplo, tornou-se cena habitual no seu panorama urbano. Notas de jornais e cartas dos leitores dão conta do sofrimento atroz a que estão submetidos aqueles que veem em busca do socorro medico não encontrado nos locais onde vivem. Se os episódios ocorridos no Senado e na Câmara dos Deputados ganham inusitado prestígio e realce nos órgãos de comunicação, sua exagerada e espetaculosa divulgação acaba por ser cortina de fumaça para ocultar aos olhos da opinião pública o intenso drama exibido diariamente no desfilar do desvalidos da saúde em busca de socorro. O Brasil padece da grave doença do populismo e da demagogia. Está submetido a uma publicidade compressora que luta para impedir seu povo de ver e de raciocinar, fazendo-o vítima de falsos mitos na entronização e celebração da mentira contumaz.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Um soneto de Raul de Leoni destinado a todos que estão às portas do outono

"Quando fores sentindo que o fulgor
de teu ser se corrompe e a adolescência
do teu gênio desmaia e perde a cor
entre penumbras e deliquescência,

Faze a tua sagrada penitência,
fecha-te num silêncio superior,
mas não mostres a tua decadência
ao mundo que assistiu teu esplendor.

Foge de tudo para o teu nadir.
Poupa ao prazer dos homens o teu drama
Que é mesmo triste para os olhos ver

e assistir, sobre o mesmo panorama,
a alegria matinal subir
e a ronda dos crepúsculos descer."

terça-feira, 9 de junho de 2009

Uma estrofe de Emílio Moura

CANÇÃO

Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Romaria a Mariana e Ouro Preto I

Sexta-feira, dia 5 de junho, completaram-se 55 anos, 5 meses e 22 dias de quando o governador Juscelino Kubitschek deslocou seu governo até a cidade de Mariana para presidir a cerimônia de trasladação dos restos do poeta Alphonsus de Guimaraens para o mausoléu erigido em memória póstuma ao maior poeta simbolista brasileiro. Nascida destas inspirações foi a romaria cívico-literária que os membros da Academia Mineira de Letras fizeram a Mariana na data de ontem, para prestar homenagens ao seu patrono e manifestar sua devoção intelectual ao inspirado poeta. Cumpre-me neste texto tão somente realçar o significado da romaria à “cidade episcopal que dorme no seio branco das litanias”, que o acolheu no final de sua vida simples e modesta de funcionário público, cuja obra recebeu o reconhecimento somente após sua morte. Escolhido como patrono da Academia Mineira de Letras, tendo sido um dos seus fundadores, era de nosso dever prestar devoção à sua memória, e tivemos sorte de encontrar à frente da prefeitura daquela cidade um intelectual e político clarividente na pessoa de Roque Camello, também presidente da Academia Marianense de Letras.

Romaria a Mariana e Ouro Preto II

Autor de obra poética altamente qualificada, voltada para o permanente e o eterno, infelizmente os tempos modernos não se entregam ao seu culto com a constância exigida pelo significado literário de seu trabalho, que no dizer de Oswald de Andrade “honra não só uma geração como uma pátria”. Ao visitá-lo em julho de 1919, o poeta Mário de Andrade protestava contra a “escuridão” que envolvia Alphonsus, clamando pelos editores da época para que se transformassem em “bandeirantes para descobrir nas Minas Gerais essa mina de diamantes castiços e lapidados, tesouros que Alphonsus guarda junto de si”. Naquele já longínquo dia de 13 de dezembro de 1953, JK proferiu palavras que estão bem vivas na memória dos mineiros ao assinalar que em Mariana “floriu, em cores que jamais serão excedidas, a flor poética que algum dia poderia despontar no dorso destas montanhas severas”, cidade e poeta se compreendendo e se justapondo perfeitamente, “ela se abrindo para ele na simplicidade ingênua dos velhos solares, em cujas sacadas ‘na solidão de sua etérea calma’ a imaginação de Alphonsus vislumbrava o vulto de angélico duende que, entre o silêncio e a paz das suas preces, desaparecia ‘como o sonho de alguém que já morreu’”.

A romaria a Mariana e Ouro Preto III

”. Os acadêmicos de Minas Gerais voltaram aos cenários solenes e graves de Mariana e Ouro Preto para reverenciar um dos maiores vultos da poesia brasileira de todos os tempos e reafirmar seu compromisso com os valores fundamentais de nossa cultura. E aproveitaram a feliz oportunidade para testemunhar seu respeitoso apreço por Mariana e Ouro Preto, símbolos eternos de nossa vocação para a liberdade. Mariana foi eternizada nos versos tristes e melancólicos de seu vate, cujo sino gemia “em lúgubres responsos, pobre Alphonsus, pobre Alphonsus” e, agora, quando a Academia Mineira de Letras que ele fundou completa cem anos de fecunda existência, seus componentes veem a Mariana para ouvir o bimbalhar festivos de seus sinos proclamando em festivos responsos viva Alphonsus, viva Alphonsus na eternidade de seus versos e na força da emoção que despertam.

domingo, 31 de maio de 2009

O terceiro mandato e a natureza das coisas I

Somente aos sevandijas do poder, aos destituídos de qualquer virtude cívica, poder-se-á atribuir a indecente proposta de mais um mandato ao presidente da República. Além de sua configuração golpista, cheira ao imoral desejo de que continue a República a experimentar outra quadra de vida marcada por escândalos, corrupção, negocismo e o avacalhamento das instituições, que ganharam alguma consistência depois de longa maturação após o período militar. Desde a posse de Sarney em substituição a Tancredo, escolhido pelo Congresso conforme as regras do jogo, daí para frente o processo de substituição dos governantes nos diversos escalões do poder fez-se com absoluta normalidade, inclusive no caso do impedimento do presidente Collor e a natural ascensão do vice-presidente Itamar Franco.

O terceiro mandato e a natureza das coisas II

Não é menos verdade que o presidente Fernando Henrique ousou em demasia ao propor sua reeleição por mais um período, tolerada pelo seu uso disseminado por quase todos os países democráticos, não sem golpear os hábitos e costumes políticos pela desabrida e pouco decente busca de aderentes. Todas as vezes que as instituições são violentadas, não raro geram graves perturbações no organismo político das nações. Em 1964, e dos acontecimentos daquele período já se passaram 45 anos, a tentativa de sublevação institucional com a quebra da disciplina e hierarquia militares, a organização de grupos paramilitares para treinamento e incitação às guerrilhas urbanas e rurais, a pregação aberta do golpe por oradores marxistas e velhos aproveitadores das agitações por eles mesmo organizadas e dirigidas, acabaram por criar condições a que um militar colocasse suas tropas em aberta posição de enfrentamento ao governo, de que resultou o regime militar. Em tudo por tudo semelhante ao que ocorreu na Venezuela, onde um coronel com notória vocação caudilhesca assumiu o poder e se encastelou nele com propósitos de vitaliciedade.

O terceiro mandato e a natureza das coisas III

Se no Brasil, a escolha do primeiro presidente militar e sua substituição tivessem seguido o curso institucional natural, estaríamos poupados do longo período de arbítrio e do recrudescimento de ações da guerra revolucionária e sua natural reação. Quando do episódio da doença e afastamento do presidente Costa e Silva, rompeu-se novamente o quadro institucional ao ser impedido o vice-presidente Pedro Aleixo de assumir a presidência e dar sequência ao programa de abertura e consolidação das regras democráticas conduzido pelo presidente que adoeceu. Em discurso proferido no Senado Federal a propósito do incidente, Milton Campos relembra carta do todo poderoso Napoleão Bonaparte a Josefina, em que o Corso confessava: “Tenho um amo sem entranhas – é a natureza das coisas”. Relembro-o neste texto para que caia uma tempestade de bom senso entre aqueles defensores do terceiro mandato, evitando o clima de insegurança e instabilidade jurídica que tanto mal fazem ao país e que costuma criar soluções caprichosas e arbitrárias. Deixem fluir a natureza das coisas

O terceiro mandato e a natureza das coisas IV

. Há visível deterioração das instituições republicanas no país, diagnóstico fácil de ser feito ante a intensidade das notícias sobre corrupção nos altos escalões dos governos, em seus diversos níveis, da crescente e desafiadora violência urbana, do incontrolável desrespeito às normas legais como insumo da desordem que degenera em descontrole social. Se se somar a este quadro realista a tentativa esdrúxula de violar a Constituição para prorrogar mandatos ou criar a oportunidade para um novo ao atual presidente, estaremos nos avizinhando perigosamente do caos. O Brasil paga alto preço pela existência de eleições contaminadas pelo poder econômico, das quais resulta um magote de irresponsáveis adquirindo a representação popular para abastardá-la. Disse Amiel: “se cada um deixar de colocar seu tijolo na Bastilha, ficaremos poupados do trabalho de destruí-la”. A República é o império da lei.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Romaria a Mariana

No próximo dia 5 de junho, a Academia Mineira de Letras fará uma romaria a Mariana para homenagear a memória de Alphonsus de Guimaraens, seu patrono. João Alphonsus, seu filho, membro de nossa Academia escreveu estes versos em homenagem ao pai em 1919. Leiam e desfrutem de algo belíssimo:
Alphonsus

Corre em meu corpo o sangue de um asceta.
A pulsação de minha artéria tem
O ritmo da poesia deste poeta
Que me gerou cantando a dor e o bem

Passa em minha alma o espírito do esteta:
Meu sonho altivo e minha mágoa vêm
Da doçura do verso deste poeta
Que me educou cantando a dor e o bem

Alphonsus, sigo a estrada que me deste.
Meus versos, de tristeza ou de alegria,
De ti provieram para em mim nascer.

São a imagem dos sonhos que tiveste
Quando meu pobre ser ainda vivia
No espírito e na carne do teu ser.

domingo, 24 de maio de 2009

A tortura ideológica e a morte de Simonal I

Fui ver o filme-documentário “Ninguém conhece o duro que dei”, em que é narrada a história do sucesso e do calvário do cantor mais popular das décadas de 60/70, Wilson Simonal, vítima de intolerável e revoltante perseguição política que culminou com seu ostracismo e morte. O documentário, que recorda o extraordinário sucesso do artista, especialmente a cena em que comanda um coro de vozes de 30 mil pessoas no Maracanãnzinho, em impressionante demonstração de aceitação popular e artística e as consequências daí decorrentes, do aumento de seu prestígio e das graças da boa fortuna a gerarem despeitos e ódios enrustidos contra homem de cor negra e distanciado de esquemas ideológicos ou políticos, deve ser visto como testemunho incontrastável do quanto pode o terrorismo ideológico quando acionado sem peias e medidas.

A tortura ideológica e a morte de Simonal III

Vítima de malentendido transformado em intriga, Simonal cai na desgraça dos comandantes da esquerda ideológica daquele tempo, especialmente do jornal Pasquim, erigindo-o como alcaguete de militares contra militantes esquerdistas, sem demonstrar a existência de uma só vítima desse delito imperdoável praticado pelo cantor. Vendo o documentário, fazendo exercícios de memória, acatando como válidos e sérios os depoimentos de coetâneos do cantor, realmente só existe uma única razão para a ação terrorista de cunho ideológico praticado contra o artista, forte carga de despeito e a indisponibilidade de seu carisma para as patrulhas ideológicas que combatiam o regime militar. Quando perceberam não poder contar com Simonal para seus objetivos políticos, para os quais muitos artistas se deixaram envolver mesmo sem qualidades que os colocasse aos pés do grande Wilson Simonal, naquele tempo com prestígio popular nos mesmos níveis do de Roberto Carlos, decretaram a morte política e artística do crioulo que despertava infindas alegrias entre as multidões. Porque Simonal o escolhido e não Roberto Carlos, este também refratário ao uso de sua imagem para finalidades políticas?