NO CAMAROTE
. . .
"Feliz quem possa na ansiedade louca
Este bela mulher prender nos braços. . .
Beber o mel na rosa desta boca,
Beijar-lhe os pés . . . quando beijar-lhe os passos!
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Machado de Assis e a oposição
"Não há paraíso que valha o gosto da oposição".
Conselheiro Ayres, in Esaú e Jaco
Conselheiro Ayres, in Esaú e Jaco
A paz nas reflexões natalinas e ano novo I
Ninguém ainda conseguiu decifrar completamente o porquê todos são levados a penetrar num mundo de reflexões a cada aproximação dos últimos dias do ano que vai findar. Se na prosaica mudança de um para outro período do calendário gregoriano, as pessoas são levadas a encasularem-se em si mesmas em busca de respostas para a maioria das questões que as afligem, fácil será imaginar o quanto elas penetraram profundamente em suas reflexões na vigília do Natal e em meio ao pipocar de rojões e das girândolas coloridas iluminando a noite e do borbulhar dos vinhos e champagnes nas saudações do novo ano. Isso sem falar naqueles que, repetidamente, preferem o silêncio dos retiros ou se curvam respeitosos diante das imagens das catedrais, igrejas e campanários com o único propósito de elevarem seu espírito. Os favoráveis ao burburinho das ruas para a confraternização anônima, trocando saudações e sorrisos com desconhecidos, de alma leve e coração aberto envoltos na vestimenta imaculadamente branca, produzirão interessante fenômeno de comunicação global ao proferirem o novo nome da paz chamando-a de esperança.
A paz nas reflexões natalinas e ano novo II
. Quem permanecer ligado aos meios de comunicação perceberá na totalidade dos entrevistados, indagados sobre a mensagem que enviariam aos semelhantes e o seu mais ardente desejo, responderem a uma só voz, certamente subjugados ante o mistério do menino nascido na manjedoura: a paz. Nesta época do ano, parecem todos movidos pelo desejo de pronunciar a palavra sem artificialismo, brotada do fundo da consciência, reflexo de um desejo incontido e dominador. Mesmo aquelas pessoas articulando pensamentos leves têm sempre a palavra paz como fecho de seu principal anelo. O cientista social há de vislumbrar no fenômeno uma reação quase instintiva à disseminação da violência nas ruas, ao medo que começa a dominar os habitantes das grandes metrópoles submetidas ao império do crime organizado, assustados com a falência da autoridade. Os observadores políticos hão de retirar do episódio conclusões sobre a crescente demanda da população por níveis de qualidade de vida superior, de certa forma representando a superação de dificuldades massacrantes para as pessoas simples.
A paz nas reflexões natalinas e ano novo III
A paz há de vir como conseqüência de uma nova ordem de coisas, novas necessidades econômicas, uma ciência nova. Apesar dos óbices colocados pela ambição de mando e a busca desesperada pela acumulação de riquezas, ela imporá aos homens um estado de serenidade e sublimação, pela mesma forma que, no passado, suas próprias condições de vida e a pobreza os colocavam e os mantinham em permanente estado de beligerância. Nada mais simples do que retirar da cena do Cristo no berço pobre de Nazaré as inspirações para que todos possam se conduzir segundo os ensinamentos por ele deixados para a eternidade. Quando, em uníssono, todos falam em paz e formulam votos de felicidades aos semelhantes com verdadeira sinceridade de propósitos, não é lícito supor estejam pecando contra a virtude pela falsidade das intenções. A esperança abrasa os corações e a mente dos homens na caminhada indesviável para o futuro. Este não é uma fatalidade cega, está disponível à determinação dos homens de fazê-lo à sua imagem e semelhança. A paz há de vir como conseqüência de uma nova ordem de coisas, novas necessidades econômicas, uma ciência nova. Apesar dos óbices colocados pela ambição de mando e a busca desesperada pela acumulação de riquezas, ela imporá aos homens um estado de serenidade e sublimação, pela mesma forma que, no passado, suas próprias condições de vida e a pobreza os colocavam e os mantinham em permanente estado de beligerância. Nada mais simples do que retirar da cena do Cristo no berço pobre de Nazaré as inspirações para que todos possam se conduzir segundo os ensinamentos por ele deixados para a eternidade. Quando, em uníssono, todos falam em paz e formulam votos de felicidades aos semelhantes com verdadeira sinceridade de propósitos, não é lícito supor estejam pecando contra a virtude pela falsidade das intenções. A esperança abrasa os corações e a mente dos homens na caminhada indesviável para o futuro. Este não é uma fatalidade cega, está disponível à determinação dos homens de fazê-lo à sua imagem e semelhança.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Marco Aurelio - Pensamentos
"Faz que as tuas ações, palavras e pensamentos se coadunem com a idéia de que, dentro de um segundo, podes sair da vida". Livro II, 11
domingo, 21 de dezembro de 2008
Instituições em risco I
Véspera de Natal e Ano Novo não é um bom momento para manifestações pessimistas. Ao contrário, há tendência nos corações de encontrar convergências capazes de amenizar eventuais crises ou fracassos, de buscar motivações novas para o reencontro de alegrias perdidas. Este o sentimento dominante naqueles que têm obrigação de expor pontos de vista e formular conceitos em espaço de jornal, permanentemente em confronto com o dever de lealdade e franqueza com leitores. Se formulasse avaliações plangossianas sobre o quadro das instituições brasileiras, cantando loas à excelência delas ou ao seu perfeito funcionamento, não me causaria espanto se o leitor tivesse conceitos desprimorosos a respeito do autor. Não há como fugir às evidências. Estão à vista de todos. Quando o presidente da Câmara dos Deputados se recusa a cumprir ordem judicial unânime promanada de um tribunal superior, o diagnóstico é de doença grave na instituição parlamentar. Além da amostra nem sempre edificante do comportamento dos seus componentes, de que a bancada de Minas aparece como exceção com algumas ressalvas, o mau exemplo do presidente da instituição é indicativo de sua crescente desmoralização, preocupada em resguardar interesses corporativos em troca da dignidade institucional.
Instituições em alto risco II
. Mais chocante ainda foi o episódio que deslustrou a tradição do Tribunal Superior Eleitoral, ocorrido ontem em Brasília, quando dois de seus mais ilustres membros, depois de insólito bate-boca, abandonam o plenário em sinal de protesto e impedem a continuidade da sessão para concluir julgamentos. De certo, causa estranheza partir do mesmo colegiado ordem revogatória de decisão anterior tomada por unanimidade e sujeita a cancelamento diante de medida processual tipicamente protelatória. Enquanto isto, o Senado Federal aprova a criação de mais de sete mil cargos de vereador pelo Brasil afora, medida acintosa em face de anterior do mesmo TSE que os havia cancelado. Toda essa permissividade apenas para dar pasto à demagogia. Mas as enfermidades não constroem morada apenas nos corpos legislativo e no judiciário. Na Bahia e no conforto de hotel de luxo na Costa do Suape, chefes de poder (alguns não podem ser chamados de chefes de Estado) rasgam os tratados internacionais e as regras básicas da boa convivência entre nações para atender a imperativo ideológico e abrir portas no concerto de países democráticos para uma ditadura feroz e sanguinária com a de Cuba. Tudo isto realizado distante do povo e sob a batuta do nosso inefável presidente, cada dia mais popular e longe da realidade.
Instituições em risco III
. Um editorial de jornal sugeriu ao presidente um certo falar menos. Seria pedir a alguém para tentar aprisionar as águas das cataratas do Iguaçu numa torneira. Não há como conseguir este milagre de prudência em quem governa com palavras e percebeu que delas aprecia o povo. A verborragia de Lula não causa tantos danos quanto as agressões repetidas praticadas contra as instituições basilares do país por aqueles que têm a responsabilidade de zelar por elas. Muito mais grave do que o psitacismo de que padece o chefe do governo é a leniência e mesmo a conivência com que são tratados os casos de corrupção no governo. Não há qualquer condenação explícita por parte dos responsáveis e apesar do esforço que fazem a Polícia Federal e órgãos repressores nos Estados, a praga daninha da malversação segue sua contaminação até os mais longínquos rincões do país. Por erro notório em seu encaminhamento e sob dura condenação e reprimenda da opinião pública, a Câmara dos Deputados estancou a orgia da criação de quase oito mil cargos de vereador, uma inutilidade a ser paga pelo contribuinte, sobre cujos bolsos recairia o custo desta fancaria. Causa espanto a insensibilidade de alguns congressistas, atuando em confronto com o bom senso, a lógica e a manifestação popular, expressa claramente nos órgãos de comunicação.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Para os poderosos do dia leram na cama
O que é prudente na conduta de qualquer família particular dificilmente constituiria insensatez na conduta de um grande reino”.
Adam Smith
Adam Smith
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Recordando Alphonsus Guimaraens Filho
POEMA
Alphonsus Guimaraens Filho
A alma que nasce em nós quando nascemos
é a mesma que nasce em nós quando morremos?
E quando em nós tudo se esvai, se esquece,
quem sabe se um outro sol é que aparece?
Ah! o sol que nasce em nós quando nascemos,
que a todo instante temos, e não vemos,
será a luz de Deus, quando morremos?
E só então nós nos revelaremos
nos círculos mais fundos onde ardemos?
E só então, no escuro, nos veremos?
Alphonsus Guimaraens Filho
A alma que nasce em nós quando nascemos
é a mesma que nasce em nós quando morremos?
E quando em nós tudo se esvai, se esquece,
quem sabe se um outro sol é que aparece?
Ah! o sol que nasce em nós quando nascemos,
que a todo instante temos, e não vemos,
será a luz de Deus, quando morremos?
E só então nós nos revelaremos
nos círculos mais fundos onde ardemos?
E só então, no escuro, nos veremos?
A escalada descendente da ética I
O leitor de bom senso admitirá: o episódio de corrupção que atingiu o Tribunal de Justiça do Espírito Santo é indicativo de que a degradação da ética no Brasil, especialmente no setor público, está em escalada descendente. Como um câncer a devorar as entranhas da sociedade brasileira, seus sinais são expostos como carne podre no açougue das negociatas praticadas sob o manto da mais completa impunidade. Se ainda temos juízes no Brasil em quem se pode confiar, a exibição com feitio de escândalo da prisão de desembargadores envergonhou o Brasil e causou constrangimentos aos milhares de servidores da Justiça, em sua ampla maioria composta de pessoas decentes e honradas. Mas o sinal é de péssima qualidade, demonstrando que nem mesmo os órgãos judicantes estão protegidos contra a maré montante da permissividade moral que inunda o país, a começar pela cúpula do sistema político e administrativo. Tivesse havido punição para os mensaleiros federais e estaduais, pudessem a polícia e a Justiça desvencilharem-se das teias da burocracia dos códigos e das leis para apanhar criminosos em suas malhas, o exemplo seria suficientemente fecundo para desencorajar delinqüentes ousados e confiantes na omissão das autoridades.
A escalada descendente da ética II
. Lamentavelmente, tais expectativas parecem estar cada dia mais distante, diante da enfadonha repetição pelo Brasil de fatos como o da cidade de Vitória. E tudo acontece nas capitais como nas cidades do interior, contaminadas por esta praga da corrupção e do crime. Quem perdeu a confiança na lei e na Justiça terá toda razão de estar desalentado e pessimista. Se por um lado existem exemplos de coragem na aplicação da lei, como o Tribunal de Justiça de Minas na recusa do pagamento de décimo-terceiro salário a vereadores, uma estrovenga espalhada pelas câmaras municipais do país, por outro há a infeliz e desarrazoada aprovação pela Comissão de Justiça do Senado de dispositivo determinando o aumento do número de vereadores do Brasil em mais de sete mil vagas. O Presidente Ernesto Geisel prestou grandes serviços ao Brasil, especialmente na feitura do projeto de abertura gradual do regime que presidiu e de que foi um dos principais corifeus. Mas sobre seus ombros pesará sempre o ato infeliz e pouco inspirado que permitiu fossem restabelecidos os subsídios de vereadores, praga que assola os municípios brasileiros, transformando um cargo de relevante prestação de serviço público em objeto de transações pouco decentes, além de inocular o vírus da corrupção eleitoral na escolha dos edis, outrora sempre decididas pelo mérito de cada um.
A escalada descendente da ética III
. No Império e na Primeira República, o mandato de vereador ou de conselheiro municipal era prestação voluntária de serviço público, dando ensejo a que fossem sempre selecionados os melhores, o que, infelizmente, não tem acontecido desde o infortunado momento histórico da transformação do mandato de vereador em sinecura. Estou de acordo se alguém objetar que existem exceções espalhadas pelo Brasil afora. Elas existem apenas para confirmar a regra geral da crescente degradação das edilidades e de seus componentes. O dado mais grave e preocupante nesta infeliz decisão senatorial foi o ter tornado sem efeito anterior deliberação do Tribunal Superior Eleitoral, mandando suprimir aproximadamente nove mil vagas nas câmaras municipais. Pior ainda foi não ter restabelecido a tradição republicana de fazer do mandato de vereador uma ação voluntária, a que certamente dela se acercariam os cidadãos interessados em servir a comunidade e o povo, sem transformar o mandato, como acontece nos dias de hoje, numa verdadeira e rendosa sinecura. O caso do vereador da cidade de Patos de Minas que colocou os cargos de sua assessoria em concurso público, demonstra bem o quanto estas coisas se deterioraram no país. O velho Senado agiu contra o Brasil.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Soneto para o final de semana
ENVELHECER - Bastos Tigre
Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.
Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.
Não te seja a velhice enfermidade!
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!
Que a neve caia! o teu amor não mude!
Mantem-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.
Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.
Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.
Não te seja a velhice enfermidade!
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!
Que a neve caia! o teu amor não mude!
Mantem-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
O verdadeiro estadista
O VERDADEIRO ESTADISTA
* Murilo Badaró - Presidente da Academia Mineira de Letras
Abrindo esta crônica, recordo curioso episódio. O presidente Geisel ao assumir o poder, imediatamente demitiu o professor Osvaldo Quinsan, seu secretário particular, pelo inconveniente de ele haver dito à imprensa que “Medici pensa que é estadista somente porque vai a estádio”. Ir a estádios de futebol não faz de ninguém um verdadeiro homem de Estado e muito menos falar pelos cotovelos. Há dois episódios, definitivamente incorporados à crônica da política mineira, que dão a correta dimensão do verdadeiro estadista. Deles foi personagem Milton Campos. Atacado por um deputado udenista, em discurso na Assembléia Legislativa, ao tomar conhecimento da imprecação disse essa pérola de tolerância e espírito democrático: “falar mal do governo é tão bom que esse privilégio não deve caber somente à oposição”. O outro, fartamente conhecido, é aquele em que repele a sugestão do Chefe de Polícia para mandar a polícia reprimir uma greve de ferroviários em Divinópolis com a famosa afirmação : “é melhor mandar o pagador”.
O verdadeiro estadista deve ser provido das virtudes da temperança, da tolerância, da paciência, da humildade e possuir o sentido da história. Sem essas virtudes, aliadas à ousadia e a coragem, jamais será acolhido no panteão dos deuses que concedem o galardão da imortalidade. No Brasil de hoje, os petistas no poder têm se caracterizado pela agressiva intolerância às críticas. Em lugar de ouvi-las com paciência e lenidade, não raro investem contra aqueles que a praticam democraticamente. São taxados de insolentes por profligá-lo pela prática de equívocos no exercício do poder. Irritam-se com facilidade, procurando desqualificar o crítico com expressões, tal e quais, como superados, ultrapassados, vanguardeiros do atraso e outras qualificações que denotam serem presas de forte viés autoritário, marca registrada dos líderes do petismo nacional. Aqueles que têm militância política intensa, não possuem espírito mais tolerante e apurada vocação democrática. Também, não o são os tecnocratas auto-suficientes e pedantes que, acostumados ao canto chão da louvaminha dos bajuladores, entendem a crítica democrática como ato de agressão pessoal, a ela reagindo com iracúndia e aspereza. Como erram seguidamente, preservam-se nos enganos, aprisionados estão às suas quinquilharias e idiossincrasias pessoais. Não conseguem prever, para prover as soluções a tempo e a hora. Quase sempre, estão em vilegiatura. Se assim não fosse, teriam sido poupados do desprazer de assistir ao aparecimento da crise perfeitamente previsível e, portanto, erradicável nos instantes iniciais, trepados na popularidade do chefe e nos aplausos dos áulicos. Quem critica é reacionário. Chamam os que criticam de ultrapassados, segundo definem os líderes do petismo. Os que amam e praticam a liberdade estão no bom caminho, combatendo os excessos da demagogia publicitária, verberando o desemprego, atacando a alienação das empresas nacionais ao capital estrangeiro, criticando acerbamente os descaminhos do governo federal na compra de votos parlamentares. O Brasil padece do mal da arrogância autoritária e todos, mesmo sem o talento e o charme presidenciais, acabam sendo um arremedo de aprendiz de caudilho, marcados pela prepotência e falta de espírito democrático. O Brasil paga alto preço por não ter estadistas no seu comando.
* Murilo Badaró - Presidente da Academia Mineira de Letras
Abrindo esta crônica, recordo curioso episódio. O presidente Geisel ao assumir o poder, imediatamente demitiu o professor Osvaldo Quinsan, seu secretário particular, pelo inconveniente de ele haver dito à imprensa que “Medici pensa que é estadista somente porque vai a estádio”. Ir a estádios de futebol não faz de ninguém um verdadeiro homem de Estado e muito menos falar pelos cotovelos. Há dois episódios, definitivamente incorporados à crônica da política mineira, que dão a correta dimensão do verdadeiro estadista. Deles foi personagem Milton Campos. Atacado por um deputado udenista, em discurso na Assembléia Legislativa, ao tomar conhecimento da imprecação disse essa pérola de tolerância e espírito democrático: “falar mal do governo é tão bom que esse privilégio não deve caber somente à oposição”. O outro, fartamente conhecido, é aquele em que repele a sugestão do Chefe de Polícia para mandar a polícia reprimir uma greve de ferroviários em Divinópolis com a famosa afirmação : “é melhor mandar o pagador”.
O verdadeiro estadista deve ser provido das virtudes da temperança, da tolerância, da paciência, da humildade e possuir o sentido da história. Sem essas virtudes, aliadas à ousadia e a coragem, jamais será acolhido no panteão dos deuses que concedem o galardão da imortalidade. No Brasil de hoje, os petistas no poder têm se caracterizado pela agressiva intolerância às críticas. Em lugar de ouvi-las com paciência e lenidade, não raro investem contra aqueles que a praticam democraticamente. São taxados de insolentes por profligá-lo pela prática de equívocos no exercício do poder. Irritam-se com facilidade, procurando desqualificar o crítico com expressões, tal e quais, como superados, ultrapassados, vanguardeiros do atraso e outras qualificações que denotam serem presas de forte viés autoritário, marca registrada dos líderes do petismo nacional. Aqueles que têm militância política intensa, não possuem espírito mais tolerante e apurada vocação democrática. Também, não o são os tecnocratas auto-suficientes e pedantes que, acostumados ao canto chão da louvaminha dos bajuladores, entendem a crítica democrática como ato de agressão pessoal, a ela reagindo com iracúndia e aspereza. Como erram seguidamente, preservam-se nos enganos, aprisionados estão às suas quinquilharias e idiossincrasias pessoais. Não conseguem prever, para prover as soluções a tempo e a hora. Quase sempre, estão em vilegiatura. Se assim não fosse, teriam sido poupados do desprazer de assistir ao aparecimento da crise perfeitamente previsível e, portanto, erradicável nos instantes iniciais, trepados na popularidade do chefe e nos aplausos dos áulicos. Quem critica é reacionário. Chamam os que criticam de ultrapassados, segundo definem os líderes do petismo. Os que amam e praticam a liberdade estão no bom caminho, combatendo os excessos da demagogia publicitária, verberando o desemprego, atacando a alienação das empresas nacionais ao capital estrangeiro, criticando acerbamente os descaminhos do governo federal na compra de votos parlamentares. O Brasil padece do mal da arrogância autoritária e todos, mesmo sem o talento e o charme presidenciais, acabam sendo um arremedo de aprendiz de caudilho, marcados pela prepotência e falta de espírito democrático. O Brasil paga alto preço por não ter estadistas no seu comando.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Considerações elogiosas - pela transcrição
Recebo várias manifestações acerca dos textos que o jornal o Tempo publica aos sábados. Algumas em sentido contrário, nem sempre respeitosas. Esta que publico hoje pareceu-me oportuna:
"Parabenizo V.Sa. pela excelente "Revista da Academia Mineira de Letras", fruto de um trabalho sério, competente e de alto nível, que honra as tradições da cultura mineira. Aprecio, também, suas lúcidas crônicas e compartilho com sua visão acurada dos problemas que afligem a sociedade moderna. Vejo que seu ideário se justapôe ao dos maiores pensadores e escritores da nossa época. Apenas para citar dois exemplos, lembro a visão de Robert Kurz, em sua obra "Com todo vapor ao colapso", ao analisar as "reviravoltas, explosões, crises, decadências, esgotamentos e mudanças incontroláveis por todos os lados e em todos os âmbitos." Tudo isso está nos levando ao caos e ao colapso.
A atual crise econômica mundial tem suas raízes firmemente alicerçadas nas graves crises moral e ética por que passa a sociedade humana, nesta transição de séculos. Para finalizar e não roubar mais o seu precioso tempo, lembro que José Saramago também se mostra cético em relação ao futuro da humanidade. Em seu "Ensaio sobre a Cegueira", afirmou que "as pessoas conscientes do verdadeiro caráter do mundo sofrem por não ver sinais positivos de mudanças e pela sua própria impotência perante o desastre que se tornou a vida humana" e considera "a literatura a menos cega das expressões artísticas atuais". Portanto, parabéns, mais uma vez, pelo exemplar trabalho que vem fazendo à frente da nossa querida e augusta Academia Mineira de Letras.
Abraço fraterno e respeitoso do amigo e admirador,
Carlos Reinaldo - Lafayette - 01/12/08. "
"Parabenizo V.Sa. pela excelente "Revista da Academia Mineira de Letras", fruto de um trabalho sério, competente e de alto nível, que honra as tradições da cultura mineira. Aprecio, também, suas lúcidas crônicas e compartilho com sua visão acurada dos problemas que afligem a sociedade moderna. Vejo que seu ideário se justapôe ao dos maiores pensadores e escritores da nossa época. Apenas para citar dois exemplos, lembro a visão de Robert Kurz, em sua obra "Com todo vapor ao colapso", ao analisar as "reviravoltas, explosões, crises, decadências, esgotamentos e mudanças incontroláveis por todos os lados e em todos os âmbitos." Tudo isso está nos levando ao caos e ao colapso.
A atual crise econômica mundial tem suas raízes firmemente alicerçadas nas graves crises moral e ética por que passa a sociedade humana, nesta transição de séculos. Para finalizar e não roubar mais o seu precioso tempo, lembro que José Saramago também se mostra cético em relação ao futuro da humanidade. Em seu "Ensaio sobre a Cegueira", afirmou que "as pessoas conscientes do verdadeiro caráter do mundo sofrem por não ver sinais positivos de mudanças e pela sua própria impotência perante o desastre que se tornou a vida humana" e considera "a literatura a menos cega das expressões artísticas atuais". Portanto, parabéns, mais uma vez, pelo exemplar trabalho que vem fazendo à frente da nossa querida e augusta Academia Mineira de Letras.
Abraço fraterno e respeitoso do amigo e admirador,
Carlos Reinaldo - Lafayette - 01/12/08. "
domingo, 30 de novembro de 2008
A irresponsável semeadura de ventos I
Para dar pasto à sua irresistível vocação para a demagogia e o populismo, a Câmara dos Deputados aprovou projeto que estabelece critérios para cotas nas universidades e escolas técnicas federais, modelo perfeito da imprudente tentativa de estimular a divisão do país com base em preconceito racial. Nos países civilizados, todo o processo educacional tem um único fundamento: o mérito. Há variáveis, em que são atendidas situações especiais para superação de graves e eventuais circunstâncias. A simples observação dos critérios usados pelo presidente eleito Obama na escolha de sua equipe de governo, envia sinais do quanto o mérito é importante, identificado na supremacia de pessoas originárias das famosas universidades norte-americanas em lugar de ceder espaço para o aparelhamento do seu governo com a convocação de meros cabos eleitorais do Partido Democrata. Ao contrário do que se faz no Brasil de hoje, onde as convocações são feitas com o único propósito de aparelhar o Estado para o partido.
A irresponsável semeadura de ventos II
. O projeto aprovado na Câmara estimula de forma irresponsável a divisão do Brasil entre pessoas de cor, quando o objetivo é esforçar-se para redução das desigualdades, sejam elas de raça ou de posição econômico-social. Fixando critérios de coloração da pele como o único válido para entrada nas universidades, os ilustres parlamentares brasileiros enterram definitivamente o critério do mérito e da competência para formação dos quadros futuros da vida nacional. Há longo tempo vem caindo a qualidade do ensino no Brasil, seja no fundamental, no médio ou universitário. A cada novo teste que se processa em escala nacional, a educação vem decaindo, com reflexos intensos na estruturação da sociedade, hoje submetida a contemplar impotente o crescente domínio dos critérios do compadrio ou ideológicos para escolha de quadros administrativos e políticos. Há algumas exceções.
A irresponsável semeadura de ventos III
Enquanto o ensino básico vai de mal a pior pelo abandono a que está relegado, pela má formação de professores e sua baixa remuneração, pela péssima qualidade material das escolas, a desconstrução do ensino médio é o reflexo da queda de qualidade nas universidades, falhas em sua missão de preparar pedagogos para a relevante missão de ensinar. O projeto aprovado agride o bom senso e se coloca em desacordo com o pensamento majoritário da população, evidenciado nas pesquisas publicadas em que mais de 60 por cento das pessoas ouvidas, de variadas procedências raciais, econômicas e sociais, manifestaram-se em desacordo com o estabelecimento de cotas baseadas nos critérios raciais e econômicos. Outra rematada tolice foi dar privilégio de matrícula aos egressos de escolas públicas, hoje reconhecidamente de má qualidade, inteiramente colocadas pelo governo a serviço de ideologias antidemocráticas. Finalmente, muito mais do que pretender criar uma dicotomia racial entre os brasileiros, melhor seria estabelecer mecanismos capazes de reduzir as grandes desigualdades ainda existentes no Brasil. Estimulando a divisão pela via racial, os legisladores brasileiros estão apenas semeando ventos para colher tempestades em breve futuro. É só ter paciência e esperar.
A irresponsável semeadura de ventos IV
. Enquanto as chuvas despedaçam o que sobrou das escarpadas serras catarinenses, indicação precisa da justeza do que escrevi neste espaço da última semana, isto é, o despreparo das cidades brasileiras e a falta de planejamento urbano decorrente do gigantismo de algumas delas, as imagens proporcionadas pela tragédia são o retrato perfeito do quanto sofrem ao mais pobres habitantes dessas localidades. Escorraçados da área rural pelo abandono a que são relegados pelo governo, milhares de patrícios nossos migram para as cidades e se aboletam às margens dos morros e córregos, início das tormentas que se abate sobre eles em períodos de chuvas desreguladas. Seu sofrimento parece não ter fim.
domingo, 23 de novembro de 2008
Chuvas, pobreza e sofrimento no verão I
Os antigos diziam: “chuva não quebra ossos”. Em verdade, não são as chuvas que estão matando em Belo Horizonte e espalhando pânico por toda Minas Gerais e o Brasil. O que está sacrificando centenas de pessoas é a pobreza e a miséria, obrigadas a se amontoarem nas encostas e nas margens dos ribeirões e regatos poluídos na periferia das cidades, expulsas, em sua maioria, da zona rural ou dos pequeninos núcleos de povoamento do interior. Há nas pessoas um sentimento paradoxal com relação à precipitação pluvial. A muitas parece excessiva. Ao contrário, tem havido falta dela. A falta de chuva, pelo menos nas áreas onde ela aparece com mais freqüência, tem trazido graves danos à agricultura, à pecuária, reduzindo as nascentes e os lençóis freáticos. Nas regiões onde tradicionalmente o clima é adverso, a exemplo do vale do Jequitinhonha, Noroeste e Nordeste de Minas, a chegada das chuvas é recebida como uma pródiga benção dos céus. Quantos nascidos naquelas paragens não se recordam das procissões de centenas de pessoas, conduzindo pedras na cabeça das margens de um pequeno riacho até a cruz colocada no ponto mais alto do povoado, entoando cânticos sagrados destinados a “chamar chuva”.
Chuvas, pobreza e sofrimento no verão II
É preciso, pois, examinar a tragédia das grandes cidades sob outro prisma, sem maldizer essa verdadeira graça que vem das nuvens, encharcando a terra e molhando a semente intumescida que nos dará o pão e o fruto. O drama que se repete a cada ano é produto da falta de planejamento de nossas cidades, todas sofrendo a doença grave do inchaço pela chegada de ondas e ondas de migrantes expulsos da zona rural, em muitos casos pela falta de chuvas e também pela ausência de política agrícola, saúde e educação no campo. Escorraçados pela fome e a miséria, aboletam-se como podem nas encostas e nas margens dos córregos, perambulam pelas ruas à busca das migalhas e das sobras, enquanto mandam suas crianças esquálidas e andrajosas para despertarem a caridade e a comiseração dos que passam, arrecadando o mínimo com que conseguem mitigar a fome de cada dia. Quando chegam os meses pluviosos do fim do ano, somente as contritas orações desses pobres não são suficientes para deter a fúria destruidora das águas, que tudo destroem em sua passagem mortífera, levando os trastes que conseguiram ajuntar nos barracos de lona dependurados no morro.
Chuvas, pobreza e sofrimento no verão III
Em meio a toda essa dramática cena de mortos e desabrigados amontoados, os belos exemplos de solidariedade apresentados pelos bombeiros, policiais militares e homens do povo, não conseguem elidir a irresponsabilidade dos governos encarregados de resolverem tal tipo de problema, que se repete sazonalmente. Quem vive da terra, quem moureja na dura faina da agricultura, não maldiz a água que desce dos plúvios. Ao contrário, festeja-a como se saudasse a alvorada da própria vida. Mas para esses infelizes e deserdados que fugiram do campo pela falta dela, sem passado, sem presente e sem futuro, as águas do verão transformam-se a cada ano em sofrimento, dor e morte. O estigma que os acompanha é o de serem pobres em demasia, quase miseráveis. As chuvas retornam com seu poder destruidor nas grandes cidades onde não existem soluções urbanísticas capazes de detê-lo. Nas regiões do norte, Jequitinhonha e nordeste de Minas elas são festejadas pelo grande bem que fazem à terra, até então ressequida e com sinais de fragilidade em decorrência da estiagem prolongada. A imprensa fornece apenas a visão catastrófica do desastre nas áreas periféricas das grandes cidades ou até mesmo nas menores, esquecendo-se de detalhar com expressividade os incontáveis benefícios que as chuvas trazem para a agricultura e a produção. Bendigamos-las, pois elas são um regalo da natureza, que mesmo tão maltratada não se furta a nos socorrer quando em dificuldade.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Lançamento do livro "O País dos PeTralhas"
Fui assistir ao lançamento do livro do jornalista Reinaldo Azevedo, um dos mais conhecidos e conceituados jornalistas do Brasil graças ao seu eficiente "blog" na internet e eventuais artigos de fundo da revista Veja. Fiquei vivamente impressionado com a presença amplamente majoritária de pessoas jovens, de permeio com muitas mulheres. Grande parte do livro, de excelente qualidade gráfica e não menor densidade, já foi lido através de seu "blog". O inédito é da mesma qualidade. Antes dos autógrafos, Reinaldo Azevedo falou longamente sobre os problemas brasileiros, assinalando aqui e acolá o que lhe parece mais estapafúrdio e escandaloso. Um sucesso, contemplado com generosos aplausos. Em minha opinião, neste mar de pusilânimidade política que inunda o país, Reinaldo Azevedo é uma das poucas ilhas de coragem moral e sinceridade, exercidas com competência e certa dose de paixão, indispensável às grandes causas.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
O povo ao poder - Castro Alves
(. . . )
A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro da liberdade
Cria águias em seu calor.
( . . .)
A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro da liberdade
Cria águias em seu calor.
( . . .)
Brasil, país do futuro comprometido I
Há quase meio século, o escritor austríaco Stefan Zweig aqui exilado escreveu Brasil país do futuro, de exaltação ao país que o acolhera. O livro obteve intensa repercussão aqui e no exterior pelo belo hino que fazia de nossas maravilhas. Em natural assomo de civismo, começamos a indagar qual o futuro previsto pelo escritor em fuga do nazismo, se o porvir terá verdadeiramente chegado ou ainda falta muito tempo para atingi-lo completamente. Sem atitude negativista, forçosamente temos de concluir que as predições começam a sofrer constantes adiamentos, tais os fracassos e a conduta dos homens responsáveis pelos destinos da nacionalidade. Os números que os organismos internacionais, especialmente as Nações Unidas, apontam nesta quadra, são verdadeiramente estarrecedores. O Brasil apresenta um dos maiores índices de mortalidade infantil na América do Sul, com cerca de 23 óbitos por mil crianças nascidas antes de completarem um ano, sendo superado tão somente pelo Paraguai e a Bolívia, estes dois campeões do abandono das políticas materno-infantis, sempre vencidas pela miséria e o desgoverno. Se assim é no início da vida, também para seu ocaso o Brasil está vencendo o campeonato mundial da mortandade, sendo classificado pelas Nações Unidas como um dos líderes mundiais de assassinatos.
Brasil, país do futuro comprometido II
São assustadores os índices de criminalidade, de que não está livre a maioria das grandes cidades brasileiras. Mata-se mais gente por ano em nosso país do que as explosões de homens-bomba no Iraque, no Paquistão e no Afeganistão, o que nos coloca na triste posição de destaque no concerto tenebroso da indesejada das gentes. Pagamos juros de 2000 a 2007 de R$ 1,268 trilhão de reais de juros da dívida pública e empregamos na educação apenas R$ 149,9 bilhões. De cada 10 reais arrecadados pelo governo, numa política fiscalista exagerada, oito foram destinados ao pagamento de títulos da dívida. Enquanto estes dados negativos assustam e incomodam, começaram a aparecer as primeiras vítimas da dengue, cujo vetor não respeita o discurso palavroso do Ministro Temporão e continua dando suas picadas fatais ante a indiferença e incompetência governamentais. Este arrolamento de desastres merecerá do leitor retificações ou acréscimos na imensa listagem de problemas que continuam afetando a população, não obstante o discurso torrencial do presidente
Brasil, país do futuro comprometido III
. Se tudo isto é grave, mais danoso ainda é o comportamento do Congresso ao examinar o tema da reforma política, algo indispensável para impregnar de um mínimo de moralidade e seriedade a ação daqueles que buscam o sufrágio popular. Em lugar de cuidar da implantação de medidas que criem óbices ao abuso do dinheiro nas eleições, de criar o sistema de eleição por distrito como único antídoto contra a corrupção eleitoral, de estabelecer regras para financiamento de campanhas, impor em definitivo a fidelidade partidária, nossos ilustrados congressistas buscam tão somente criar uma “janela de infidelidade” que permita o imoral troca-troca de partidos. Um verdadeiro atentado à democracia, agravado agora com a teimosa desobediência da direção da Câmara dos Deputados em acatar a decisão judicial que determinou a perda de mandato de deputado infiel. O adiamento injustificado da reforma tributária e especialmente da reforma política (desta dependem todas as outras para o bem do país) é o anátema mais forte que se projeta sobre os homens públicos brasileiros. Se alguém de posse de sua plena capacidade intelectual imaginar poder vislumbrar o futuro previsto por Zweig, diante do quadro humano em plena desagregação que nos dirige, deverá estar sonhando ou passando por intensa alucinação. Não faltará quem dirá que nada disto tem importância, pois o Brasil acaba de conquistar o título mundial de o mais belo “bumbum” do mundo, com que Deus e a natureza prodigalizaram uma bonita gaúcha. Estamos todos salvos.
sábado, 15 de novembro de 2008
Marco Aurélio - Pensamentos -Livro VI, 17
Para cima, para baixo, circularmente, torvelinham os átomos. Mas o movimento da virtude não se insere em nenhum destes movimentos. É qualquer coisa de divino e por vereda difícil de conceber é que ela segue o seu caminho
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
A perigosa falência do ensino médico no Brasil I
O mundo inteiro reagiu com natural alegria e sensação de alívio à vitória de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. Depois de um consulado de oito anos do presidente Bush, assinalado pela tragédia de 11 de setembro de 2001 que estigmatizou seu governo e marcou com ferrete a alma dos americanos ao agredir a consciência livre do mundo, uma guerra inacabada no Iraque e outras investidas militares nos diversos quadrantes, o desejo de uma profunda mudança nos quadros humanos governamentais de Washington e a substituição de uma mentalidade belicista por acenos de paz e concórdia, o grande país do norte encontrou no jovem senador por Illinois o porta-bandeira para conduzir este processo que tem início sob os melhores augúrios. Enquanto jornais, rádios e televisões se entregam à euforia do momento, dedicando-lhe a quase totalidade de suas pautas, em nosso quintal vem a furo séria e grave denúncia ligada ao setor educacional
A perigosa falência do ensino médico no Brasil II
Convém antes recordar que um dos indicadores mais palpitantes do grande progresso dos EUA está localizado no primado, quer ontem e hoje, dado à educação de sua juventude. Ali estão implantadas as melhores universidades do mundo, os mais categorizados centros de pesquisa, os melhores pensadores nas diversas áreas do conhecimento, conduzindo a nação a uma indiscutível posição de liderança. Invoco este exemplo para comentar a notícia que ouvi sobre o alto percentual de estudantes de medicina reprovados nos exames, com sérias indicações de despreparo para o exercício da nobilitante profissão. Cerca de 80 por cento nas faculdades de medicinas particulares e cerca de 60 por cento nas públicas foram os índices de reprovação. Ao serem tornados públicos estes assustadores dados, a eles vinham agregados outros indicadores sobre o baixo nível de preparo dos acadêmicos de medicina, grande parte deles incapaz de identificar um paciente com tuberculose ou fazer um diagnóstico do mais simples dos males. A denúncia formulada pelo rádio por importante liderança médica de São Paulo, membro de prestigiosa entidade, estarreceu quantos a ouviram, cheios de natural preocupação com a catástrofe que se avizinha no quadro da saúde pública brasileira.
A perigosa falência do ensino médico no Brasil III
É claro que estas informações divulgadas pelos meios de comunicação, que gozam de reputação pela seriedade com que se conduzem, carecem ainda de mais detalhada apuração. Ocorre que a firmeza e convicção com que foram trazidas a público são indicativas de sua veracidade, pois se justapõem ao quadro de decadência do ensino particular e público no Brasil, cujo governo permite a proliferação de faculdades de medicina e quejandos em lugares onde não existe o mínimo de condições pedagógicas para sua sustentação. Além da improvisação de professores, a inexistência de hospitais destinados ao tratamento prático dos docentes acaba por transformar o diploma apenas numa gazua para proporcionar a chance de um bom emprego público e o aumento do sofrimento em milhares de desafortunados. Os sorrisos pela vitória de Obama e da democracia cederam lugar ao cenho triste pela péssima notícia sobre a educação médica no Brasil. Foi a antevisão da catástrofe.
A perigosa falência do ensino médico no Brasil IV
Os números apresentados pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo não deixam dúvidas. Dos 679 alunos do último ano de graduação das faculdades públicas e privadas, que prestaram exame de habilitação profissional (semelhante ao exame da OAB para advogados), 61% não conseguiram passar da primeira fase, pois não provaram ter conhecimentos mínimos nas áreas de pediatria, ginecologia, obstetrícia, clínica médica e cirúrgica. Este quadro identificado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo, com toda exatidão, deve ser o mesmo encontradiço nos demais Estados, onde faculdades de medicina são criadas sem o menor cuidado e observação das condições mínimas exigidas para seu funcionamento. Que Deus tenha pena do Brasil e de seus doentes.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
A vitória de Obama e a expressiva lição da América
Os americanos acabam de dar ao mundo a expressiva lição do quanto vale a democracia. Foi um duro recado a todas as vocações de tiranos existentes no mundo. E para aqueles que pensaram na derrocada da América nestas eleições, aí vão as palavras iniciais do discurso do novo presidente dos Estadis Unidos:
"Se há pessoas lá fora que ainda têm dúvidas de que a América é o lugar onde as coisas são possíveis, que duvidam que os sonhos dos nossos fundadores ainda estão vivos, se ainda questionam o poder da nossa democracia, esta noite, elas tem a sua resposta". Assim Barack Obama abriu o seu discurso da vitória.
"Se há pessoas lá fora que ainda têm dúvidas de que a América é o lugar onde as coisas são possíveis, que duvidam que os sonhos dos nossos fundadores ainda estão vivos, se ainda questionam o poder da nossa democracia, esta noite, elas tem a sua resposta". Assim Barack Obama abriu o seu discurso da vitória.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Comentários ao blog sob anonimato
Tenho recebido comentários diversos sobre matérias constantes deste blog. É necessário, entretanto, advertir que aqueles ocultos sob a capa do anonimato não serão levados em consideração. Quando devidamente assinados, terão resposta adequada os lavrados em termos civilizados. Sou grato aos que me honram com suas apreciações, tanto críticas quanto elogiosas.
domingo, 2 de novembro de 2008
A hora e a vez de Minas Gerais I
Jânio Quadros, o presidente fujão, assumiu o governo no dia 31 de janeiro de 1961. Quando raiar o sol no dia primeiro de janeiro de 2009, completar-se-ão 47 anos e 11 meses da ausência de Minas Gerais do comando do Brasil, tirante o período em que Itamar Franco governou a República com zelo, seriedade e probidade, marcas de seu comportamento na vida pública. Mesmo nesse curto espaço de tempo, os cordéis que acionam a máquina governamental estiveram em mãos paulistas ou de alguém fundamente vinculado aos interesses do grande Estado, orgulho de todos os brasileiros pela sua pujança e patriotismo. Força do determinismo sócio-político-econômico. De Juscelino até nossos dias, o poder está ali fortemente concentrado. Entenda-se poder em todos os matizes. Assumiram os paulistas o comando e a formulação do pensamento sociológico, econômico, científico e sociológico no Brasil, graças à modernidade de suas universidades e do avanço das pesquisas. Por natural efeito gravitacional, para lá foram os grandes bancos, as grandes corporações e empresas, os quadros humanos mais bem formados, tudo isto gerando inevitável conseqüência: o deslocamento e concentração do eixo do poder para São Paulo. Seu poder de articulação e influência prepara-se para tentar manter um paulista no comando da República por mais quatro ou oito anos, após o longo consulado paulista com Fernando Henrique e Lula.
A hora e a vez de Minas Gerais II
Por natural efeito gravitacional, para lá foram os grandes bancos, as grandes corporações e empresas, os quadros humanos mais bem formados, tudo isto gerando inevitável conseqüência: o deslocamento e concentração do eixo do poder para São Paulo. Seu poder de articulação e influência prepara-se para tentar manter um paulista no comando da República por mais quatro ou oito anos, após o longo consulado paulista com Fernando Henrique e Lula. No tempo em que os presidentes eram escolhidos no estamento militar, os ocupantes do Palácio do Planalto sempre buscaram nos meios paulistas os cérebros que formularam a política de desenvolvimento verificada no período de 1964 a 1984. Poderia citar vários, mas concentro a tese numa só personagem, emblemática pelo seu talento e criatividade, o ministro Delfim Neto. Esta constatação nada tem de xenófoba ou coloração separatista. É um dado simples da realidade. Durante este quatro lustros não se pode dizer que Minas não tenha tido quadros de governo e administração com condições de participar. Muitos foram chamados, mas sempre para posições secundárias de comando. Agora, as coisas estão modificadas.
A hora e a vez de Minas Gerais III
. Minas tem hoje um nome que pode, perfeitamente, liderar um novo tempo no Brasil. Falo do governador Aécio Neves, pontificando no país como uma liderança jovem, um discurso moderno e, em especial, demonstrando capacidade de articulação de novo pacto federativo, onde sejam reduzidas as brutais disparidades existentes no cenário nacional. Falando em tom ainda de cuidadoso quase sussurro, suas palavras encontram ressonância pela mensagem nelas contida e ganham natural estrépito pela perfeita justaposição à realidade política. Com um governo marcado pela seriedade e eficiência, pode o jovem governador sair pelo Brasil apresentar ao país o espelho daquilo aqui realizado, como amostra do que será capaz de fazer. É chegada a hora e a vez de Minas. Não podemos perdê-la ao preço de pequenas vaidades ou desuniões bissextas. Unidos, iremos recuperar o comando da República. É a sentença da história.
A hora e a vez de Minas Gerais IV
Este posicionamento que se quer tomem os mineiros, nada tem de açular luta fratricida e muito menos desmerecer o quanto São Paulo tem feito em favor do progresso nacional. Do ponto de vista estratégico, forçoso é reconhecer que, enquanto os paulistas estão politicamente muito divididos, além da áspera luta contra o PT que encontrou na arena paulista o terreno ideal para a batalha plebiscitária em que as eleições estão se transformando paulatinamente, os mineiros possuem apenas divergências superficiais, daquele tipo que José Maria Alkmim receitava para quem participa da atividade política, isto é, não tão próximos que não possam se afastar, nem tão distante que não possam se aproximar. Por isto é chegada a hora e a vez de Minas Gerais. Se formos capazes de entender estas verdades, com certeza reconquistaremos a presidência da República em 2010.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Minas e os resultados eleitorais
Com a vitória de seu candidato em Belo Horizonte e mais o alto índice de aprovação pessoal e do governo, o governador Aécio Neves se posiciona bem para a sucessão presidencial de 2010. Para que ele atinja esta meta, que se justapõe aos interesses de Minas em ver mudado o eixo da política brasileira, fortemente assentado em São Paulo há vários anos, é indispensável grande coesão dos mineiros, independente de posições partidárias e infensa a antigas lutas políticas que tanto nos desuniram. Unindo Minas, tal como em 1930, 1932 e 1964, nosso Estado será capaz de convencer o Brasil da justeza de nossa posição e do bem que ela fará ao Brasil. Porquê não tentar?
domingo, 26 de outubro de 2008
A história do poema de Drummond
Os antigos moradores se lembram dos idos da primeira metade da década de 60. Belo Horizonte vivia uma crise ampla e profunda. A prefeitura derrubava a arborização da avenida Afonso Pena, os velhos ficus que testemunharam a fundação da cidade. A área arborizada da Igreja de São José era transformada em estacionamento de automóveis. Uma grita generalizada contra uma série de equívocos que a cidade assistia sem protestar. Drummond deles teve notícia e produziu este belo poema, que deve ser sempre recordado todas as vezes em que a cidade estiver em perigo.
Triste Horizonte - Carlos Drummon de Andrade
A publicação anterior não permite boa leitura. Por isto, republico o poema:
TRISTE HORIZONTE
Porque não vais a Belo Horizonte? a saudade cicia
e continua branda: Volta lá.
Tudo é belo e cantante na coleção de perfumes
das avenidas que levam ao amor,
nos espelhos de luz e penumbra onde se projetam
os puros jogos de viver.
Anda!Volta lá, volta já.
E eu respondo, carrancudo: Não.
Não voltarei para ver o que não merece ser visto,
o que merece ser esquecido, se revogado não pode ser.
Não o passado cor-de-cores fantásticas,
Belo Horizonte sorrindo púbere núbil sensual sem malícia,
lugar de ler os clássicos e amar as artes novas,
lugar muito especial pela graça do clima
e pelo gosto, que não tem preço,
de falar mal do Governo no lendário Bar do Ponto.
Cidade aberta aos estudantes do mundo inteiro, inclusive Alagoas,
"maravilha de milhares de brilhos vidrilhos"
mariodeandrademente celebrada.
Não, Mário, Belo Horizonte não era uma tolice como as outras.
Era uma provinciana saudável, de carnes leves pesseguíneas.
Era um remanso, era um remanso
para fugir às partes agitadas do Brasil
sorrindo do Rio de Janeiro e de São Paulo: tão prafentrex, as duas!
e nós lá: macio-amesendados
na calma e na verde brisa irônica. . .
Esquecer, quero esquecer é a brutal Belo Horizonte
que se empavonava sobre o corpo crucificado da primeira.
Quero não saber da traição de seus santos.
Eles a protegiam, agora protegem-se a si mesmos.
São José, no centro mesmo da cidade, explora estacionamento de automóveis.
São José dendroclasta não deixa de pé sequer um pé-de-pau
onde amarrar o burrinho numa parada no caminho do Egito.
São José vai entrar feio no comércio de imóveis,
vendendo seus jardins reservados a Deus.
São Pedro instala supermercado.
Nossa Senhora das Dores,
amizade da gente na Floresta,
(vi crescer sua igreja à sombra do Padre Artur)
abre caderneta de poupança,
lojas de acessórios para carros,
papelaria, aviários, pães-de-queijo.
Terão endoidecido esses meus santos
e a dolorida mãe de Deus?
Ou foi em nome deles que pastores
deixam de pastorear para faturar?
Não escutem a voz de Jeremias
(e é o Senhor que fala por sua boa de vergasta):
"Eu vos introduzi numa terra fértil,
e depois de lá entrardes a profanastes.
Ai dos pastores que perdem e despedaçam
o rebanho de minha pastagem!
Eis que os visitarei para castigar a esperteza de seus desígnios".
Fujo
da ingnóbil visão de tendas obstruindo as alamedas do Senhor.
Tento fugir da própria cidade, reconfortar-me
em seu austero píncaro serrano.
De lá verei uma longínqua, purificada Belo Horizonte
sem escutar o rumos dos negócios abafando a litania dos fiéis.
Lá o imenso azul desenha ainda as mensagens
de esperança nos homens pacificados - os doces mineiros
que teimam em existir no caos e no tráfico.
Em vão tento a escalada.
Cassetetes e revólveres me barram
a subida que era alegria dominical de minha gente.
Proibido escalar. Proibido sentir
o ar de liberdade destes cimos,
proibido viver a selvagem intimidade destas pedras
que se vão desfazendo em forma de dinheiro.
Esta serra tem dono. Não mais a natureza
a governa. Desfaz-se, com o minério
uma antiga aliança , um rito da cidade. Desiste ou leva bala. Encurralado todos,
a Serra do Curral, os moradores
cá embaixo. Jeremias me avisa:
"Foi assolada toda a serra; de improviso
derrubaram minhas tendas, abateram meus pavilhões.
Vi os montes, e eis que tremiam.
E todos os outeiros estremeciam.
Olhei a terra, e eis que estava vazia,
sem nada nada nada".
Sossega minha saudade. Não me cicies outra vez
o impróprio convite.
Não quero mais, não quero ver-te,
meu Triste Horizonte e destroçado amor.
TRISTE HORIZONTE
Porque não vais a Belo Horizonte? a saudade cicia
e continua branda: Volta lá.
Tudo é belo e cantante na coleção de perfumes
das avenidas que levam ao amor,
nos espelhos de luz e penumbra onde se projetam
os puros jogos de viver.
Anda!Volta lá, volta já.
E eu respondo, carrancudo: Não.
Não voltarei para ver o que não merece ser visto,
o que merece ser esquecido, se revogado não pode ser.
Não o passado cor-de-cores fantásticas,
Belo Horizonte sorrindo púbere núbil sensual sem malícia,
lugar de ler os clássicos e amar as artes novas,
lugar muito especial pela graça do clima
e pelo gosto, que não tem preço,
de falar mal do Governo no lendário Bar do Ponto.
Cidade aberta aos estudantes do mundo inteiro, inclusive Alagoas,
"maravilha de milhares de brilhos vidrilhos"
mariodeandrademente celebrada.
Não, Mário, Belo Horizonte não era uma tolice como as outras.
Era uma provinciana saudável, de carnes leves pesseguíneas.
Era um remanso, era um remanso
para fugir às partes agitadas do Brasil
sorrindo do Rio de Janeiro e de São Paulo: tão prafentrex, as duas!
e nós lá: macio-amesendados
na calma e na verde brisa irônica. . .
Esquecer, quero esquecer é a brutal Belo Horizonte
que se empavonava sobre o corpo crucificado da primeira.
Quero não saber da traição de seus santos.
Eles a protegiam, agora protegem-se a si mesmos.
São José, no centro mesmo da cidade, explora estacionamento de automóveis.
São José dendroclasta não deixa de pé sequer um pé-de-pau
onde amarrar o burrinho numa parada no caminho do Egito.
São José vai entrar feio no comércio de imóveis,
vendendo seus jardins reservados a Deus.
São Pedro instala supermercado.
Nossa Senhora das Dores,
amizade da gente na Floresta,
(vi crescer sua igreja à sombra do Padre Artur)
abre caderneta de poupança,
lojas de acessórios para carros,
papelaria, aviários, pães-de-queijo.
Terão endoidecido esses meus santos
e a dolorida mãe de Deus?
Ou foi em nome deles que pastores
deixam de pastorear para faturar?
Não escutem a voz de Jeremias
(e é o Senhor que fala por sua boa de vergasta):
"Eu vos introduzi numa terra fértil,
e depois de lá entrardes a profanastes.
Ai dos pastores que perdem e despedaçam
o rebanho de minha pastagem!
Eis que os visitarei para castigar a esperteza de seus desígnios".
Fujo
da ingnóbil visão de tendas obstruindo as alamedas do Senhor.
Tento fugir da própria cidade, reconfortar-me
em seu austero píncaro serrano.
De lá verei uma longínqua, purificada Belo Horizonte
sem escutar o rumos dos negócios abafando a litania dos fiéis.
Lá o imenso azul desenha ainda as mensagens
de esperança nos homens pacificados - os doces mineiros
que teimam em existir no caos e no tráfico.
Em vão tento a escalada.
Cassetetes e revólveres me barram
a subida que era alegria dominical de minha gente.
Proibido escalar. Proibido sentir
o ar de liberdade destes cimos,
proibido viver a selvagem intimidade destas pedras
que se vão desfazendo em forma de dinheiro.
Esta serra tem dono. Não mais a natureza
a governa. Desfaz-se, com o minério
uma antiga aliança , um rito da cidade. Desiste ou leva bala. Encurralado todos,
a Serra do Curral, os moradores
cá embaixo. Jeremias me avisa:
"Foi assolada toda a serra; de improviso
derrubaram minhas tendas, abateram meus pavilhões.
Vi os montes, e eis que tremiam.
E todos os outeiros estremeciam.
Olhei a terra, e eis que estava vazia,
sem nada nada nada".
Sossega minha saudade. Não me cicies outra vez
o impróprio convite.
Não quero mais, não quero ver-te,
meu Triste Horizonte e destroçado amor.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Um poema de Carlos Drummond de Andrade para o eleitor de Belo Horizonte
Não sou eleitor em BH. Voto em minha terra e lembrei-me da poesia de Drummond para homenagear, eleitor de BH, você que domingo vai decidir o futuro desta cidade
Por que não vais a Belo Horizonte? a saudade ciciae continua, branda: Volta lá.Tudo é belo e cantante na coleção de perfumesdas avenidas que levam ao amor, nos espelhos de luz e penumbra onde se projetamos puros jogos de viver. Anda! Volta lá, volta já. E eu respondo, carrancudo: Não. Não voltarei para ver o que não merece ser visto, o que merece ser esquecido, se revogado não pode ser. Não o passado cor-de-cores fantásticas, Belo Horizonte sorrindo púbere núbil sensual sem malícia, lugar de ler os clássicos e amar as artes novas, lugar muito especial pela graça do climae pelo gosto, que não tem preço, de falar mal do Governo no lendário Bar do Ponto. Cidade aberta aos estudantes do mundo inteiro, inclusive Alagoas, "maravilha de milhares de brilhos vidrilhos"mariodeandrademente celebrada. Não, Mário, Belo Horizonte não era uma tolice como as outras. Era uma provinciana saudável, de carnes leves pesseguíneas. Era um remanso, era um remansopara fugir às partes agitadas do Brasil, sorrindo do Rio de Janeiro e de São Paulo: tão prafrentex, as duas! e nós lá: macio-amesendadosna calma e na verde brisa irônica... Esquecer, quero esquecer é a brutal Belo Horizonteque se empavona sobre o corpo crucificado da primeira. (Quero não saber da traição de seus santos. Eles a protegiam, agora protegem-se a si mesmos. São José, no centro mesmo da cidade, explora estacionamento de automóveis. São José dendroclasta não deixa de pé sequer um pé-de-pauonde amarrar o burrinho numa parada no caminho do Egito. São José vai entrar feio no comércio de imóveis, vendendo seus jardins reservados a Deus. São Pedro instala supermercado. Nossa Senhora das Dores, amizade da gente na Floresta, (vi crescer sua igreja à sombra do Padre Artur) abre caderneta de poupança, lojas de acessórios para carros, papelaria, aviário, pães-de-queijo). Terão endoidecido esses meus santose a dolorida mãe de Deus? Ou foi em nome deles que pastoresdeixam de pastorear para faturar? Não escutem a voz de Jeremias(e é o Senhor que fala por sua boca de vergasta): "Eu vos introduzi numa terra fértil, e depois de lá entrardes a profanastes. Ai dos pastores que perdem e despedaçamo rebanho da minha pastagem! Eis que os visitarei para castigar a esperteza de seus desígnios".Fujoda ignóbil visão de tendas obstruindo as alamedas do Senhor. Tento fugir da própria cidade, reconfortar-meem seu austero píncaro serrano. De lá verei uma longínqua, purificada Belo Horizontesem escutar o rumor dos negócios abafando a litania dos fieis. Lá o imenso azul desenha ainda as mensagensde esperança nos homens pacificados - os doces mineirosque teimam em existir no caos e no tráfico. Em vão tento a escalada. Cassetetes e revólveres me barrama subida que era alegria dominical de minha gente. Proibido escalar. Proibido sentiro ar de liberdade destes cimos, proibido viver a selvagem intimidade destas pedrasque se vão desfazendo em forma de dinheiro. Esta serra tem dono. Não mais a naturezaa governa. Desfaz-se, com o minério, uma antiga aliança, um rito da cidade. Desiste ou leva bala. Encurralados todos, a Serra do Curral, os moradorescá embaixo. Jeremias me avisa: "Foi assolada toda a serra; de improvisoderrubaram minhas tendas, abateram meus pavilhões. Vi os montes, e eis que tremiam. E todos os outeiros estremeciam. Olhei terra, e eis que estava vazia, sem nada nada nada".Sossega minha saudade. Não me cicies outra vezo impróprio convite. Não quero mais, não quero ver-te, meu Triste Horizonte e destroçado amor.
Por que não vais a Belo Horizonte? a saudade ciciae continua, branda: Volta lá.Tudo é belo e cantante na coleção de perfumesdas avenidas que levam ao amor, nos espelhos de luz e penumbra onde se projetamos puros jogos de viver. Anda! Volta lá, volta já. E eu respondo, carrancudo: Não. Não voltarei para ver o que não merece ser visto, o que merece ser esquecido, se revogado não pode ser. Não o passado cor-de-cores fantásticas, Belo Horizonte sorrindo púbere núbil sensual sem malícia, lugar de ler os clássicos e amar as artes novas, lugar muito especial pela graça do climae pelo gosto, que não tem preço, de falar mal do Governo no lendário Bar do Ponto. Cidade aberta aos estudantes do mundo inteiro, inclusive Alagoas, "maravilha de milhares de brilhos vidrilhos"mariodeandrademente celebrada. Não, Mário, Belo Horizonte não era uma tolice como as outras. Era uma provinciana saudável, de carnes leves pesseguíneas. Era um remanso, era um remansopara fugir às partes agitadas do Brasil, sorrindo do Rio de Janeiro e de São Paulo: tão prafrentex, as duas! e nós lá: macio-amesendadosna calma e na verde brisa irônica... Esquecer, quero esquecer é a brutal Belo Horizonteque se empavona sobre o corpo crucificado da primeira. (Quero não saber da traição de seus santos. Eles a protegiam, agora protegem-se a si mesmos. São José, no centro mesmo da cidade, explora estacionamento de automóveis. São José dendroclasta não deixa de pé sequer um pé-de-pauonde amarrar o burrinho numa parada no caminho do Egito. São José vai entrar feio no comércio de imóveis, vendendo seus jardins reservados a Deus. São Pedro instala supermercado. Nossa Senhora das Dores, amizade da gente na Floresta, (vi crescer sua igreja à sombra do Padre Artur) abre caderneta de poupança, lojas de acessórios para carros, papelaria, aviário, pães-de-queijo). Terão endoidecido esses meus santose a dolorida mãe de Deus? Ou foi em nome deles que pastoresdeixam de pastorear para faturar? Não escutem a voz de Jeremias(e é o Senhor que fala por sua boca de vergasta): "Eu vos introduzi numa terra fértil, e depois de lá entrardes a profanastes. Ai dos pastores que perdem e despedaçamo rebanho da minha pastagem! Eis que os visitarei para castigar a esperteza de seus desígnios".Fujoda ignóbil visão de tendas obstruindo as alamedas do Senhor. Tento fugir da própria cidade, reconfortar-meem seu austero píncaro serrano. De lá verei uma longínqua, purificada Belo Horizontesem escutar o rumor dos negócios abafando a litania dos fieis. Lá o imenso azul desenha ainda as mensagensde esperança nos homens pacificados - os doces mineirosque teimam em existir no caos e no tráfico. Em vão tento a escalada. Cassetetes e revólveres me barrama subida que era alegria dominical de minha gente. Proibido escalar. Proibido sentiro ar de liberdade destes cimos, proibido viver a selvagem intimidade destas pedrasque se vão desfazendo em forma de dinheiro. Esta serra tem dono. Não mais a naturezaa governa. Desfaz-se, com o minério, uma antiga aliança, um rito da cidade. Desiste ou leva bala. Encurralados todos, a Serra do Curral, os moradorescá embaixo. Jeremias me avisa: "Foi assolada toda a serra; de improvisoderrubaram minhas tendas, abateram meus pavilhões. Vi os montes, e eis que tremiam. E todos os outeiros estremeciam. Olhei terra, e eis que estava vazia, sem nada nada nada".Sossega minha saudade. Não me cicies outra vezo impróprio convite. Não quero mais, não quero ver-te, meu Triste Horizonte e destroçado amor.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
A fragilidade dos parrtidos I
Quando o velho Ulisses Guimarães mergulhou para o além nas regiões abissais do Atlântico no dia 12 de outubro de 1992( domingo último completaram-se 16 anos), trazia no sofrido coração a mágoa de ver o início da diáspora que estava ferindo de morte as agremiações políticas, inclusive a que fundou, e à qual deu força e vigor na luta contra o autoritarismo. Em momento de fraqueza, a que estão sujeitos até mesmo os grandes homens, admitiu a supressão do princípio da fidelidade partidária pela via de uma interpretação política da Justiça Eleitoral, Ulisses amargou no fim de sua vida a desventura de assistir ao princípio da fragilidade da agremiação, que agora deu sinais de expressiva vitalidade aos serem apurados os resultados eleitorais do último pleito. Da data do acidente aéreo que o conduziu à eternidade até os dias de hoje, o quadro de dilaceração do sistema partidário brasileiro agravou-se consideravelmente
A fragilidade dos parrtidos II
Não se enganará quem afirmar terem sobrado desse desbaratamento apenas as agremiações ligadas aos estamentos esquerdistas mais radicais. Nunca a oposição foi tão desorganizada, desfigurada e emoliente. Aqui e acolá, alguns dos mais ilustres de seus membros se deixaram seduzir pelo irresistível polo de atração localizado no Palácio do Planalto. Também em outros palácios. Quanto aos demais grupos, com formato aparente de partidos, organizados sob o império de uma lei permissiva, transformaram-se todos em ajuntamentos sem liderança e sem rumo, perdidos no tumulto de um tempo marcado pelo mais deslavado fisiologismo e a falta de convicções.
A fragilidade dos partidos III
O episódio da reeleição e outros de menor repercussão testemunham a falência dos partidos. Todos percebem o fenômeno, mas muito poucos se dão conta dos graves perigos que tal situação acarreta para o regime democrático. Somos, por definição constitucional, uma democracia de partidos, instrumentos criados para exercerem a intermediação entre o povo e o poder. A simples leitura do texto constitucional faz ressaltar sua transcendência. Sem eles não se consolida o princípio basilar do sistema, assentado na soberania popular. Partidos fracos, sem princípios programáticos, destituídos de militantes e seguidores fiéis aos seus postulados básicos não passam de entidades fictícias, acionadas sazonalmente à véspera de eleições para cumprimento da legislação eleitoral. É óbvio o fato de que a crise institucional brasileira, cuja expressão mais eloqüente é a desmesurada hipertrofia do poder executivo, não se localiza apenas na perda de identidade dos partidos existentes ou na sua fragmentação. Ela tem outros ingredientes, tão ou mais importantes, a começar pelas distorções no processo de captação da vontade popular, viciado pela presença deletéria do poder econômico, corrompendo mandatos e mandatários de que esta eleição deu mostras irrefutáveis
A fragilidade dos partidos IV
O Brasil já tem, devidamente registrados, 26 partidos, grupamentos sem rosto e sem princípios, organizados tão somente para permitir candidaturas sem rumo e sem destino, meros entes cartorários para ensejar registros de candidaturas com objetivo de participar do horário eleitoral gratuito. Têm início as discussões para tentar eliminar da vida institucional brasileira o instituto da reeleição, que se mostrou ineficaz e poderoso instrumento de desagregação moral e política. Em país democrático eleição não mete medo. O que assusta é o uso e abuso do poder governamental em favor de candidatos e candidaturas. Muito mais grave, porém, é o fenecimento dos partidos, transformados em amontoados de políticos famélicos, destruindo-se mutuamente até o ponto em que não sobrará quem faça a intermediação entre a população e o poder. Nessa hora, serão entoados os cânticos de réquiem em sua honra e os brados do Dies Irae pelos verdadeiros democratas contra os vendilhões do templo sagrado da democracia.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Senador Alfredo Campos
Foi no Senado Federal que pude conhecer melhor este mineiro de qualidades de inteligência, bondade, espírito público e dignidade na vida pública. Tornei-me seu fraternal amigo e as eventuais divergências surgidas nos debates não turvaram os recíprocos sentimentos afetuosos. Recordo-me bem que Alfredo Campos, dotado de memória poderosa, quando os debates caminhavam para indesejada radicalização, ele pedia licença e declamava um soneto, recolocando as palavras no seu devido lugar. Vai embora e deixa uma grande saudade nos amigos, além de magnifíco exemplo de homem público.
sábado, 11 de outubro de 2008
errata
Desculpem os erros de digitação:
onde se lê tuba, leia-se turba
onde se lê vinha, leia-se vinga
onde se lê tuba, leia-se turba
onde se lê vinha, leia-se vinga
Resposta a um neto em Brasília
O meu neto Rodrigo Badaró, advogado de sucesso em Brasília, indagou-me como estava a eleição em Belo Horizonte. Lembrei-me de uns versos de Castro Alves, que o genial baiano escreveu quando tinha apenas 18 anos e os recitei para seu deslumbramento:
O SOL E O POVO
O povo é como o sol! Da treva escura
Rompe um dia co'a destra iluminada,
Como o Lázaro, estala a sepultura! . . .
O'! temei-vos da tuba esfarrapada,
Que salva o berço à geração futura,
Que vinha a campa à geração passada
O SOL E O POVO
O povo é como o sol! Da treva escura
Rompe um dia co'a destra iluminada,
Como o Lázaro, estala a sepultura! . . .
O'! temei-vos da tuba esfarrapada,
Que salva o berço à geração futura,
Que vinha a campa à geração passada
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Soneto de Guilherme de Almeida em homenagem aos últimos românticos
Beijos
Não queres que eu te beije! E o beijo é a própria vida:
a invenção mais divina e humana do Senhor;
é o fogo em que se abrasa uma alma a outra alma unida;
é o prólogo e também o epílogo do amor!
A lua beija o mar, nas ondas refletida;
o sol, beijando o céu, reveste-o de esplendor;
num beijo o orvalho alenta a planta emurchecida,
e a borboleta suga o mel beijando a flor. . .
Deixa que o meu amor expanda os seus desejos
beijando os lábios teus sem nunca se fartar!
chega ao meu coração, escuta-lhe os latejos!
A boca perfumada, ó deixa-me beijar!
Porque somente amando é que se trocam beijos
e porque beijando é que se aprende a amar!
Não queres que eu te beije! E o beijo é a própria vida:
a invenção mais divina e humana do Senhor;
é o fogo em que se abrasa uma alma a outra alma unida;
é o prólogo e também o epílogo do amor!
A lua beija o mar, nas ondas refletida;
o sol, beijando o céu, reveste-o de esplendor;
num beijo o orvalho alenta a planta emurchecida,
e a borboleta suga o mel beijando a flor. . .
Deixa que o meu amor expanda os seus desejos
beijando os lábios teus sem nunca se fartar!
chega ao meu coração, escuta-lhe os latejos!
A boca perfumada, ó deixa-me beijar!
Porque somente amando é que se trocam beijos
e porque beijando é que se aprende a amar!
A expressiva lição das urnas I
As urnas eletrônicas trazem esta novidade. Produzem resultados logo após as eleições, o que enseja ao observador fazer análise objetiva de suas repercussões políticas. Salta logo aos olhos a incapacidade de transferência de votos de políticos com grande aprovação popular, reforçando mais uma vez velha verdade de que eleição municipal fica resumida ao âmbito territorial e determinada por questões de natureza local, que vão da boa administração, os critérios de honradez, probidade e laços familiares que ainda perduram em sua grande maioria ao clima de emoção gerado pelo candidato
A expressiva lição das urnas II
. O presidente Lula acaba de recolher esta lição das urnas. Depois de permitir fosse sua imagem usada e abusada em todo país, como se sua suposta popularidade e aprovação fossem capazes de arrebanhar sufrágios para candidatos, teve o desprazer de verificar que na cidade de São Paulo sua presença por duas vezes em comícios da candidata petista não acrescentou a ela um só voto. O resultado de São Bernardo do Campo, onde seu candidato foi para o segundo turno, representou outra face desta verdade política. Na cidade de Natal, o presidente esmerou-se em discurso agressivo contra a candidata Micarla Sousa, vitoriosa com expressiva maioria no primeiro turno. Pela mesma forma, aconteceu em várias outras cidades e em outras regiões do país. Se este tipo de influência ficasse limitado somente ao palavrório, poder-se-á argumentar que nenhum mal faz à democracia.
A expressiva lição das urnas III
. No Brasil, infelizmente, este tipo de apoio quase sempre vem acompanhado dos benefícios, regulares e irregulares, da máquina governamental. A prova mais evidente acaba de patentear-se em Salvador, onde a máquina federal eliminou da disputa o candidato ACM Neto para favorecer o atual prefeito, o preferido do ministro Gedel Vieira Lima, contra o escolhido pelo PT. Convém destacar a circunstância de que o presidente Lula permanece 24 horas nos rádios e nas televisões em intermináveis falações, projetando sua imagem ao arrepio das boas conveniências protocolares a que estão submetidos os chefes de estado. Nada disto foi levado em conta pelo eleitorado, que votou segundo suas tendências e convicções. Não cai no agrado do eleitor a figura de candidato nascido nas provetas dos partidos, elaborado nos laboratórios de supostos cientistas políticos com suas esdrúxulas formulações. Pretender tirar ilações para especular sobre o pleito presidencial de 2010 é inútil exercício de vadiagem política. O processo de mutação político-social por que passa o Brasil
A expre4ssiva lição das urnas IV
. Cada eleição tem desenhos próprios, de nada servindo decalcar uma sobre a outra. Mas esta de domingo projetou algo que está se delineando com nitidez: o caráter plebiscitário contra o PT, partido sobre o qual não se projetou a popularidade de Lula. Esta conclusão pode ser retirada do resultado eleitoral da capital paulista e serve bem para demonstrar a justeza do enunciado. Toda a máquina governamental comandada por Lula foi acionada para fazer de Marta a prefeita de São Paulo. O mesmo ocorreu em Curitiba e em Natal, dois modelos perfeitos da prova do distanciamento do presidente de seu partido, colocado a serviço de apetites de poder sem observação das regras republicanas. Todas estas acusações de corrupção e uso despudorado da máquina pública em favor do aparelho partidário, causaram forte impacto na consciência do eleitor. Aparentemente dominado pela máquina publicitária a serviço do governo, reagiu no silêncio da cabine eleitoral e demonstrou mais uma vez a necessidade dos institutos de pesquisa de opinião reformularem seu comportamento. Ninguém transfere voto, especialmente quando a democracia esta ganhando vitalidade e força a cada novo pleito.
sábado, 4 de outubro de 2008
Soneto de Olavo Bilac em homenagem aos da denominada "terceira idade"
VELHAS ÁRVORES
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Novos prefeitos, novcas esperanças I
Mais de oitocentos prefeitos serão eleitos no próximo dia 5 de outubro. Os eleitos assumirão em breve em meio ao espocar de fogos e as alegrias naturais dos vitoriosos e também as pesadas responsabilidades de administrarem prefeituras asfixiadas por problemas e dificuldades. São naturais as demonstrações de júbilo entre os munícipes. Todos acalentam renovadas esperanças de que as coisas devem e precisam melhorar. De que haverá substancial elevação de seu atual padrão e qualidade de vida. Com toda certeza, a população aguarda dos políticos a prestarem solene juramento, prefeitos e vereadores, a restauração de valores e princípios éticos que estão se afastando da administração pública.
N ovos prefeitos, novas esperanças II
Convém relembrar que no Brasil, jamais tantos prefeitos, vereadores e políticos em geral tiveram seus mandatos cassados, em sua maior parte por problemas de corrupção ou malversação de dinheiro público. Para se ter uma idéia da gravidade desse problema, basta acentuar que existem em tramitação nos diversos tribunais do país, aguardando julgamento final, centenas de processos envolvendo prefeitos, vereadores, deputados e ex-prefeitos. A cada eleição, a democracia e o processo de seleção se aprimoram. Aumenta o grau de politização do povo e, conseqüentemente, o nível de fiscalização tende a impedir desvios e comportamentos indecorosos. Em meio ao enorme contingente de prefeitos , aqui e acolá, sempre aparecem os incorrigíveis, administradores que misturam o orçamento público com o orçamento particular, governando as cidades como se fossem elas quintais de suas casas e a população, serviçais de suas fazendas.Convém relembrar que no Brasil, jamais tantos prefeitos, vereadores e políticos em geral tiveram seus mandatos cassados, em sua maior parte por problemas de corrupção ou malversação de dinheiro público. Para se ter uma idéia da gravidade desse problema, basta acentuar que existem em tramitação nos diversos tribunais do país, aguardando julgamento final, centenas de processos envolvendo prefeitos, vereadores, deputados e ex-prefeitos. A cada eleição, a democracia e o processo de seleção se aprimoram. Aumenta o grau de politização do povo e, conseqüentemente, o nível de fiscalização tende a impedir desvios e comportamentos indecorosos. Em meio ao enorme contingente de prefeitos , aqui e acolá, sempre aparecem os incorrigíveis, administradores que misturam o orçamento público com o orçamento particular, governando as cidades como se fossem elas quintais de suas casas e a população, serviçais de suas fazendas.Convém relembrar que no Brasil, jamais tantos prefeitos, vereadores e políticos em geral tiveram seus mandatos cassados, em sua maior parte por problemas de corrupção ou malversação de dinheiro público. Para se ter uma idéia da gravidade desse problema, basta acentuar que existem em tramitação nos diversos tribunais do país, aguardando julgamento final, centenas de processos envolvendo prefeitos, vereadores, deputados e ex-prefeitos. A cada eleição, a democracia e o processo de seleção se aprimoram. Aumenta o grau de politização do povo e, conseqüentemente, o nível de fiscalização tende a impedir desvios e comportamentos indecorosos. Em meio ao enorme contingente de prefeitos , aqui e acolá, sempre aparecem os incorrigíveis, administradores que misturam o orçamento público com o orçamento particular, governando as cidades como se fossem elas quintais de suas casas e a população, serviçais de suas fazendas.Convém relembrar que no Brasil, jamais tantos prefeitos, vereadores e políticos em geral tiveram seus mandatos cassados, em sua maior parte por problemas de corrupção ou malversação de dinheiro público. Para se ter uma idéia da gravidade desse problema, basta acentuar que existem em tramitação nos diversos tribunais do país, aguardando julgamento final, centenas de processos envolvendo prefeitos, vereadores, deputados e ex-prefeitos. A cada eleição, a democracia e o processo de seleção se aprimoram. Aumenta o grau de politização do povo e, conseqüentemente, o nível de fiscalização tende a impedir desvios e comportamentos indecorosos. Em meio ao enorme contingente de prefeitos , aqui e acolá, sempre aparecem os incorrigíveis, administradores que misturam o orçamento público com o orçamento particular, governando as cidades como se fossem elas quintais de suas casas e a população, serviçais de suas fazendas.
Novos prefeitos, novas esperanças III
. Felizmente, esse tipo é uma espécie em processo de extinção, cujo rápido fim somente ocorrerá pela cristalização de uma consciência coletiva contra as formas bastardas e pouco éticas de administrar. O velho Ulisses Guimarães dizia que o exercício do poder não é um piquenique, nem a atividade política uma festa. Ambos exigem, a um só tempo, austeridade, dignidade, probidade, senso moral e gravidade pessoal. As notícias dão conta de que estão vazios os cofres municipais, seja pela gastança irresponsável de administradores incompetentes, seja pela corrupção renitente, seja pela redução dos únicos recursos com que a maioria sobrevive, o Fundo de Participação dos Municípios, tendente a diminuir na mesma proporção do aumento de novas demandas da população e realidades insuperáveis. Felizmente, esse tipo é uma espécie em processo de extinção, cujo rápido fim somente ocorrerá pela cristalização de uma consciência coletiva contra as formas bastardas e pouco éticas de administrar. O velho Ulisses Guimarães dizia que o exercício do poder não é um piquenique, nem a atividade política uma festa. Ambos exigem, a um só tempo, austeridade, dignidade, probidade, senso moral e gravidade pessoal. As notícias dão conta de que estão vazios os cofres municipais, seja pela gastança irresponsável de administradores incompetentes, seja pela corrupção renitente, seja pela redução dos únicos recursos com que a maioria sobrevive, o Fundo de Participação dos Municípios, tendente a diminuir na mesma proporção do aumento de novas demandas da população e realidades insuperáveis. Felizmente, esse tipo é uma espécie em processo de extinção, cujo rápido fim somente ocorrerá pela cristalização de uma consciência coletiva contra as formas bastardas e pouco éticas de administrar. O velho Ulisses Guimarães dizia que o exercício do poder não é um piquenique, nem a atividade política uma festa. Ambos exigem, a um só tempo, austeridade, dignidade, probidade, senso moral e gravidade pessoal. As notícias dão conta de que estão vazios os cofres municipais, seja pela gastança irresponsável de administradores incompetentes, seja pela corrupção renitente, seja pela redução dos únicos recursos com que a maioria sobrevive, o Fundo de Participação dos Municípios, tendente a diminuir na mesma proporção do aumento de novas demandas da população e realidades insuperáveis. Felizmente, esse tipo é uma espécie em processo de extinção, cujo rápido fim somente ocorrerá pela cristalização de uma consciência coletiva contra as formas bastardas e pouco éticas de administrar. O velho Ulisses Guimarães dizia que o exercício do poder não é um piquenique, nem a atividade política uma festa. Ambos exigem, a um só tempo, austeridade, dignidade, probidade, senso moral e gravidade pessoal. As notícias dão conta de que estão vazios os cofres municipais, seja pela gastança irresponsável de administradores incompetentes, seja pela corrupção renitente, seja pela redução dos únicos recursos com que a maioria sobrevive, o Fundo de Participação dos Municípios, tendente a diminuir na mesma proporção do aumento de novas demandas da população e realidades insuperáveis
Novos prefeitos, novas esperanças IV
. Com relação às cidades maiores, os problemas são de mais difícil solução. O novo alcaide de Belo Horizonte terá pela frente dificuldades de porte numa cidade em que a qualidade de vida da população vem se deteriorando e são reduzidos os recursos para eliminar estrangulamentos desesperantes.
Dia 5 de outubro é dia de renovar esperanças, num momento em que os políticos estão bastante decaídos da confiança e da estima da opinião pública, vergastados pela imprensa e objeto do deboche de humoristas de rádio e televisão. Haverão os candidatos de estar atentos às transformações no comportamento político da população, que se mostra mais rigorosa e atenta com relação à conduta de seus dirigentes. Que os eleitos se deixem dominar pela intensa paixão que é capaz de produzir grandes ações em favor do povo. São as esperanças de todos.
Dia 5 de outubro é dia de renovar esperanças, num momento em que os políticos estão bastante decaídos da confiança e da estima da opinião pública, vergastados pela imprensa e objeto do deboche de humoristas de rádio e televisão. Haverão os candidatos de estar atentos às transformações no comportamento político da população, que se mostra mais rigorosa e atenta com relação à conduta de seus dirigentes. Que os eleitos se deixem dominar pela intensa paixão que é capaz de produzir grandes ações em favor do povo. São as esperanças de todos.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
morte da oposição - o fim da democracia I
Causou surpresa e não menor decepção a declaração do senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, de que “a oposição no Brasil foi revogada, saiu de moda”. Esta e outras demonstrações de fragilidade da oposição no Brasil fizeram-me recordar o deputado José Monteiro de Castro, membro proeminente da UDN, dizendo em nossas tertúlias na “república” que mantínhamos em Brasília que “oposição não dá a mão ao adversário por cima de trincheira de luta”. Pertencente ao partido de Carlos Lacerda, Adauto Lúcio Cardoso e outros vibrantes e fogosos parlamentares, que deram notável exemplo de postura oposicionista mesmo em face das maiores adversidades, José Monteiro jamais foi um radical na mesma toada de Manoel Taveira. Era muito ao estilo contemplativo de Hélio Garcia, também companheiro da “república”.
A morte da oposição - o fim da democracia II
Em conversa amistosa, certa feita noticiei a reação de um correligionário do PSD do norte de Minas, quando lhe disse que morava com três deputados da UDN. Ele redargüiu surpreso: “como você consegue morar com três udenistas?”. Em troco, dias depois, Taveira dava-nos conta da reação de Adolfo Engel, radical chefe udenista de Alfenas, ao tomar conhecimento de que morava com um deputado do PSD. A retorsão foi a mesma. Relembro este episódio para chamar a atenção dos leitores para esta estranha e nefasta realidade política no Brasil, quando o chefe de um partido de oposição lavra sua própria sentença de morte. Todos aderem ao governo, intimidados com a crescente popularidade do presidente. Não são capazes de organizar força coordenada de ação oposicionista, se não para relembrar os sucessivos escândalos que tisnaram irreversivelmente a imagem do governo petista, mas pelo menos para opor embargos às constantes aberrações apresentadas pelo governo em suas repetidas atitudes. Populares, em níveis semelhantes, foram Getúlio e JK e ambos enfrentaram tenaz oposição.
A morte da oposição - o fim da democracia III
Estou relendo a biografia de Carlos Lacerda, escrita por John W. F. Dulles, e naturalmente comparo a conduta do grande líder oposicionista com a oposição atual, frouxa, desorganizada, destituída de vigor tribunício e, pior de tudo, reduzida força moral. Ao relembrar as eletrizantes campanhas de Carlos Lacerda, segundo Paulo Pinheiro Chagas o “maior orador que já passou pela Câmara dos Deputados”, começo a admitir que para a existência de uma oposição aguerrida é indispensável algo essencial: coragem moral. Recordemos de Ulisses Guimarães, Oscar Corrêa, Paulo Brossard, José Maria Magalhães, Tancredo Neves, Gustavo Capanema, Pedro Aleixo, entre tantos outros, bravos, intimeratos e intimoratos no exercício da oposição. Provavelmente, o leitor lembrará de outros que conservaram a dignidade na luta contra desgovernos.
A morte da oposição - o fim da democracia IV
E, infelizmente, a degradação continuada dos quadros políticos brasileiros torna-os desprovidos, com as honrosas exceções reconhecidas por imposição de justiça, dessa condição fundamental para o exercício oposicionista, fazendo-a desaparecer do cenário e do teatro de operações onde se joga o jogo do poder. Os mandatos fisiológicos afogam a oposição no mar de lama das transigências espúrias. O resultado é o aplauso incondicional a tudo que vem do poder e com ele o insumo vitaminado ao carcinoma moral que assola o país. Inadmissível, por desonroso, é o presidente do partido oposicionista decretar sua própria fuga do dever, acenando a bandeira branca da capitulação de forma tão vergonhosa. O espaço que deveria ser da oposição parlamentar e política está sendo ocupado até mesmo pelos tribunais, conduzindo eminentes juizes togados ao inconveniente excesso de exibições nos veículos de comunicação, maculando a majestade da Justiça e a respeitável e velhíssima tradição de julgadores só falarem nos autos dos processos a eles distribuídos para decisão final.
domingo, 14 de setembro de 2008
Réquiem para uma professora da roça, mãe e líder I
Ao passar os olhos por esta breve crônica, o leitor poderá ser tentado a classificá-la de provinciana, bairrista ou mesmo desimportante. Depois de ler este réquiem para Rosa Fernandes Barbosa, professora da roça, mãe e líder, enterrada no domingo dia 7 de setembro, no pequeno cemitério de Lagoa Grande, no município de Minas Novas, mudará seu conceito diante das virtudes acrisoladas desta mulher extraordinária, cuja dimensão humana extrapola as reduzidas dimensões do pequeno território em que viveu e mourejou, para se projetar no mais amplo universo daqueles seres que vieram ao mundo para trabalhar e servir. Quando prefeito de Minas Novas, meu pai resolveu transformar a bela Lagoa Grande, hoje apenas um espectro, em área de lazer para a população da cidade. Diligente e sábio, o prefeito construiu logo uma escola e para lá designou como professora a jovem Rosa. Aceitou alegre e feliz a tarefa como se designada por Deus para cumprir missão de edificar um povoado e trabalhar na educação de crianças roceiras, até então desprovidas das luzes das primeiras letras.
Réquiem para uma proferssora da roça, mãe e líder II
Assumiu a escola e logo depois tratou de construir a pequena capela. Em torno destes dois pólos de atração começaram a surgir os primeiros moradores e mais outros em busca do saber e da oração que lhes eram transmitidos pela professora da roça. Rosa começou a ter seus primeiros filhos do casamento com Modesto e no seio dos novéis habitantes, prolíficos como soem ser os rurícolas, consolidou desde logo a confiança naquela que se transformaria em líder absoluta do pequeno núcleo populacional que surgia. Rosa tratava os filhos dos outros com a mesma devoção e carinho com que se dedicava aos seus. Não havia problema ou aflição entre os vizinhos que lhe não eram trazidos em busca de remédio ou solução, sempre encontrados. A tudo dava provimento, pensava as feridas como enfermeira em campo de batalha, puxava o terço na capela, reivindicava melhoramentos para o povoado, orientava, educava, liderava e, mesmo sem o desejar, viu sendo construída em torno de sua pessoa poderosa mística.
Réquiem para uma professora da roça, mãe e líder III
. A Lagoa Grande cresceu e em torno de Rosa a unanimidade, reconhecida e proclamada, até o dia em que a perversa política partidária e personalista começou a dividi-la. Aquela mulher, sempre alegre, generosa e acolhedora, foi pouco a pouco sendo vitimada por invencível tristeza e decepção. Mudou-se para Capelinha, de onde continuou prestando aos seus conterrâneos os mesmos serviços. Mas não mais era a mesma. A idade e a doença começaram a combalir-lhe as forças, misteriosamente revigoradas sempre que alguém de sua querência batia à porta em busca do agasalho ou do conselho carregado de sabedoria e prudência. Assim foi Rosa Fernandes Barbosa por toda sua proveitosa vida, em sua pobreza material e riqueza moral que a fizeram líder e guia de uma vasta população, que tanto mais crescia na medida da certeza de encontrar ao seu redor o amparo e o conforto de sua palavra e o refrigério das agruras da pobreza.
Réquiem para uma professora da roça, mãe e líder IV
Na emoção causada por sua morte, reencontro-me com as matrizes de minha formação e a revejo inabalável na entrega permanente ao serviço dos despossuídos. Desejo paz para sua alma. Ao prestar esta reverência à memória de uma simples professora rural, quero homenagear as milhares de Rosas espalhadas pela imensidão das Minas Gerais, entregues todas à nobilíssima tarefa de educar a juventude, enfrentando toda sorte de obstáculos e carências materiais, além dos despojados e reduzidos salários que percebem. São verdadeiras heroínas a pelejar por um Brasil maior, menos desigual e sobretudo mais consciente. Ande por aí e elas serão encontradas na modéstia em que vivem e trabalham, silenciosas e discretas, fortalecidas na crença de que somente pela educação será possível construir um país com que todos sonhamos.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
A 4ª Esquadra, o pré-sal e o mar territorial I
Na oportunidade em que o Comando Militar Norte-americano anunciava a recomposição de sua 4ª esquadra, destinada a atuar no Atlântico Sul, com parte da qual as marinhas do Brasil, Uruguai e Argentina sempre realizam manobras de treinamento militar, não foram poucos os que atribuíram tal decisão à descoberta das reservas de petróleo na camada geológica do pré-sal, resultado da tecnologia daqueles que detêm instrumentos capazes de identificar estas riquezas a grandes profundidades. Estas suspicácias não intimidam mais os brasileiros, especial a partir do momento em que o Presidente Médici transformou o mar territorial brasileiro, até então limitado a reduzidas 12 milhas, nas duzentas milhas, espaço geográfico em que foram encontradas as monumentais reservas de petróleo. É bom lembrar que o Presidente Médici, cuja popularidade alcançou níveis superiores aos atingidos pelo atual governante brasileiro, sofreu mais do que qualquer outro os ataques dos atuais dirigentes do Brasil e não mereceu uma só palavra de Lula em agradecimentos pela sua determinação assinalada pelo patriotismo e a lucidez. A memória do povo é fraca e o que vai permanecer pelos tempos é a risonha efígie do presidente com as mãos enegrecidas pelo óleo retirado da camada superficial das reservas do pré-sal.
A 4ª Esquadra, o pré-sal e o mar territorial II
A oposição brasileira está perplexa e confusa com a exuberância promocional do presidente. Se não fossem as lembranças de alguns jornais que têm lampejos de independência, a população não mais se recordaria de que promoções, semelhantes a esta do campo de Jubarte da Petrobrás, ganharam largos espaços na imprensa, especialmente no ano de 2006, ano da reeleição, quando Lula declarou urbi et orbi estar o Brasil auto-suficiente em petróleo, bem distante da realidade de hoje de país importador de óleo. Assim tem acontecido com outras promessas e promoções, fazendo lembrar o candidato democrata Barack Obama, nos Estados Unidos, que tem prometido tudo aquilo que simplesmente acaba por se transformar em palavreado oco e vazio de uma campanha eleitoral. A verdade é que a presença nos meios de comunicação do presidente brasileiro durante 24 horas a cada dia, falando de tudo e sobre tudo num palavreado facilmente captado pela população, faz dele um adversário imbatível para a oposição, dividida, desatenta, intimidada e com um discurso inteiramente desfocado daquilo que verdadeiramente interessa à população. Sempre me recordo dos discursos de Carlos Lacerda na oposição. Fustigava o governo com toda a força de sua monumental eloqüência, com resultados nem sempre a ele favoráveis. Mas dava ao povo a certeza e a segurança de que os governantes estavam fiscalizados, não como hoje, vigiados e grampeados por um Estado policial paralelo que pode comprometer seriamente a biografia exitosa do Presidente Lula.
A 4ª Esquadra, o pré-sal e o mar territorial III
A ampla ação demagógica preparada pelo governo para um programa de exploração petrolífera ainda não equacionado, pode lavar a alturas cimeiras a popularidade do Presidente, todavia, incapaz de resistir às investidas do estado policial paralelo que ameaçam seriamente sua bela biografia. Que falta está fazendo à oposição um Carlos Lacerda, para lancetar este tumor maligno da corrupção e da demagogia que a todos ameaça. É tão poderosamente influente o tema corrupção que a opinião pública não toma conhecimento das maluquices anunciadas pelo governo federal, por conta dos recursos futuros das reservas do petróleo localizado nas camadas geológicas do pré-sal. A encenação excita a imaginação do espectador, onde cada ministro, como um ator dramático designado para determinado papel, começa a imaginar os meios e modos de como gastar os bilhões que cairão da cornucópia governamental. Entre a bufonaria e o ridículo não há espaços muito grandes, até mesmo quando se anuncia o uso dos dólares das reservas inexploradas para aquisição de um submarino e outras quinquilharias.
sábado, 6 de setembro de 2008
O livro didático e a tragédia da educação brasileira I
A recente pesquisa produzida pela CNT/Sensus, divulgada pela Revista Veja, põe a nu verdades estarrecedoras sobre o quadro atual da educação brasileira, tendo nos dias de hoje como missão principal a corrupção da mente dos jovens brasileiros na escola, incutindo neles idéias estapafúrdias sobre valores políticos, econômicos e sociais que o progresso do mundo colocou no lixo da história. Como bem acentuou o intérprete dos resultados da pesquisa, esforça-se para exilar a mocidade brasileira no século XIX, afastando-a deliberadamente do ideário de progresso e liberdade dominante nos países livres do mundo moderno. Se o professorado, mal pago e pior ainda preparado para sua missão, repete mecanicamente os conceitos e slogans com que foram manipulados, em monocórdico cantochão doutrinário saído dos livros didáticos produzidos pelo Ministério da Educação e disseminados por todo o Brasil, pretende impor à grande maioria idéias que o mundo revogou por imprestáveis, é preciso denunciar à nação o grau de malefícios que esta política educacional causa ao futuro de nossa sociedade.
O livro didático e a trgégia da educação brasileira II
Além de cuidarem apenas da doutrinação com idéias e colorações marxistas démodés, já de há muito revogadas, falharam na missão principal do ensino fundamental, onde se processa a maciça doutrinação política, de ensinar os jovens a ler e a escrever, obrigando as escolas de nível superior a se transformarem em verdadeiros cursos supletivos com aulas de reforço para suprir a carência do alunado em fazer operações aritméticas simples, a ler e interpretar textos, incapazes de entender e acompanhar cursos de letras, administração, direito e engenharia. Esta crise pode ser debitada a vários fatores, como o baixo salário dos mestres, a péssima condição de infra-estrutura das escolas, o descaso e o desinteresse da sociedade para o que está se passando nelas, enfim, qualquer seja o motivo é insuportável assistir sem protestos à doutrinação marxista na escola pública e privada brasileira, com estímulos governamentais, numa nação onde o Estado deveria zelar para que as escolas sejam politicamente neutras.
O livro didático e a tragédia da educação brasileira
. Como dizia Max Weber, “o profeta e o demagogo não pertencem ao espaço acadêmico”. O que ensina o livro didático, adotado pela ampla maioria das escolas públicas e privadas do Brasil, está totalmente equivocado, política e historicamente. Graves são a distorção, a deformação, a defraudação e a degradação sistemática das concepções da história, da sociologia, da economia e da geografia, determinadas por motivação política. Oferece grotesca salada ideológica, confundindo deliberadamente a verdade pregada pelos grandes pensadores. O mais grave suscitado pela pesquisa citada é o total desconhecimento dos pais, aliado ao desinteresse, do que se passa nas escolas e nos estudos de seus filhos. Segundo alguns professores entrevistados, sua missão não é ensinar, mas “preparar cidadãos” (sic). Talvez seja por isto que a dignidade e a coerência no Brasil de hoje estejam para a política assim como a gagueira está para o teatro, algo que é necessário eliminar para obter sucesso e aplausos. Nada de mais grave está acontecendo no Brasil, diante da indiferença das autoridades e da ampla e irresponsável complacência dos familiares. A taxa de barbaridades impressas nos livros didáticos atingiu os limites do razoável. É algo que está sendo manipulado criminosamente para doutrinação marxista da mocidade brasileira. Isto sem falar nas agressões feitas aos símbolos da nacionalidade, aviltando-os e desacreditando-os perante a juventude. A revolta é ainda maior quando se constata que todo este banditismo político está sendo pago com o dinheiro do próprio povo.
domingo, 24 de agosto de 2008
A fantasia e a realidade eleitoral
O horário eleitoral obrigatório, verdadeira aberração nesta incipiente vida democrática brasileira, traz para os candidatos a ilusória presunção de que, no uso dos poucos minutos atribuídos aos disputantes, podem modificar o curso dos acontecimentos e fatos políticos, especialmente num tempo assinalado pela presença maciça e corruptora do poder público em favor de candidaturas. Esta avassaladora influência dos mecanismos estatais no controle dos órgãos de comunicação, cujos tentáculos abarcam até mesmo os institutos de pesquisa, nunca será suficiente para derrotar ou tornar vitoriosos seus preferidos. A crescente politização da classe média e de amplos setores das várias categorias sociais, permite concluir que somente o debate pode influir em algum eleitor disposto a perder minutos de seu tempo diante do enfadonho espetáculo do horário eleitoral gratuito. A amostragem inicial foi pachorrenta, para não dizer cansativa, margeando o ridículo. O uso das figuras de atuais governantes serviu apenas para desgastá-los. À medida que a disputa se radicaliza, decisões serão tomadas em favor daquele que despertar maior emoção no ouvinte. A lembrança de figuras do passado, não obstante a justa homenagem que se lhes presta, é destituída de qualquer significação política. Ridícula mesmo é a invocação, por parte de alguns disputantes, do compromisso de continuar as atuais administrações, com a promessa de torná-las melhor, sem perceber que a alusão a melhorias acaba por significar críticas veladas aos invocados. Dá a impressão de que a grande maioria não passa de representantes do oficialismo, o que desenha suas campanhas com a indisfarçável marca do ridículo político. Com referência aos jingles não ouvi todos. Farei o possível, mesmo a contragosto, de escutar todos para comparar. O único que consegui ouvir, do candidato do PMDB, deu-me a impressão de verdadeira marcha fúnebre, pelo ritmo, o mau gosto e a falta de vibração. Em nada representou o candidato em sua juventude e entusiasmo.
A fantasia e a realidade eleitoral II
Tive notícias da campanha em algumas cidades que têm emissoras de rádio. Numa delas, ex-prefeitos compareceram para apoiar a oposição, atacando a administração como se, em suas gestões, houvessem realizado qualquer coisa em benefício da população ou do progresso do município. Digamos que faz parte do jogo e para cada situação há uma receita que não pode ser aplicada de maneira uniforme. Mas quando as alegações dos antigos administradores transmudam-se em grosseiras mistificações, deslavadas mentiras e meras insinuações, é necessário encontrar resposta adequada. A legislação permite o direito de resposta, especialmente quando algum nome é citado. Em caso negativo e sendo a crítica visivelmente dirigida a determinado período administrativo, deve a Justiça Eleitoral considerar a possibilidade de conceder aos administradores passados e vítimas das invencionices ou de mentiras enganosas o direito inalienável de resposta, impedindo prevaleça pelo tempo a burla e a falsificação gerada em torno da disputa.
A fantasia e a realidade eleitoral III
. O que mais causa espanto é a pobreza das propostas, em sua maioria triste demonstração da mediocridade dos autores e a falsa convicção de que o eleitorado é composto de um magote de idiotas propensos a acreditar nesta interminável baboseira oferecida em períodos eleitorais. Quem paga o chamado horário político gratuito é a população, pois as emissoras de rádio e televisão ganham o direito de descontarem do imposto de renda a pagar o curso dos preciosos minutos para ilaquear a boa-fé dos ingênuos eleitores brasileiros. Todas estas considerações terminam por cair no enorme vazio mental de uma opinião pública desatenta e desacostumada a fazer prevalecer seus direitos. Os otimistas nunca deixam desaparecer de seu pensamento a certeza de que, mesmo de forma deficiente, é preferível votar sempre e que o aprendizado surtirá efeitos com sua constante repetição.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Desenvolvimento econômico e demlhas olímpicas I
Não quem resista ao apelo despertado pelas competições dos jogos olímpicos de Pequim neste ano de 2008. Observando o quadro de medalhas, no qual o Brasil ocupa o 38º lugar na classificação geral, lembrei-me de discurso que pronunciei em 1975 na Câmara Federal comentando a relação existente entre o número de medalhas olímpicas obtidas por determinado país e os índices de seu desenvolvimento e a pujança de sua economia. Naquele pronunciamento, propunha a criação do Ministério de Esportes, inexistente naquela época, como único meio de preparar os atletas brasileiros para as dificuldades crescentes dos jogos, nos quais aparecem com destaque os países mais ricos e especialmente aqueles cujos índices de desenvolvimento lhe asseguram melhor educação, maior disciplina social e capacidade de alocar recursos de maior monta para treinamento e especialização de seus esportistas. Fazendo pesquisa desde a criação dos jogos pelo Barão de Coubertin para comprovação da tese que defendia, verifiquei a impressionante correlação entre as taxas de crescimento econômico e produto interno bruto com o número de medalhas obtidas pelos competidores.
Desenvolvimento econômico e medalhas olímpicas II
O quadro de medalhas de hoje faz a comprovação, sem engano possível, da tese. Estados Unidos e China, com o país asiático em primeiro lugar pelos dados apresentados até agora, são indubitavelmente os países mais ricos do mundo e aqueles que maiores produtos internos apresentam e mantêm políticas e estratégias definidas e disciplinadamente seguidas. Poder-se-á argumentar que não são apenas fatores econômicos. Fosse assim, Benbela Biquila, da Argélia, jamais obteria medalha de ouro, ou até mesmo o Brasil, que isoladamente consegue algum ouro. Há exceções em esportes coletivos, nos quais o Brasil foi campeão olímpico de voleibol, que poderá acontecer ainda nesta duríssima disputa em Pequim. Onde há necessidade de apresentação indicativa de disciplina, ordem, seriedade e treinamento, aos países que fazem melhor figura são exatamente os mais desenvolvidos USA e China, seguidos de Coréia, Alemanha e Itália.
Desenvolvimento econômico e medalhas olímpicas III
Quem viu alguns jogos das equipes de basquetebol e handebol brasileiras, terá verificado algo indicativo da falta de disciplina e preparo psicológico dos atletas. Mantendo grande vantagem no placar do jogo durante todo o tempo da disputa, faltando apenas alguns minutos dão demonstrações de insegurança e nervosismo que colocam a perder o esforço pela vitória. Outro aspecto que impressiona é o grau de disciplina dos chineses, americanos e também os europeus orientais. Se forem verdadeiras as imagens da televisão, a todo instante são vistos atletas brasileiros chorando, vencidos pela emoção, um indicativo de falta de preparo psicológico para enfrentamento de prélios tão intensos. Infelizmente, o reduzido número de medalhas conquistadas pelos atletas brasileiros refletem, sem qualquer dúvida, o baixo grau de nosso desenvolvimento econômico, cultural e social. Somos até agora os campeões da falta de apoio aos verdadeiros e abnegados atletas, a quem sempre são negados recursos para preparo que lhes permitam fazer melhor papel nas disputas.
Desenvolvimento econômico e medalhas olímpicas IV
Ainda que de forma simplista, aí está a razão mais expressiva para o monumental fracasso do Brasil nesta Olimpíada, para a qual enviou grande e custosa delegação. É bem possível encontre o eleitor, mais afeiçoado à temática esportiva, outros motivos para diagnosticar o mal que fragiliza o país nas disputas internacionais. Sem dúvida, ao revés, as vitórias das nações desenvolvidas na obtenção de medalhas de ouro e a maioria das demais devem-se principalmente às taxas de desenvolvimento econômico, que carregam em sua esteira disciplina social, educação e planejamento, sem o que a formação de novos atletas fracassará e tornará inevitável o fiasco brasileiro nas vindouras competições olímpicas. Tudo isto, sem falar nos “pés frios”.
domingo, 10 de agosto de 2008
Direitos inalienáveis dos advogados I
Quando o Constituinte de 1988 dispôs no artigo 133 do texto constitucional que “o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”, consagrou fundamentos éticos e morais solidamente consolidados na consciência jurídica do país, de resto, nada diferente daquilo que Rui Barbosa em sua célebre Oração aos Moços, em 1920, pregava como essencial à atividade do advogado na posse de suas duas tábuas de vocação: legalidade e liberdade, nas quais se condensa a síntese de todos os mandamentos. Passadas quase duas décadas sem regulamentar o dispositivo, sentiu o Congresso Nacional a urgente necessidade de criar regras bem definidas para sua aplicação, constantes do PLS 36/06, da lavra do deputado Michel Temer, conferidas pelo constituinte não como privilégio pessoal à classe dos causídicos. Não desejou o autor criar prerrogativas intoleráveis para quantos no exercício da advocacia deslustram a profissão e enveredam pelos caminhos tortuosos do crime e da fraude.
Direitos inalienáveis dos advogados II
Acontece que todos sentem aumentar a insegurança jurídica no país, especialmente a partir da presença do atual Ministro da Justiça, situação definida pelo presidente da OAB como “estado de medo” em que vive a nação. De uns tempos a esta data, está amedrontado o país com a crescente presença de beleguins a soldo e comando de autoridades portadoras de carimbo e identidade política e ideológica conhecida, e que, no seu estrábico e defeituoso entendimento, supõem estar autorizadas a devassar a intimidade das pessoas, perseguindo adversários, intimidando desafetos e gerando clima de intranqüilidade incompatível com os foros de nação civilizada. E mais, felizmente arroladas entre as exceções, extravagâncias de algum procurador politicamente engajado e comprometido (lembrem-se do tristemente famoso Luiz Francisco de Souza, no episódio Eduardo Jorge). O projeto de lei entregue à sanção presidencial não busca privilégios para advogados que estejam exercendo atividades criminosas. Disseminou-se erradamente esta falsa impressão. Estes já não mais são considerados advogados, nos termos da lei, e o projeto aprovado não os exime de qualquer investigação.
Direitos inalienáveis dos advogados III
. O que se busca proteger é a inviolabilidade do escritório do advogado, a proteção às provas e a garantia da defesa do cidadão contra a crescente prepotência do Estado. Atividade criminosa não é inerente à advocacia e o próprio Estatuto da instituição contém remédios punitivos para aqueles que transgridem a lei e/ou a ética. Ora, se o advogado, público ou privado, é essencial à administração da Justiça; se ele é o garantidor da eficácia do preceito constitucional da ampla defesa, não se pode pretender, sem ofender esses princípios, mitigar o instituto secular do sigilo profissional. Recusando-se a sancionar o projeto, que todos esperam não aconteça, o presidente, como dizia Rui, “arrastaria o Brasil ao escândalo de se dar um espetáculo à terra toda como a mais fútil das nações”.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Economia: samba do crioulo doido I
Na bela e comovedora homenagem prestada pela Associação Comercial de Minas ao vice-presidente José Alencar, além dos dois excelentes discursos proferidos pelos ministros Hélio Costa e Patrus Ananias, voltou ao debate o interminável tema da elevação dos juros e da carga fiscal projetada sobre as empresas brasileiras e seus efeitos cruéis sobre o indefeso cidadão, quem, finalmente, acaba pagando o pato. O vice-presidente da República falou de sua ojeriza contra a política de juros do governo, assinalando ser ela sua acompanhante desde seus tenros dezoito anos, quando iniciou sua atividade empresarial. Mas a abordagem severa do assunto foi produzida pelo presidente da Associação Comercial Charles Lotfi ao reclamar contra a interminável elevação da carga fiscal, atingindo duramente o setor produtivo nacional. Este círculo vicioso torna-se ainda mais perverso quando, a seu talante e sem qualquer observância às regras mais comezinhas da administração, vai o governo aumentando os gastos públicos sem qualquer programação ou planejamento, dando a impressão de que está somente promovendo o aparelhamento político do Estado para proveito de seu partido
Economia: samba do crioulo doido II
Exemplo mais evidente desta verdade foi a transformação da Secretaria da Pesca em Ministério da Pesca e a conseqüente criação de mais de duzentos cargos comissionados, com altos salários, a serem naturalmente distribuídos aos seus apaniguados petistas. Se a inflação é um mal a ser permanentemente combatido, as regras clássicas da economia sempre indicaram o melhor caminho da poupança e da redução de custos. O aumento de impostos, que deveria ser um remédio heróico, é usado largamente pelo governo federal para inibir qualquer sinal de descompasso da economia. Continua o Brasil a ser o recordista mundial de ter a maior taxa real de juros do planeta e os remédios emergenciais usados pelo Banco Central não conseguem colocar freio no processo inflacionário, este monstro irrequieto que não costuma obedecer as regras clássicas em seu comportamento perigosamente errático. Tudo porque o governo mantém as rédeas soltas na remuneração demagógica dos salários, na criação desnecessária de novos cargos na administração federal, mau exemplo que se espalha pelo amplo universo da administração pública em todos os níveis.
Economia: samba do crioulo doido III
Eis a contradição: governo gastador, expansionista, e Banco Central contracionista ao estar sempre aumentando juros. É o verdadeiro samba do crioulo doido, imortalizado na música de Stanislau Ponte Preta e retrato do que está acontecendo no Brasil. O governo Lula expande a taxa de juros real para conter a demanda da economia e eleva a despesa fiscal com o aumento dos juros, acelerando a velocidade deste circulo perverso com a ampliação irresponsável dos gastos federais ao dar curso a contratações indiscriminadas e aumento dos gastos supérfluos. Enquanto isto, sofrem o contribuinte e o consumidor, especialmente a modesta dona de casa que paga diariamente o aumento do preço do familiar pãozinho. E viva o Brasil, campeão mundial das mais elevadas taxas de juros do planeta
domingo, 27 de julho de 2008
O "nariz de judeu" e a política em Minas I
O governador Aécio Cunha, pelo êxito de sua gestão, tem que se acautelar. Estão lhe armando “um nariz de judeu” na disputa em BH. Relembro-lhes este prosaico artefato, até hoje usado nas velhas igrejas barrocas e nos templos coloniais de Minas. O conhecido "nariz de judeu", também identificado em alguns lugares como "munheca de judeu", é um apagador de velas com a forma de nariz adunco, preso na ponta de uma pequena vara e acionado pelo sacristão ao término dos ofícios religiosos, para extinguir a chama dos círios que iluminam os altares. Ganhou o apelido pela sua aparência. Foi inspirado na singular serventia desse aparelho que Milton Campos construiu um de seus magistrais conceitos com que apreciava os homens e as coisas, não sem apimentá-los com sua fina ironia. "A política em Minas é o império do "nariz de judeu", proclamava com malícia o saudoso homem público. Assim também pensava Francisco Campos, o "Chico Ciência", uma das mais luminosas inteligências nascidas nestas Gerais em todos os tempos. Quando estreou na Câmara dos Deputados, discursando em meio ao vozerio de parlamentares, Gilberto Amado ao ouvi-lo bradou aos seus pares: "Senhores deputados, ouçam! Não é apenas um orador que está falando; é uma aurora que está surgindo".
"O nariz de judeu" na política de Minas II
Vivaldi Moreira dá conta em seu livro Glossário das Gerais que ouviu de Campos a advertência para nunca manifestar muita inteligência em Minas, sob pena de lhe aplicarem a "munheca de judeu". Francisco Campos sofreu, ao longo de sua vida pública, tenaz perseguição dos portadores do instrumento. Nem mesmo sua memória é poupada. Milton Campos quase foi vítima do famoso aparelho. Designado pelos bacharéis da UDN para candidato do partido ao governo do Estado, somente o escolheram pela certeza antecipada da derrota. Era uma forma sofisticada de aposição sobre o refinado político da receita imposta pela chinfrinada. Provavelmente, seu nome jamais teria sido lembrado se o partido vislumbrasse qualquer chance de vitória. O tiro saiu pela culatra. Outro caso famoso da crônica política da província é o de que foi personagem Davi Campista, brilhante componente do célebre "Jardim da Infância", grupo de jovens parlamentares que marcaram época nos pródromos da República. Campista despertava inveja e ciúmes pelo porte elegante e seus ademanes de fidalgo. Havia contra ele uma disfarçada malquerença partida da mediocridade imperante no meio político.
"O nariz de judeu" na política de Minas III
. Hoje em dia há o "nariz de judeu" ideológico, o silêncio organizado, quando não a crítica orquestrada, contra aqueles que não rezam na cartilha das ideologias da moda, não são coristas das igrejinhas dos elogios mútuos ou não aderem aos modelos exaltados pelo homossexualismo erigido à categoria de modernidade. Aécio deve se acautelar contra esta conspiração que lhe movem os adeptos do “nariz de judeu”. Para jugular sua carreira, é indispensável aplicar-lhe o instrumento, sob o ridículo fundamento de que é jovem e pode esperar. Por mais modernos sejam os tempo em que vivemos, certas coisas não mudam na maneira de fazer política em Minas. Basta alguém se sobressair além da mediocridade imperante, para se atingir o limite do suportável, de forma cavilosa é acionado o dispositivo para tolher-lhe os passos. Se os mineiros fossem mais unidos na defesa de seus interesses, isto é, do Estado, lhes não restava outro caminho senão construir sólida unanimidade para catapultar o jovem governante a posições mais elevadas no cenário nacional. E assim procedendo, os mineiros permanecerão com fama de habilidosos políticos e o poder vai, pouco a pouco, se transferindo para São Paulo. Estranha forma de fazer política esta...
Assinar:
Postagens (Atom)